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Obesos e pessoas com sobrepeso podem ter maior suscetibilidade a formas graves do coronavírus

08/04/2020 13h12

Pessoas obesas - 15% dos adultos na França - podem ser mais suscetíveis a desenvolver formas graves do novo coronavírus. Apesar de ainda não haver um estudo científico que comprove essa constatação, médicos observam que pacientes com o índice de massa corporal (IMC) acima do normal representam 83% das pessoas contaminadas pela Covid-19 nas UTIs do país.

Segundo dados divulgados pelo Centro Hospitalar de Nice, no sul da França, o IMC dos pacientes infectados na UTI local é, em média, de 29 kg/m2. Já no Centro Hospitalar de Montpellier, nas primeiras semanas da epidemia, de 45% à 50% dos contaminados em estado grave apresentavam obesidade severa, com o IMC superior a 35 kg/m2. A corpulência normal de um indivíduo fica entre 18,5 kg/m2 e 25 kg/m2.

Entre os 83% dos pacientes em estado grave devido ao Covid-19, a obesidade ou o sobrepeso estão associados à diabetes ou à hipertensão arterial. Três quartos desses doentes são homens com uma média de idade de 63 anos, aponta Matthieu Schmidt, especialista em reanimação médica do hospital Pitié-Salpêtrière, em Paris.

Grupos de risco "oficial"

Segundo o Alto Conselho da Saúde Pública da França, na lista de pessoas que correm o risco de desenvolver formas graves do coronavírus, estão indivíduos com mais de 70 anos, com antecedentes cardiovasculares, diabetes, patologias respiratórias crônicas, insufiência renal ou em tratamento contra um câncer. Pessoas com obesidade mórbida (IMC superior a 40 kg/m2) foram incluídas neste grupo por analogia com a gripe A e dados registrados durante a epidemia de 2009.

Para François Delfraissy, presidente do Conselho Científico da França - órgão criado especialmente para enfrentar a Covid-19 - 17 milhões de franceses fazem parte do grupo de risco do coronavírus. "A população frágil é importante", ressalta. Segundo ele, se essas pessoas desenvolvem uma forma grave da doença, têm mais chances de morrer.

Além de dados reunidos por hospitais, há poucos estudos científicos até o momento que provam o aumento da mortalidade em pacientes obesos ou com sobrepeso infectados pela Covid-19. Por isso, médicos preferem esperar o resultado de pesquisas antes de tirar conclusões sobre a questão.

Risco de morte pode aumentar com corpulência

Nos Estados Unidos, um levantamento realizado com 24 pacientes internados em UTIs após terem sido contaminados pelo coronavírus também sugere que o risco de morte aumenta com a corpulência. A pesquisa foi publicada no New England Journal of Medicine em 30 de março.

"O que é impressionante, neste estudo, é que a mortalidade atinge 70% dos doentes cujo IMC é superior a 35 kg/m2, contra 30% daqueles que têm um IMC inferior à 35 kg/m2", afirma, em entrevista ao jornal Le Monde, Olivier Ziegler, nutricionista do Centro Hospitalar Regional Universitário de Nancy, no nordeste da França.

Ele pede cautela sobre conclusões defitinivas devido ao pequeno número de pacientes utilizados na pesquisa, mas aponta que, segundo essa publicação, a mortalidade relacionada a patologias associadas ao coronavírus é elevada até mesmo entre os pacientes mais jovens (37% entre as pessoas com menos de de 65 anos).

Assim, a idade poderia deixar de ser o principal fator de risco, dando espaço para a obesidade ou sobrepeso. Segundo o especialista em reanimação médica Matthieu Schmidt, esse é o caso de 70% dos doentes graves contaminados pelo coronavírus do hospital Pitié-Salpêtrière em Paris.

"Todas as UTIs francesas fazem essa constatação há várias semanas. Temos uma proporção muito importante de pacientes com sobrepeso, afirmou em entrevista ao canal de TV France 2.

A França não é o único país a observar esse fenômeno. No Reino Unido, em uma lista de 196 contaminados em UTIs do país, 32% estavam em situação de sobrepeso e 41% eram obsesos. Os dados datam de 20 de março.

Relação entre obesidade e coronavírus

"A obesidade aumenta o risco de embolia pulmonar. Ora, a infecção do novo coronavírus já expõe particularmente a complicações tromboembólicas", explica Jean-Michem Oppert, diretor do serviço de nutrição do Hospital Pitié-Salpêtrière, em entrevista ao jornal Le Monde.

Segundo ele, outras anomalias associadas à obesidade podem penalizar os doentes: problemas pulmonares, mas também um déficit imunitário crônico. Esses fatores pioram o estado do paciente atingido por infecções virais respiratórias, como é o caso da gripe e da Covid-19.

Outra questão que preocupa os médicos franceses é a possibilidade de os contaminados obesos ou com sobrepeso passarem mais tempo doentes. "Para alguns vírus gripais, pacientes com um IMC elevado têm uma duração maior do vírus, mas para a Covid-19 ainda não sabemos", aponta Karina Clément, professora de nutrição no Hospital Pitié-Salpêtrière.

Por isso especialistas em obesidade ressaltam a importância de pessoas que fazem parte de grupos de risco respeitarem imperativamente as medidas de proteção estabelecidas pelo governo contra o coronavírus, especialmente o confinamento. Para obesos que, devido ao trabalho, não puderem se isolar neste momento em que a curva de contaminações continua aumentando na França, a recomendação das autoridades é solicitar um atestado médico preventivo.

 

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