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São Paulo vai de "derrota para o vírus" para início de reabertura em 7 dias

Movimento no Viaduto do Chá, em São Paulo, durante a quarentena                              -                                 ROVENA ROSA/AGÊNCIA BRASIL
Movimento no Viaduto do Chá, em São Paulo, durante a quarentena Imagem: ROVENA ROSA/AGÊNCIA BRASIL
do UOL

Felipe Pereira

Do UOL, em São Paulo

28/05/2020 01h30

Resumo da notícia

  • As estatísticas e o tom usado pelo prefeito divergem da linha adotada até semana passada
  • No lugar de uma tentativa derradeira de melhorar a situação e menções a lockdown, surgiram temas sobre como se dará a abertura
  • Otimismo vem de três fatores: estatísticas de mortes parando de crescer, a chegada de respiradores e a queda de contágio
  • Porém, taxa de ocupação das vagas de terapia intensiva da rede pública municipal está em 92%
  • Entre a terça e quarta da semana passada, morreram 99 pessoas. No mesmo intervalo desta semana, foram 198 — exatamente o dobro

A semana passada começou com o coordenador do Centro de Contingência ao Coronavírus, Dimas Covas, dizendo: "o vírus está vencendo a guerra". No mesmo dia, uma terça-feira, o prefeito da capital, Bruno Covas (PSDB), afirmou que o megaferiado era a "última cartada" que tinha à disposição. Com UTIs beirando os 90% de ocupação e o número de casos da covid-19 crescendo, os discursos eram pessimistas e o lockdown parecia questão de tempo.

Em entrevista coletiva ontem, São Paulo parecia outra cidade. Foi incluída na lista de municípios com capacidade de retomada de parte das atividades. O prefeito declarou que houve uma estabilização, fez um pronunciamento que elencou aberturas de leitos e terminou com o autoelogio.

"Sem sombra de dúvidas, a cidade de São Paulo é case mundial de conseguir controlar a doença, de achatar a curva, de não deixar a gente ter um pico de número de pessoas infectadas, não tratadas e de pessoas que vieram a óbito, quando a gente compara com outras cidades mundo afora."

Bruno Covas também disse que existe um viés positivo na capital. Reforçou o discurso exibindo um gráfico mostrando pouca variação de mortes na cidade no último mês.

"Nas últimas quatro semanas, tivemos uma estabilidade no número de óbitos."

As estatísticas e o tom usado pelo prefeito divergem da linha adotada até semana passada. No lugar de uma tentativa derradeira de melhorar a situação e menções a lockdown, surgiram temas sobre como se dará a abertura.

Esse otimismo é acompanhado nas medidas do governo estadual, que incluiu São Paulo fase 2 do plano de retomada. A cidade poderá reabrir, com restrições, atividades imobiliárias, concessionárias de carros, escritórios, comércios e shoppings. A prefeitura vai divulgar os detalhes de como vai ser esta reabertura ao meio-dia de hoje.

O UOL apurou com integrantes do Centro de Contingência ao Coronavírus que o otimismo apresentado ocorreu com uma combinação de três fatores. As estatísticas de mortes parando de crescer, a chegada de respiradores que permitirão ampliar o número de leitos de UTI (Unidades de Terapia Intensiva) e a queda de contágio. A estabilização dos óbitos seria consequência da obrigação do uso de máscaras, o que ocorreu há três semanas.

Apesar da mudança de tom, o boletim de saúde de hoje mostra que a taxa de ocupação das vagas de terapia intensiva da rede pública municipal está em 92%. Entre a terça e quarta-feira da semana passada, morreram 99 pessoas. No mesmo intervalo desta semana, foram 198 — exatamente o dobro.

Na época da fase pessimista, ou seja, semana passada, o discurso era de que a cidade não podia decretar lockdown de forma isolada. O prefeito mencionava que São Paulo tem 1,7 mil ruas que terminam em municípios vizinhos. Em entrevista ao UOL, Bruno Covas disse que na região metropolitana a pessoa mora em uma cidade, trabalha em outra e namora numa terceira.

Esse raciocínio que São Paulo não é uma ilha caiu por terra. Agora a capital é o único município que está diminuindo as restrições da quarentena entre seus vizinhos. O restante da Grande São Paulo continua com somente os serviços essenciais autorizados a funcionar.

Doria - Ettore Chiereguini/AGIF - Ettore Chiereguini/AGIF
O governador durante anuncio das medidas de flexibilização
Imagem: Ettore Chiereguini/AGIF

Governo do estado também muda de tom

O estado apresentou gráficos mostrando que no começo da pandemia, em 15 de março, São Paulo era responsável por 68% dos casos no país. Na última segunda-feira, era 22%. De acordo com o estudo, haveria 950 mil casos em São Paulo e não os 89 mil existentes hoje.

"Isto mostra o quão efetivas foram as políticas de isolamento", declarou Dimas Covas, coordenador do Centro de Contingência ao Coronavírus, antes de continuar. "Nós poupamos muitos casos, nós impedimos que o vírus atingisse milhares de pessoas aqui no estado de São Paulo."

O governador João Doria (PSDB) afirmou que o megaferiado deixou 1,7 milhão de pessoas em casa, citou a chegada de 2,8 mil respiradores até 15 de junho. "Fizemos as medidas certas na hora certa. Tentamos, avançamos, corrigimos o que foi necessário e assim o faremos sempre."

O discurso de que a doença estava vencendo a guerra foi substituído pelo de vidas salvas. As declarações de interiorização da covid-19 também não foram citadas no anunciar da flexibilização na coletiva. Os discursos são de que será adotada prudência e tudo pode retroceder em caso de piora dos índices, mas as atitudes são de que pandemia a covid-19 está passando.

O governo do estado se manifestou por nota sobre a matéria. Ressaltou que pode rever a classificação de São Paulo conforme o andamento dos indicadores de saúde.

"A Grande São Paulo poderá ser reclassificada para fases de menor restrição a partir de 15 de junho, se houver indicadores de saúde estáveis. O Governo de São Paulo avalia a possibilidade de estabelecer futuras classificações regionalizadas específicas para a região metropolitana da capital, com respaldo das avaliações do Centro de Contingência."

O UOL procurou a Prefeitura, que não respondeu. Caso ocorra uma manifestação, ela será incluída nesta matéria.

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