"Controvérsia sobre hidroxicloroquina virou palhaçada que deve acabar", diz o jornal Libération
O jornal francês Libération publica nesta quarta-feira (27) cinco páginas de reportagem sobre a hidroxicloroquina e os métodos de pesquisa controversos do professor Didier Raoult, de Marselha (sul). O especialista em microbiologia defende o uso da molécula no tratamento da Covid-19. Em seu editorial, o Libération questiona se a "novela" em torno dessa substância não teria chegado ao fim, depois que a Organização Mundial da Saúde a o Alto Conselho de Saúde Pública da França suspenderam os ensaios clínicos e desaconselharam o uso da substância em pacientes infectados pelo coronavírus.
No texto, o Libération cita a ampla pesquisa internacional publicada na semana passada pela revista científica The Lancet. O estudo concluiu que a hidroxicloroquina não demonstrou eficácia no tratamento da nova pneumonia viral. Por outro lado, a pesquisa confirmou o risco de efeitos colaterais graves produzidos pelo remédio em pacientes com a Covid-19.
"Essa controvérsia, no final, virou uma palhaçada", lamenta o Libération em seu editorial. "Em vez de um debate científico, vimos um pugilismo estranhamente politizado durante várias semanas". De um lado, os "pró-Raoults", descritos como "uma facção nervosa", que encara a medicina como se ela fosse uma luta entre "pequenos e grandes" cientistas, "pessoas de baixo e de cima", com poder de decisão sobre a área médica.
A principal crítica feita ao professor Raoult é o fato dele ter publicado resultados positivos da administração da hidroxicloroquina em pacientes com a Covid-19, mas baseado em um número pequeno de doentes e ainda sem grupo de controle. Um experimento científico sério deve reunir duas amostras para testar uma hipótese. O grupo experimental recebe a molécula que se deseja avaliar, enquanto o outro recebe um placebo, para que os cientistas possam comparar eventuais alterações.
Para o Libération, "é difícil imaginar que a comunidade científica rejeitaria um tratamento claramente favorável aos doentes da Covid-19 se não existissem sérias dúvidas sobre seu efeito benéfico". "Talvez esteja na hora de pôr fim a essa farsa em meio a uma tragédia", afirma o jornal francês. Apenas um estudo de ponta, com um grupo de controle, poderá esclarecer essa controvérsia. "Enquanto isso não ocorre, prudência e modéstia devem prevalecer", conclui o Libération.
Aceleração da pandemia na América Latina
A imprensa francesa destaca nesta quarta-feira a aceleração da pandemia de coronavírus no Brasil, Chile e Peru. "O pior ainda está por vir para o Brasil, que se tornou o epicentro das contaminações, com um número diário de mortes superior ao dos Estados Unidos", observa o semanário Courier International. A publicação relata que o estudo americano do Instituto de Medição e Avaliação em Saúde (IHME), da Universidade de Washington, "aponta um inverno muito sombrio para os brasileiros, que podem alcançar 125.000 mortos até o início de agosto".
O jornal Le Monde reproduz as declarações da diretora da Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS), Carissa Etienne. "Na América do Sul, estamos particularmente preocupados, já que o número de novos casos registrados na semana passada no Brasil é o mais alto em um período de sete dias desde o início da pandemia", disse a diretora da OPAS, com sede em Washington. "O Peru e o Chile também registraram altas taxas, sinal de que o ritmo está se acelerando nesses países", acrescentou a organização. O número diário de novas infecções na América Latina excedeu o da Europa e dos Estados Unidos.
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