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Polêmica envolvendo assessor enfraquece premier britânico antes do desconfinamento

25/05/2020 16h13

Londres, 25 Mai 2020 (AFP) - O premier britânico, Boris Johnson, que decidiu manter seu assessor especial, Dominic Cummings, criticado por infringir o confinamento contra o novo coronavírus, não conseguiu abafar a polêmica e perdeu força, às vésperas de anunciar a flexibilização das restrições no Reino Unido.

Um dia depois de Johnson sair em sua defesa, o poderoso e polêmico conselheiro se explicou longamente hoje, sem expressar arrependimento e alegando ter agido de forma "legal e razoável".

Cummings, cérebro da campanha do referendo de 2016, que resultou no Brexit, disse que não considerou pedir demissão, apesar de sofrer pressão neste sentido, inclusive dentro da maioria conservadora.

O assessor contou que decidiu ir com a mulher e o filho de 4 anos para a residência de seus pais em Durham, a 400 km de Londres, quando temia ter contraído Covid-19, porque precisava de ajuda com a criança. A família se alojou em um prédio da propriedade.

Cummings admitiu que não discutiu esta decisão com o premier, recém-testado positivo para a doença, o que classificou como um erro. "Não acho que exista uma regra para mim e uma regra para as demais pessoas."

Johnson saiu em defesa de seu assessor ontem, ao afirmar que ele agiu "de forma responsável, legal e com honestidade". Mas muitos deputados conservadores continuam pedindo a demissão do conselheiro.

"É um exemplo clássico do 'faça o que eu digo, não faça o que eu faço'. Parece completamente indefensável, sua posição é insustentável", opinou o ex-ministro conservador Paul Maynard.

As críticas vão além da política. Segundo um dos cientistas conselheiros do governo, Stephen Reicher, Johnson "ignorou todos os conselhos que lhe demos sobre como garantir a confiança e adesão" dos britânicos às medidas necessárias para lutar contra a propagação do vírus.

No Reino Unido, segundo país com mais vítimas fatais da pandemia, ou 36.793 mortos - mais de 41.000 se contabilizados os casos não confirmados - o assunto representa um peso para Johnson, criticado por sua gestão da crise e adoção tardia do confinamento.

A questão poderia, inclusive, chegar à Justiça. Segundo o "The Guardian" e "Daily Mirror", um aposentado que viu Cummings em 12 de abril em Barnard Castle, a cerca de 50 km de Durham, apresentou uma denúncia por possível violação das leis de saúde.

O assessor explicou hoje que, naquele dia, quis garantir que estava em condições de dirigir, visando ao seu retorno a Londres, e que não se aproximou de ninguém. Cummings negou categoricamente ter retornado a Durham em 19 de abril, cinco dias após voltar ao trabalho em Londres, já recuperado.

spe/fb/mis/mb/lb

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