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Macron troca de primeiro-ministro para enfrentar turbulência social

03/07/2020 17h17

O presidente francês, Emmanuel Macron, nomeou nesta sexta-feira (3) um novo chefe de governo: Jean Castex, 55 anos, prefeito há 12 anos de Prades, cidade de 6 mil habitantes nos Pirineus Orientais. Ele tomou posse como primeiro-ministro em substituição a Édouard Philippe, 49 anos, que acompanhava Macron desde a eleição de 2017. Não houve alternância de orientação política: tanto Philippe quanto Castex são do partido de direita Os Republicanos.

Mas por que Macron trocou seis por meia dúzia, como dizem os críticos?

É comum os presidentes franceses fazerem uma ampla reforma ministerial após as eleições municipais que ocorrem no meio do mandato de cinco anos dos chefes de Estado. O segundo turno das municipais ocorreu no domingo passado, e os eleitores franceses deixaram claro que desejam uma nova orientação não apenas no plano local, mas também nacional. Eles querem mais políticas sociais e ecológicas, visando uma economia de baixo carbono. A pandemia do novo coronavírus reforçou essa convicção.

Os verdes saíram vitoriosos das municipais e vão governar várias grandes cidades francesas, como Estrasburgo, Grenoble, Lyon, Bordeaux e Besançon. Os socialistas conservaram Paris e Lille. O partido centrista de Macron (LREM, A República em Marcha) fracassou em sua implantação local. A direita, por sua vez, perdeu redutos históricos.

Em princípio, a reforma ministerial natural seria Macron buscar uma aproximação com os verdes, a fim de reforçar suas chances de reeleição em 2022. Mas os ecologistas recusaram fazer parte do governo, e Macron não quis perder o capital de eleitores que conquistou à direita. Por isso, ele nomeou um segundo chefe de governo do partido conservador, mas com experiência reconhecida nas áreas social e da saúde.

Castex nunca foi ministro, é um homem de bastidores. Um alto funcionário completo e polivalente, com trânsito à esquerda e à direita. Formado nas duas prestigiosas escolas que produzem a elite de dirigentes franceses - Sciences Po e Escola Nacional de Administração (ENA) -, o novo premiê atuou como conselheiro, no Palácio do Eliseu, dos presidentes Nicolas Sarkozy, conservador, e do socialista François Hollande.

Antes de chegar ao Eliseu, integrou o gabinete do ex-prefeito socialista de Paris Bertrand Delanoé. Quando Paris venceu a candidatura para os Jogos Olímpicos de 2024, ele passou a ser o representante do Estado na organização das Olimpíadas. Recentemente, recebeu a missão de elaborar o plano nacional de flexibilização da quarentena, projeto que cumpriu com sucesso.

"Ele é o homem da situação, conhecido pelo seu espírito de união, que saberá colocar em prática as mudanças desejadas pelo chefe de Estado", salientou o comunicado do Palácio do Eliseu.

Macron quer retomar o projeto de reforma da Previdência, em setembro. As negociações foram suspensas por causa da epidemia, num momento que geravam forte resistência da população. O presidente alertou os franceses, nesta semana, que o segundo semestre será duro, com a crise social e o desemprego em massa que vem aí. Ter um primeiro-ministro que é reconhecido pela capacidade de diálogo, apreciado por sindicalistas e de estilo apaziguador, pode ajudar a preparar o terreno para a reeleição em 2022.

O agora ex-primeiro-ministro Edouard Philippe transmitiu o cargo a Castex sob fortes aplausos dos colaboradores. Quando ele assumiu o governo, também era um ilustre desconhecido dos franceses, prefeito do Havre, para onde retorna no mesmo cargo. Sua popularidade cresceu durante a gestão da pandemia. As pesquisas mostravam que Philippe começava a fazer sombra a Macron, e não tinha medo de enfrentar o chefe. Por outro lado, Philippe tinha um perfil mais rígido, gerenciou mal a crise dos coletes amarelos e ainda ficou muito marcado por defender uma política fiscal favorável ao grande capital.

Quem pensa que Macron troca seis por meia dúzia não está totalmente enganado. Mas também só está olhando para uma face da moeda.

A aposta do centrista para 2022 é continuar cultivando o eleitorado de direita. Nos próximos dois anos e meio, Macron precisa de um chefe de governo discreto, competente e que o ajude a cumprir a promessa de aprovar a reforma da Previdência. Castex não é visto como um concorrente que vai atrair a luz dos holofotes. Ele deve deixar a cena livre para o próprio presidente defender um projeto verde para 2022.

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