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A crise de coronavírus reforçou o papel do Estado e pode fortalecer a Europa

04/07/2020 17h10

Paris, 4 Jul 2020 (AFP) - O papel do Estado como protetor e estrategista ganhou importância com a crise do coronavírus, que pode permitir que a União Europeia adquira poderes de um Estado federal, segundo especialistas reunidos em um simpósio organizado na França.

"Todos os cidadãos do mundo perceberam que nossos sistemas de saúde são absolutamente essenciais, que existe um Estado encarregado de nos proteger com relação à segurança, coexistência, fornecimento de água e alimentos", explicou o ministra espanhola da Economia, Nadia Calviño, que participou por videoconferência das Reuniões Econômicas de Aix-en-Seine(sul), que este ano foram realocadas para Paris e transmitidas on-line.

Os Estados adotaram políticas de apoio orçamentário, agravando seus déficits, enquanto os bancos centrais mantiveram as economias em movimento, injetando liquidez e mantendo as taxas de juros em um nível mínimo.

"Gastos públicos e a questão da eficácia do Estado como Estado soberano, Estado de bem-estar social e estrategista, são a questão central para os próximos anos", diz o economista Christian Saint-Étienne.

Alguns desejam que o fortalecimento do papel econômico do Estado seja apenas temporário, como o governador do Banco da Finlândia, Olli Rehn, para quem "é importante que os Estados europeus usem a massa de manobra que lhes é deixada [pela política do Banco Central Europeu] para introduzir reformas estruturais".

Mas, embora governos e instituições tenham desempenhado um papel protetor, a desconfiança em relação à globalização nunca foi tão forte, explica Yann Algan, professor de Economia do Instituto de Estudos Políticos.

Segundo ele, "a crise da COVID-19 marca o fim do capitalismo globalizado (...) triunfante nas últimas décadas".

A crise também abalou a Europa. As medidas de confinamento suspenderam temporariamente a livre circulação e os Estados proibiram as exportações de máscaras e equipamentos médicos.

"Quando a crise começou, foi dito que a Europa não estava à altura das demandas. Havia poucas ações de estabilização, pouca coordenação. Pela primeira vez em muito tempo, se viu o fechamento das fronteiras entre a Alemanha e França ", diz Henrik Enderlein, da Hertie School of Governance, em Berlim.

- "Mais unida que antes" -Os estados da UE e suas instituições comuns rapidamente perceberam o risco de colapso e agiram para fortalecer o bloco.

No nível europeu, "você vê que algo está emergindo, o que eu descreveria como federalismo por exceção, ou seja, um momento em que o Estado é constituído quando há uma crise", analisa Enderlein.

Em uma mensagem ao encontro em Aix-en-Seine, a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, disse neste sábado que estava convencida de que a Europa "ficaria mais unida do que antes" com a crise.

O trabalho do Banco Central Europeu (BCE) durante a crise impediu, de qualquer forma, a repetição do erro de uma reação tardia e tímida, como durante a crise financeira de 2008-2009.

O BCE foi capaz de reagir porque é "a única instituição verdadeiramente federal no nível europeu" com "um voto majoritário", permitindo que "atue no nível europeu como uma verdadeira instituição estatal", explica Enderlein.

Jean-Louis Girodolle, do banco Lazard, estima que através do plano de estímulo de 750 bilhões de euros (844 bilhões de dólares), que ainda deve ser endossado pelos chefes de estado e de governo, "talvez nos faça lembrar desse momento como o início da Europa federal".

No entanto, embora as negociações para tentar alcançar um compromisso entre os 27 do plano de estímulo estejam se intensificando, elas permanecem "muito difíceis", com posições entre os Estados-membros "ainda distantes", disse a chanceler alemã Angela Merkel na quarta-feira.

Para von der Leyen, "o renascimento será um novo capítulo em nossa história ... já percebemos um novo fôlego, um novo impulso, uma nova unidade europeia".

"Como a Comissão não concederá apenas empréstimos, mas também transferências diretas", explica o banqueiro Jean-Louis Girodolle, "é hora de ter seus próprios recursos: imposto sobre o carbono nas fronteiras [...], imposto sobre o Gafa [Google, Apple, Facebook e Amazon] ", à maneira de um Estado.

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