Papa Franciso se diz "muito angustiado" com conversão da ex-basílica de Santa Sofia em mesquita
O Papa Francisco aumentou neste domingo (12) o coro dos descontentes com a conversão da antiga basílica de Santa Sofia, em Istambul, em uma mesquita. O sumo pontífice disse estar "muito angustiado" com esta decisão da Turquia.
Em várias partes do mundo, de Washington a Paris, passando pela Unesco e, especialmente, em países ortodoxos como a Rússia e a Grécia, os críticos se opõem à decisão anunciada na sexta-feira (10) pelo presidente turco, Recep Tayyip Erdogan.
"Meus pensamentos estão em Istambul, estou pensando na Santa Sofia. Estou muito angustiado", disse o papa após a oração do Angelus, num discurso improvisado.
As palavras do papa argentino representam a primeira posição oficial adotada pelo Vaticano e pela Igreja Católica, após a decisão da Turquia.
O Osservatore Romano, jornal do Vaticano, havia abordado o assunto sem trazer uma reação oficial, apenas citando as principais reações internacionais, dando destaque aos críticos da decisão, em um artigo intitulado "Santa Sofia, do museu à mesquita".
Importante obra arquitetônica construída no século VI pelos bizantinos, que lá coroaram seus imperadores, Santa Sofia é um Patrimônio Mundial da Unesco e uma das principais atrações turísticas de Istambul, com cerca de 3,8 milhões de visitantes, em 2019.
Convertida em mesquita após a conquista de Constantinopla pelos otomanos, em 1453, foi transformada em museu, em 1934, pelo líder da jovem República Turca, Mustafa Kemal.
Logo após a revogação pelo Conselho de Estado - o mais alto tribunal administrativo da Turquia - do status de museu da antiga basílica, Erdogan, de um partido conservador, anunciou que o local seria aberto para orações muçulmanas, como mesquita, na sexta-feira, 24 de julho. Diante das críticas internacionais, o presidente turco argumentou que a medida se enquadrava nos "direitos soberanos" de seu país.
Reações pelo mundo
A diretora da organização das Nações Unidas para educação, ciência e cultura (Unesco), Audrey Azoulay, deplorou a decisão "tomada sem diálogo prévio" sobre "uma obra-prima da arquitetura e um testemunho único do encontro da Europa e da Ásia, ao longo dos séculos ".
O governo grego também condenou a decisão "com firmeza". A ministra da Cultura, Lina Mendoni, a chamou de "provocação ao mundo civilizado".
Além do "impacto nas relações greco-turcas, essa escolha afeta as relações de Ancara com a União Europeia, a Unesco e a comunidade mundial ", criticou o primeiro-ministro grego, Kyriakos Mitsotakis.
No lado cristão ortodoxo, o patriarca Bartolomeu de Constantinopla havia alertado, no mês passado, que a transformação da Santa Sofia em uma mesquita poderia "voltar milhões de cristãos em todo o mundo contra o Islã".
"Observamos que a preocupação de milhões de cristãos não foi ouvida", acrescentou o porta-voz da Igreja Ortodoxa Russa, Vladimir Legoïda.
O patriarca russo Kirill havia denunciado, na segunda-feira, "qualquer tentativa de humilhar ou atropelar a herança espiritual milenar da Igreja de Constantinopla", da qual a Rússia se considera a principal herdeira, junto com a Grécia.
O Kremlin reiterou que a Santa Sofia tem "um valor sagrado" para os russos, enquanto julgava que a questão da reconversão ou não do local se enquadrava nos "assuntos internos da Turquia".
Já Washington reagiu com uma mensagem de "desapontamento", enquanto Paris "lamentou" a decisão turca. O Conselho Mundial de Igrejas, que reúne cerca de 350 igrejas cristãs, incluindo protestantes e ortodoxas, expressou sua "tristeza e consternação", no sábado (11).
As numerosas críticas, no entanto, não levaram o presidente turco a mudar de ideia. "Tomamos essa decisão não em relação ao que os outros pensam, mas em relação aos nossos direitos, como fizemos na Síria, na Líbia e em outros lugares", afirmou Erdogan.
Com informações da AFP
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