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Especialistas franceses desconfiam do número de casos de coronavírus divulgado pela China

03/04/2020 13h12

A grande disparidade do número de mortos pelo novo coronavirus na China, berço da pandemia, e em outros países começa a levantar suspeitas sobre a veracidade das estatísticas oficiais comunicadas por Pequim. Vários especialistas franceses, assim como um relatório confidencial americano, afirmam que os dados chineses foram subestimados.

Oficialmente, a China continental, país mais populoso do mundo com 1,38 bilhão de habitantes, contabiliza pouco mais de 3.300 mortos e 81.600 contaminados, a grande maioria deles em Wuhan. O saldo é muito inferior ao registrado em vários países ocidentais.

Só para se ter uma ideia a Itália, que registra até agora maior número de vítimas fatais no mundo (13.900), tem 60 milhões de habitantes. A população italiana é um pouco maior que a da província chinesa de Hubei, onde o novo coronavírus surgiu em dezembro passado. A Espanha, o segundo país mais afetado, supera os 9.000 mortos, a França 4.000 e os Estados Unidos, 5.000, até o momento.

"Difícil acreditar que o país (China), mesmo com as medidas de confinamento adotadas, tenha tido tão pouco mortos", estima o professor em microbiologia e ex-diretor do Instituto Pasteur, Patrick Perche em entrevista à radio Europe 1.

A infectologista Karine Lacombe, do hospital parisiense Saint-Antoine, tem a mesma impressão: "As autoridades chinesas esconderam provavelmente a verdadeira taxa de mortalidade", declarou a médica à TV LCI.

Um relatório confidencial do serviço de inteligência americano, divulgado por vários parlamentares do país, também estima que os números de mortos e de casos de contaminação estão "intencionalmente" abaixo da realidade. O documento não faz nenhuma estimação.

Diferença entre Hubei e o resto do país

Carine Milcent, pesquisadora do Centro Nacional de Pesquisa Científica da França (CNRS) e especialista no sistema de saúde chinês, amplia a análise. Ela está intrigada com o pequeno número de mortos ocorridos em outras regiões do país. Mesmo se a província de Hubei, e sua capital Wuhan, foram isoladas do resto da China desde o final de janeiro, ela se diz surpresa com a capacidade das autoridades de ter restringido a expansão da epidemia. "Não consigo explicar isso", afirma.

Outros dados também interpelam os especialistas franceses. "A dramática situação italiana alertou todo mundo", declarou à rádio France Info Pascal Crepey, epidemiologista da Escola de Altos Estudos em Saúde Pública. Ele faz uma comparação entre as taxas de casos graves, que necessitam de reanimação. "As autoridades italianas recensearam 19% de casos críticos, enquanto que entre os primeiros 44.000 casos confirmados na China, essa proporção era de apenas 4,7%", revela.

Fotos de urnas funerárias

Fotos publicadas nas redes sociais chinesas alimentam essas dúvidas. Em algumas delas, com data de 25 de março, se vê filas de espera enormes de pessoas que vieram buscar as cinzas de parentes mortos, diante de crematórios da província de Hubei. O site Caixin, considerado uma das fontes de informação chinesa mais livre sobre a epidemia, fala em mais de 6 horas de espera.

O mesmo site informa que um entregador garantiu ter entregue em um único crematório, de Hankou, 5.000 urnas. Um funcionário do local disse ao Caixin que no auge da epidemia trabalhava até 19 horas por dia. As informações do site viralizaram na internet e aumentaram a desconfiança da população.

Alguns internautas chegaram à conclusão que mais de 40.000 urnas serão distribuídas em Wuhan, até 5 de abril, o que indicaria o mesmo número de mortos. O embaixador chinês na França, Lu Shaye, tenta acabar com as especulações e garante à BFM TV que a China não mentiu. "Não subestimamos, nossos dados são precisos", afirmou.

Novos casos

Na quarta-feira (1), a China revisou um de seus balanços, o relativo ao número de casos confirmados no país. O saldo oficial foi aumentado de 1.367 pessoas que foram testadas positivas ao coronavírus, sem no entanto apresentarem sintomas da doença.

Um reconhecimento implícito de que o balanço oficial é imperfeito e que ainda pode evoluir? "Provavelmente não", acredita Antoine Bondaz, do Instituto de Ciências Políticas de Paris, especialista em China, lembrando que Pequim sempre manipulou seus dados.

O país, que teme uma segunda onda da epidemia, anunciou nesta sexta-feira (3) quatro mortes e 31 novos infectados todos em Wuhan. A comissão Nacional de Saúde chinesa também informa que 60 pacientes assintomáticos foram controlados e que a esmagadora maioria das contaminações é de casos importados.

As últimas medidas de confinamento de Wuhan devem terminar no próximo 8 de abril. Também nesta sexta-feira, a província de Jia, no centro do país, decidiu decretar o confinamento de seus 600.000 moradores depois da descoberta de um primeiro caso de Covid-19 na região.

 

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