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Secretária vê covid-19 num platô em São Paulo: 'expectativa é decrescer'

A secretária de Desenvolvimento Econômico de São Paulo, Patricia Ellen - Divulgação
A secretária de Desenvolvimento Econômico de São Paulo, Patricia Ellen Imagem: Divulgação
do UOL

Felipe Pereira

Do UOL, em São Paulo

02/06/2020 04h00

Resumo da notícia

  • Patricia Ellen esteve à frente da elaboração do plano de retomada gradual das atividades econômicas no estado
  • Ela acredita que a pandemia da covid-19 chegou a um platô em São Paulo -- situação de pico contínuo que demora a cair
  • A secretária afirma que o governo Doria está preparado para agir caso haja um repique do coronavírus
  • Cálculos mais atuais do próprio governo de SP estimam perda de arrecadação estadual de R$ 18 bilhões

A secretária de Desenvolvimento Econômico de São Paulo, Patricia Ellen, esteve à frente da elaboração do plano de retomada gradual das atividades econômicas no estado. Ela demonstra segurança no planejamento, porque as autoridades dizem ter respeitado a situação de cada região do estado, consultando especialistas de saúde ao determinar os requisitos. Também afirma que a pandemia da covid-19 chegou a um platô em São Paulo — situação de pico contínuo que demora a cair.

A expectativa é que os casos da doença diminuam, mas a secretária logo ressalta que o plano tem mecanismos e gatilhos para reagir a um novo avanço do coronavírus. Ellen lembra que repiques aconteceram em várias metrópoles do mundo.

A quarentena imposta em decorrência da pandemia desaguou em crise econômica, e os cálculos mais atuais do próprio governo de SP estimam perda de arrecadação estadual de R$ 18 bilhões. A gestão de João Doria (PSDB) projeta a recuperação em etapas, mas o prejuízo foi grande e a previsão é de até três anos para retomada completa.

Confira os principais pontos da entrevista concedida pela secretária Patricia Ellen ao UOL:

UOL - Houve uma série de manifestações divergindo do Plano São Paulo, entendendo que é uma flexibilização muito precoce. O que faz o governo ter certeza de que não haverá uma explosão de casos de covid-19?
Estamos trabalhando no plano há mais de dois meses, envolvendo uma série de infectologistas. Eu acho que o mais importante é que o plano pressupõe o que fazer se houver uma explosão de casos. A gente trabalha em duas coisas. Primeiro, garantir que a retomada aconteça onde não há explosão de casos. E onde há capacidade instalada no sistema de saúde para atender as pessoas.

E também trabalhamos com medidas de contenção, por isso que a revisão é semanal. Para que, se tiver uma piora em qualquer lugar, a gente consiga retroceder.

A senhora não teme que São Paulo vire uma nova Milão?

Isso não vai acontecer porque, novamente, as revisões são semanais. Não vamos esperar, se tiver um problema grave. Temos que agir imediatamente. E, lembrando que todo trabalho está sendo feito agora, num momento em que começamos a ter uma desaceleração do crescimento da transmissão, principalmente na capital. E o controle dos óbitos.

Secretária disse que gatilhos do Plano São Paulo preveem resposta imediata em caso de repique de covid-19 - Divulgação - Divulgação
Secretária disse que gatilhos do Plano São Paulo preveem resposta imediata em caso de repique de covid-19
Imagem: Divulgação

Os números de mortes da capital e estado estão num platô nas últimas semanas. A pandemia chegou a um pico e vai cair o número de mortes?

Eu acredito que a gente está no platô e que a chance agora, a expectativa, é decrescer. Dito isto, o Plano São Paulo é seguro nos gatilhos. Se por um acaso tiver algum tipo de repique — algo muito típico no mundo inteiro —, o Plano São Paulo tem uma medida para isto, que é a gente retroceder.

Por isso que [o plano] tem cinco fases. Hoje, 90% do estado está ou em alerta máximo, ou em controle [fases 1 e 2]. Não estamos dizendo que aqui vivemos uma situação segura, que estamos tranquilos. Estamos numa situação que precisa de isolamento e na qual há uma abertura muito pequena [de atividades].

Qual perda de arrecadação no dado mais atualizado do governo?

A retração esperada é em torno de 5,5% a 6% do PIB. Com a queda de 5,5% do PIB, revisamos os dados de perda de arrecadação para R$ 18 bilhões.

Quais setores vão responder melhor e quais terão mais dificuldades?

Turismo, por exemplo, é um setor que terá um desafio muito grande, será mais lento.

Acredito que, com a retomada de atividades imobiliárias e a manutenção dos investimentos públicos, o setor de construção, que era muito impactado, vai ter uma retomada média.

Em relação ao comércio, minha expectativa é que tenha uma velocidade média também. Acho que é difícil uma retomada rápida dentro deste contexto.

comércio - Wallace Martins / Estadão Conteúdo - Wallace Martins / Estadão Conteúdo
Expectativa é de até três anos para retomada da economia depois da covid-19
Imagem: Wallace Martins / Estadão Conteúdo

Há estimativas de como a crise afetou as empresas?

Estou acompanhando com a junta comercial, e vamos ter uma análise fechada até o final da semana. Mas o que a gente está verificando é que, curiosamente, a abertura líquida ainda está sendo positiva. Estamos abrindo mais do que fechando.

Março teve 16.158 empresas abertas e 7.235 baixas. Em abril foram 5.138 aberturas e 1.481 baixas. Uma boa notícia: nossos empreendedores estão lutando firme. Agora, a gente precisa que o crédito chegue para eles rapidamente, o que tem sido um foco do meu trabalho.

Quanto tempo para voltar ao patamar pré-covid-19?

Esta é uma análise mais detalhada, que vai depender do aprendizado destas próximas semanas. Até o final de junho, vamos apresentar nossos primeiros cenários de retomada. Estamos trabalhando com três horizontes de tempo.

Em relação a esta fase de resposta, mais emergencial, sempre falamos de três a seis meses. No final deste mês, completaremos o terceiro mês. Na sequência, inicia a fase de recuperação, aí são mais 6 a 12 meses. Ou seja, até o final do ano, estaremos no modelo de retomada mais lenta.

Depois vem um modelo de retomada sustentada de um a dois anos. Estamos falando de um tempo total de retomada de dois a três anos.

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A crise institucional é mais um fator a prejudicar a recuperação econômica, avalia Patricia Ellen
Imagem: AFP

A covid-19 foi pior que a crise de 2008?

Para o mundo inteiro. Nunca vimos um impacto de nenhuma crise nesta ordem de grandeza. E não é uma crise só humanitária, nem só econômica. Ela é uma crise das duas coisas.

O país vive uma terceira crise: a crise política. Esta instabilidade institucional prejudica a retomada?

Sem dúvida. A segurança institucional, ter regras claras e processos claros, sempre foi um tema que os investidores colocaram em relação ao Brasil. Esta questão da instabilidade institucional já era um tema. Agora mais ainda.

Mas antes era uma preocupação de cumprimento das regras. Agora é de manutenção da democracia?

Estamos muito preocupados com isto. O governo do estado de São Paulo defende a democracia. É um tema que preocupa toda a sociedade. Agora nosso trabalho está bem focado em respeitar o modelo democrático e trabalhar com uma gestão técnica. Se vai ser o suficiente para os investidores entenderem, a gente vai descobrir agora, quando reiniciar o processo.

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