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Partidos de oposição declaram apoio a manifestações, mas divergem quanto à própria participação

05/06/2020 17h30

Por Maria Carolina Marcello

BRASÍLIA (Reuters) - Partidos da oposição têm declarado apoio às manifestações contra o governo do presidente Jair Bolsonaro previstas para domingo, mas parte deles diverge quanto à presença de seus militantes nos atos, tanto pelos riscos decorrentes da pandemia de Covid-19 quanto pelo temor de uma escalada na violência como consequência da ação de grupos infiltrados.

O PT defendeu em nota que "a democracia não pode ser intimidada" e argumentou que os protestos contra Bolsonaro e contra o fascismo são ações legítimas e protegidas pelo artigo 5º da Constituição. Alertou, porém, para a presença de provocadores e infiltrados, e recomendou que seus militantes sigam as orientações da Organização Mundial de Saúde (OMS) como uso de máscaras e o distanciamento social.

"Os militantes democráticos que participam destes atos devem também resistir às provocações e isolar os infiltrados, que já vêm agindo para tentar desvirtuar o caráter das manifestações e dar pretexto à repressão e ao discurso de fechamento do regime", disse o partido, na quinta-feira.

Lideranças do partido no Congresso, no entanto, têm divergido quanto à abordagem para as manifestações. Os deputados José Guimarães (PT-CE), líder da Minoria na Câmara, e Carlos Zarattini (PT-SP), líder da Minoria no Congresso, defenderam, em manifesto assinado também pelo líder da Oposição na Câmara, André Figueiredo (PDT-CE), o direito à manifestação.

Os líderes fizeram um apelo "para que os atos pró-democracia e contra o racismo e o fascismo, programados para o próximo domingo em várias capitais do país, como iniciativa de diferentes entidades e movimentos sociais e populares, sejam pacíficos, tendo a defesa da vida como foco central, com a adoção de medidas sanitárias recomendadas pela OMS".

Já no Senado, o vice-líder do PT Jaques Wagner assinou nota em que lideranças de outros partidos, como a Rede, o PSB, o PDT, o Cidadania e o PSD, desencorajam "os brasileiros que, acertadamente, fazem oposição ao sr. Jair Bolsonaro a irem às ruas nesse próximo domingo".

"Nosso pedido parte da avaliação de que, não tendo o país ainda superado a pandemia, que agora avança em direção ao Brasil profundo, saindo das capitais e agravando nos interiores, precisamos redobrar os cuidados sanitários e ampliar a comunicação com a sociedade em prol do distanciamento social", disseram.

"Ademais, observando a escalada autoritária do governo federal, devemos preservar a vida e segurança dos brasileiros, não dando ao governo aquilo que ele exatamente deseja, o ambiente para atitudes arbitrárias."

"REPRESSÃO DESPROPORCIONAL"

Também por meio de nota, o PSB afirmou que "ainda não é hora de tomar as ruas". O partido conclamou militantes e a população em geral a "preservar a devida prudência" e manter as manifestações no ambiente virtual "até que as condições políticas estejam mais maduras".

Os socialistas também alertaram para a presença de infiltração de grupos que podem levar tanto a uma "repressão desproporcional aos movimentos" quanto a "medidas de exceção, que este governo autoritário demonstra ser de seu interesse".

Também por meio de nota, o PDT declarou apoio às manifestações, mas afirmou que, apesar das suas origens em manifestações populares, não estará presente nos atos, por respeito às regras de isolamento social como medida de contenção da disseminação do coronavírus.

"Ao mesmo tempo, o partido alerta a todos que participarão para que respeitem as recomendações da saúde pública e que evitem qualquer tipo de provocação. Informações estão chegando de que haverá a presença de elementos infiltrados, ligados aos movimentos anti-democráticos, que tentarão desvirtuar o caráter pacífico destas manifestações. E situações de violência só interessam àqueles que queremos combater!", afirmou.

O presidente Jair Bolsonaro chamou nesta sexta-feira os manifestantes de grupos pró-democracia contrários ao governo de "marginais" e "terroristas", e pediu que seus apoiadores, que têm realizado atos de apoio ao governo semanalmente aos domingos em Brasília, não façam movimentos nas ruas neste fim de semana. Bolsonaro indicou que a Força Nacional de Segurança pode ser acionadas para atuar na Esplanada dos Ministérios no domingo.

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