Sob choque, cidadãos de Hong Kong falam sobre temor da lei de segurança imposta pela China
Dois dias após a promulgação da lei de segurança nacional pela China - que marca o fim da autonomia da Justiça da ex-colônia britânica - os cidadãos de Hong Kong ainda estão sob o choque. A RFI ouviu alguns testemunhos na ex-colônia britânica nesta quinta-feira (2).
Com informações de Stéphane Lagarde, correspondente da RFI em Hong Kong e agências
Revolta, tristeza e medo são os sentimentos mais evocados pelos militantes pró-democracia de Hong Kong, que já sentem o peso da repressão da China, dois dias após a adoção da lei que deve marcar o fim da liberdade de expressão no território.
Na quarta-feira (1°), quando Hong Kong celebrou o 23° aniversário da devolução da ex-colônia britânica à China, centenas de pessoas foram presas. Pela primeira vez em 17 anos, foi proibido sair às ruas para lembrar a histórica data.
"Estou indignada e triste hoje. Não sei como continuaremos a defender nossa liberdade", relata, em entrevista à RFI, uma estudante honconguesa sob anonimato. Temendo represálias, ela afirma que só expressa essas incertezas através de aplicativos de celulares encriptados.
Jornalistas também se preocupam sobre o futuro de suas atividades e se perguntam se a liberdade de imprensa também ficará no passado. Vários pensam em abandonar a profissão - o que agradaria às autoridades. "Muitos jornalistas já utilizam as redes sociais de outra forma. Na minha agenda, por exemplo, vários contatos saíram do WhatsApp e de outros serviços de mensagens que não consideram seguros", diz uma repórter de Hong Kong à RFI, sem revelar seu nome.
A lei reprime o que for considerado secessão, subversão, terrorismo e conluio com as forças externas. Crimes considerados graves pela nova lei de segurança nacional podem inclusive ser penalizados com prisão perpétua. Na quinta-feira, a influente Ordem dos Advogados de Hong Kong afirmou estar "profundamente preocupada" com a aprovação do texto.
Alguns cidadãos também temem pelo futuro de suas economias. "Várias pessoas resolveram colocar seu dinheiro em contas offshore, já que a lei de segurança permite que nossos bens sejam confiscados", reitera a jornalista, sob anonimato, à RFI.
Países oferecem alternativas aos cidadãos de Hong Kong
A atitude de Pequim é condenada por vários governos ocidentais. Alguns países, comovidos com o destino dos honcongueses oferecem alternativas, irritando ainda mais o governo chinês.
Pequim ameaçou, nesta quinta-feira, adotar medidas de represália se o Reino Unido persistir com o plano de conceder a milhões de cidadãos do território a possibilidade de obter a cidadania britânica. De acordo com Londres, a lei de segurança constitui uma violação dos direitos de Hong Kong, que retornou à soberania da China em 1997, após um acordo de devolução que previa para o território uma autonomia judicial e legislativa durante 50 anos. O regime, denominado "um país, dois sistemas", deveria seguir vigente até 2047.
Diante da situação, Londres prevê modificar as cláusulas do "passaporte britânico de ultramar" para facilitar a mudança dos cidadãos e de suas famílias para o Reino Unido. A princípio, 2,9 milhões de hongcongueses, todos os que nasceram antes de 1997, teriam direito ao documento.
A decisão britânica enfureceu o governo chinês. "Nos opomos com veemência a isto e nos reservamos o direito de adotar as medidas correspondentes", completa um comunicado emitido pela embaixada da China no Reino Unido.
Além do Reino Unido, outros países se dizem dispostos a adotar medidas concretas para ajudar os cidadãos de Hong Kong. O primeiro-ministro da Austrália, Scott Morrison, anunciou que considera a possibilidade de oferecer refúgio para os habitantes da ex-colônia britânica.
Taiwan abriu um escritório para atender as pessoas que desejam deixar o território. Já nos Estados Unidos, republicanos e democratas se expressaram a favor de uma proposta de lei para acolher os hongcongueses.
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