Os países que dão exemplo no combate à covid-19 nas Américas
Algo que os três países têm em comum é que seus governos agiram rapidamente, diz Carin Zissis, da organização Sociedade Americana/Conselho das Américas (AS/COA). A Costa Rica, por exemplo, foi o primeiro país da América Central em que foi registrado um caso de covid-19 e, apesar de sua forte dependência do setor de turismo, em poucos dias, o país fechou suas fronteiras e restringiu as viagens.
O Uruguai declarou emergência de saúde e fechou as escolas no mesmo dia em que os primeiros casos foram confirmados. "Dos três países, é também o país com a maior taxa de testagem", afirmou Zissis à DW. O Paraguai, por sua vez, aplicou medidas de quarentena após a confirmação do segundo caso de contágio.
No entanto, como não são os únicos países latino-americanos que reagiram rapidamente à pandemia, Zissis também destaca fatores locais, como o fato de os três países terem populações relativamente pequenas. "Na América Latina, vimos que grandes áreas metropolitanas, como São Paulo e Cidade do México, são os epicentros."
Brasil, uma ameaça regional
Guillermo Sequera, diretor-geral de Vigilância Sanitária do Paraguai, faz uma avaliação positiva da fase de suspensão gradual das medidas de confinamento. Em entrevista à DW, ele citou o autor Roa Bastos, que descreveu o Paraguai como uma "ilha cercada por terra" e explica que é um país "com movimento e conectividade relativamente baixos com as grandes cidades do mundo. A conectividade global do território define a velocidade com que a epidemia é instalada."
No entanto, a resposta bem-sucedida do governo paraguaio ao coronavírus pode ser afetada pela gestão de crises na região. Na opinião de Guillermo Sequera, "o problema agora é o Brasil. Acreditamos que a Argentina está adotando medidas de defesa interna que acabam ajudando a região e nosso país. O que acontece no Brasil definirá o ritmo da epidemia regional e de todas as medidas não farmacológicas que estão sendo implementadas."
Na última segunda-feira (18/05), o presidente paraguaio, Mario Abdo Benítez, anunciou que, por serem os "focos mais vulneráveis", fronteiras e escolas serão os últimos a abrir. "Ainda não podemos abrir a fronteira enquanto houver disseminação significativa do vírus em nossos países irmãos e vizinhos", afirmou.
Luis Roberto Escoto, representante da Organização Pan-Americana da Saúde (Opas) no Paraguai, ressaltou que, nesse sentido, também é preocupante o número de cidadãos paraguaios que deseja retornar ao país. "Os esforços estão concentrados em organizar essas entradas de maneira mais fluida, ordenada, social e controlada do ponto de vista sanitário. A cooperação internacional também está apoiando o país a enfrentar esse grande desafio", disse o funcionário da Opas à DW.
Seu colega Giovanni Escalante Guzmán, representante da Opas no Uruguai, disse concordar que, em nível regional, o "principal desafio é a implementação de controle sanitário adequado e medidas preventivas frente à entrada de casos não diagnosticados na ampla fronteira que o país tem com o Brasil, principalmente em cidades binacionais como Rivera-Santana do Livramento e Chuí."
Uruguai, uma história de sucesso
Segundo o especialista, "o país mostra uma evolução epidemiológica que indica que a pandemia de covid-19 está contida". Enquanto a taxa de mortalidade nos EUA é de 6%, no Uruguai, ela permaneceu estável em torno de 2,7%.
Entre os principais fatores que contribuíram para conter a propagação do vírus no país sul-americano, Giovanni Escalante mencionou "o nível sustentado de investimento público em saúde há mais de 15 anos" e destacou que "o Uruguai tem uma vantagem comparativa sobre outros países por sua solidez institucional, uma tradição democrática e cívica com uma importante credibilidade relativa em seus líderes, uma forte presença do Estado em áreas como saúde, seguridade social, sistema educacional e capacidade reguladora do setor privado."
Escalante também destacou a "civilidade da população que acatou e cumpriu as medidas restritivas sem a necessidade de torná-las obrigatórias." Também no caso da Costa Rica, o sólido sistema de saúde foi um fator-chave na luta contra a pandemia. Com 79,6 anos, a Costa Rica registra a maior expectativa de vida na América Latina, aponta Evelyn Gaiser, representante da Fundação Konrad Adenauer no país centro-americano. O Fundo da Seguridade Social da Costa Rica (CCSS) possui hospitais em todo o país e mais de 50 mil funcionários, o que equivale a um empregado para cada 100 habitantes.
Na opinião da especialista, a resposta costa-riquenha também se destaca por sua "agilidade e espírito de inovação". Em estreita cooperação com instituições privadas, o governo apostou em especialistas na área de tecnologia médica. As soluções inovadoras variam desde o desenvolvimento de equipamentos de proteção usando impressoras 3D até a implantação de um hospital especializado em covid-19 em apenas 11 dias, disse Gaiser à DW.
As medidas de contenção do coronavírus relativas aos portadores, no entanto, foram fortemente criticadas. Depois de detectar 50 casos de coronavírus em funcionários de transportadoras estrangeiras desde 5 de maio, a Costa Rica decidiu restringir a entrada de motoristas do exterior, o que gerou desconforto no setor privado e nos governos da América Central, que exigiram que a medida fosse suspensa.
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Autor: Viola Traeder (ca)
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