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Tecnologia, música e humor para uma Semana Santa inédita na Espanha

09/04/2020 14h45

Madri, 9 Abr 2020 (AFP) - O novo coronavírus e o confinamento privaram cidades e povoados da Espanha das procissões da Semana Santa, tradição muito popular desde a Reforma Católica dos séculos XVI e XVII. As caminhadas que reúnem multidões foram substituídas por soluções inusitadas.

Alguns fieis reviveram a Paixão de Cristo nas redes sociais. "Todos os dias, no momento de cada uma das procissões, exibimos nos perfis da Junta da Semana Santa as imagens que seriam cortejadas. E no canal do YouTube, colocamos uma procissão do ano anterior", explicou à AFP José Adrián Cornejo, presidente do conselho de irmandades de Salamanca.

A única manifestação externa visível são cantos solitários em homenagem a Cristo e à Virgem, nas varandas de Andaluzia.

Ao buscar "cancões de confinamento" no YouTube é possível encontrar interpretações, como a da adolescente María Cáceres, de Córdoba, ou a de Alex Ortiz, de Sevilha, que cantam nesta "triste primavera" sem tambores ou cornetas.

Em Sevilha, onde as irmandades não saíram pela primeira vez desde 1933, Pablo Murillo, católico praticante e pai de quatro filhos, diz que está vivendo as festividades "com mais recolhimento".

No Domingo de Ramos, sairia em procissão com a família ao lado da irmandade de La Paz, vestindo capuz e túnica branca.

Como não será possível, ele ouve em casa as tradicionais "marchas", melodias que acompanhariam as imagens nas ruas.

Um comportamento comum, já que em seu bairro, próximo ao maior hospital da cidade, os moradores adquiriram o hábito de colocar músicas em volume máximo após os aplausos nas janelas para os profissionais de saúde, às oito da noite.

- Papel higiênico como imagem -Enquanto alguns celebram de maneira contida ou divertida, outros foram criticados por violar o confinamento em vigor desde 14 de março, como divulgou uma televisão local.

Em La Puerta de Segura, uma pequena cidade andaluza, várias pessoas saíram às ruas simulando uma procissão. Um dos cortejos levava um tambor e outro exibia uma manta sobre uma imagem.

Em Porcuna, nove mulheres marcharam vestidas com túnicas e carregando velas; em Palencia, dois confrades encapuzados carregavam como 'imagem' alguns rolos de papel higiênico.

Usando o humor, dois carros de polícia desfilaram desacelerando e acelerando ao som de música religiosa.

O mesmo fez um ônibus, recebendo aplausos dos moradores.

Muitas ordens religiosas também manifestaram solidariedade em um dos países mais arrasados pelo coronavírus, com cerca de 15.000 mortos até esta data.

Em Valladolid, vinte irmandades doaram 1.000 euros cada para "a aquisição de equipamentos de proteção e suprimentos médicos urgentes", disse o presidente do conselho local, Isaías Martínez Iglesias.

Em Sevilha, Pablo Alen, da Irmandade da Carretería, conta que vão sofrer danos financeiros "relativamente grandes", pois não receberão as doações geralmente pagas pelos membros para o cortejo da Sexta-feira Santa.

Ele explica que eles cuidam de várias obras de caridade, entre elas, um refeitório humanitário, e que, diante da situação atual, vão adiar projetos para atender a necessidades mais urgentes.

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