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Reabertura de economias na América Latina traz risco de novo surto da pandemia

02/06/2020 23h12

Paris, 3 Jun 2020 (AFP) - Muitos países latino-americanos começaram a flexibilizar as medidas impostas para frear a pandemia da COVID-19 com o intuito de conter os efeitos negativos para a economia provocados pelas quarentenas, uma decisão que preocupa a Organização Pan-americana da Saúde (OPAS), que alertou nesta terça-feira (2) para possíveis novos surtos da doença.

A América Latina é o atual epicentro da pandemia que já deixou 6,3 milhões de contagiados e cerca de 379.000 mortos em todo o mundo, desde que os primeiros casos foram registrados em dezembro na China.

"Na última semana houve 732.000 casos novos em todo o mundo e desses mais de 250.000 foram nos países latino-americanos, uma preocupação séria que deveria servir como chamado para redobrar nossos esforços", alertou Carissa Etienne, diretora da OPAS, escritório regional da Organização Mundial da Saúde (OMS).

No Brasil, o país mais castigado da região pela pandemia, com 555.383 casos e 31.199 mortes, o estado de São Paulo retomou na segunda-feira algumas atividades, como as imobiliárias e as vendas em centros comerciais.

No Rio de Janeiro foram liberados a partir desta terça os cultos religiosos e a prática de esportes aquáticos como surfe e natação, com a obrigação de se manter o distanciamento social.

No país, com 210 milhões de habitantes, as medidas de quarentena ou desconfinamento têm sido competência dos estados e dos municípios para desgosto do presidente Jair Bolsonaro, que defende a suspensão imediata das restrições.

"A situação no Brasil é delicada e estamos muito preocupados, porque o que vimos é um aumento de casos e mortalidade na última semana", disse o diretor do Departamento de Doenças Transmissíveis e Determinantes Ambientais da Saúde da OPAS, Marcos Espinal.

Outros países latino-americanos mais afetados pela pela epidemia, como o México, Peru e Equador anunciaram passos mais ou menos importantes para um desconfinamento.

"Devemos ser cuidadosos. Meu conselho é que não reabram rápido demais ou corre-se o risco de um ressurgimento da COVID-19 que poderia acabar com os avanços obtidos nos últimos meses", alertou Etienne.

A OPAS se mostrou também preocupada com a Nicarágua, onde o governo não impôs nenhuma quarentena diante da pandemia, apesar do aumento do número de casos e mortos nas últimas semanas.

Na Venezuela, o governo do presidente Nicolás Maduro e o líder opositor, Juan Guaidó, alcançaram um acordo para buscar juntos, com a ajuda da OPAS, recursos para lutar contra o novo coronavírus, que deixou 515 mortos no país, de 29 milhões de habitantes.

No Panamá, organizações sindicais se manifestaram nesta terça por temor de uma volta dos contágios e das mortes pela COVID-19 com a suspensão da quarentena, decretada pelo presidente Laurentino Cortizo.

A Colômbia superou as mil mortes pelo novo coronavírus, com 40 novos óbitos nesta terça e quase três meses depois de reportado o primeiro contágio soma 1.009 falecidos na pandemia, informou o Ministério da Saúde em seu relatório diário.

No Peru, o ministério da Saúde informou que vai manter o uso da hidroxicloroquina como parte do tratamento para pacientes com a COVID-19, apesar de a OMS sugerir a suspensão do medicamento devido aos riscos de arritmia cardíaca.

- Perdas 'abissais' -A pressão por retomar as atividades aumenta à medida que a pandemia já provoca sérios danos à economia e o futuro parece cada vez mais desolador.

O presidente do Banco Mundial, David Malpass, disse nesta terça à AFP que a economia mundial enfrenta perdas "abissais" e que a recuperação será dificultada pela escassez de recursos.

Segundo Malpass, a recessão global levará 60 milhões de pessoas à pobreza extrema, embora a projeção sombria provavelmente possa piorar com o avanço da crise.

Neste contexto, cada indício de retorno à normalidade, por menor que seja, ganha relevância especial.

Na França, cafés e restaurantes reabriram nesta terça, símbolo de um retorno paulatino à normalidade na Europa.

"A reabertura dos cafés, hotéis e restaurantes marcam o retorno dos dias felizes!", escreveu o presidente Emmanuel Macron no Twitter.

Os franceses também recuperaram nesta terça a liberdade de viajar para qualquer destino continental do país, mas mantendo a prudência para evitar um novo surto do vírus que matou quase 30.000 pessoas no país.

Na Espanha, um dos países mais afetados pela pandemia, com 27.127 óbitos, não se anunciou nenhum óbito por COVID-19 pelo segundo dia consecutivo.

A Itália defende uma retomada coordenada dos deslocamentos dentro da Europa a partir de 15 de junho, o que implicaria a recuperação em escala continental do turismo, um setor-chave para a economia italiana.

O país, que foi o primeiro epicentro da pandemia na Europa e onde morreram cerca de 33.500 pessoas pelo novo coronavírus, reabrirá suas fronteiras nesta quarta-feira e permitirá a seus cidadãos se deslocarem livremente entre as regiões.

A Espanha anunciou a suspensão da quarentena para estrangeiros em 1º de julho e o Reino Unido avalia receber turistas de alguns países considerados seguros.

Do outro lado do Atlântico, nos Estados Unidos foram registradas 1.081 novas mortes em 24 horas e alguns especialistas temem que a onda de protestos iniciada após a morte de um cidadão negro por um policial branco cause um novo surto.

O país é o mais afetado do mundo em termos absolutos, com 106.180 falecidos e 1.831.435 casos de COVID-19, segundo contagem da Universidade Johns Hopkins, em Baltimore.

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