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Após recuo no tom, Bolsonaro volta ao ataque contra governadores e Mandetta

Presidente Jair Bolsonaro ao lado do ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, durante entrevista coletiva em Brasília - UESLEI MARCELINO
Presidente Jair Bolsonaro ao lado do ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, durante entrevista coletiva em Brasília Imagem: UESLEI MARCELINO
do UOL

Do UOL, em São Paulo

03/04/2020 01h30

Resumo da notícia

  • Isolado politicamente, presidente usa mídia para atacar ministro da Saúde
  • Ele também voltou a ridicularizar governadores por medidas de contenção
  • Mandetta diz que há preocupação com falta de equipamentos e UTIs
  • Ontem, Bolsonaro sancionou auxílio de R$ 600 a informais

Num momento em que o Brasil bate, dia após dia, recordes nos números de contaminados e mortos pela covid-19, doença causada pelo novo coronavírus, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) voltou a trocar farpas públicas com o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta. Em entrevista à rádio Jovem Pan na noite de ontem, criticou o que chama de "falta de humildade" de seu auxiliar, mas negou os boatos que circulam desde a semana passada sobre a possível saída dele da pasta.

"Não pretendo demiti-lo no meio da guerra, mas em algum momento ele extrapolou. (...) Em alguns momentos, acho que o Mandetta teria que ouvir mais o presidente. O Mandetta quer fazer valer muito a vontade dele. Pode ser que ele esteja certo, mas está faltando humildade para ele conduzir o Brasil neste momento", afirmou.

A resposta de Mandetta foi curta: "Quem tem mandato popular fala. Quem não tem, como eu, trabalha". A frase foi dita à Folha, como justificativa de por que ele não comentaria a declaração do presidente.

Durante o dia, Bolsonaro já havia voltado a atacar os governadores por conta das medidas de restrição tomadas por alguns deles — o que classifica como "medinho". Os comandantes dos estados das regiões Sul e Sudeste, por sua vez, anunciaram que pretendem apresentar uma petição conjunta contra o presidente no STF (Supremo Tribunal Federal), à qual os governadores da região Centro-Oeste podem aderir.

Em todos esses episódios, está o ponto central da vez: Bolsonaro é contra as medidas de isolamento social e repetidamente minimiza os efeitos da pandemia que já contaminou 1 milhão de pessoas em todo o mundo. Para ele, é uma "gripezinha".

Mesmo tendo amenizado o tom de seu discurso em um pronunciamento à nação na última terça, quando reconheceu a gravidade do vírus, anteontem e ontem ele voltou a fazer postagens e comentários menosprezando a pandemia.

Seu argumento é que o isolamento pode causar impactos maiores na economia, porém o próprio governo tem agido, com lentidão, para transformar em realidade as medidas anunciadas, avaliam especialistas. No início da noite de quarta-feira, Bolsonaro, enfim, sancionou o auxílio emergencial de R$ 600 a trabalhadores sem carteira assinada.

O benefício, que havia sido aprovado pelo Congresso na segunda e foi tema de atrito entre o ministro da Economia, Paulo Guedes, e o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), é uma aguardada ação do governo federal para driblar a crise causada pela pandemia. A demora, por parte do governo, se deu devido à cautela em não tomar decisões que, no futuro, pudessem render acusações de ter cometido pedaladas fiscais, como as que tiraram do poder a ex-presidente Dilma Rousseff (PT).

O auxílio emergencial é uma das ações mais aguardadas pela população para minimizar o impacto negativo na economia, fruto do avanço da doença e do isolamento social proposto pela Organização Mundial de Saúde (OMS) e pelo próprio Ministério da Saúde para conter o vírus. A "dinâmica social diminuída", diz Mandetta, é a melhor forma de conter a propagação do novo coronavírus pelo país.

A insistência nesse ponto se dá pela "grande preocupação" que Mandetta tem expressado nos últimos dias em relação à capacidade do sistema de saúde em atuar durante a pandemia — e a pasta chegou a encomendar um estudo em Harvard sobre isso. Se já há falta iminente de equipamentos e de leitos de UTI (unidades de terapia intensiva) agora, em que os casos se concentram nas capitais, a situação tende a tornar-se ainda pior com o avanço da covid-19 rumo ao interior do país.

O avanço é inegável: no início de março, uma única cidade, São Paulo, registrava casos confirmados. Hoje, eles estão presentes em todos os estados e no Distrito Federal, e já há registros de transmissão comunitária em municípios fora da zona metropolitana. É justamente nessas regiões que, tradicionalmente, há menos leitos de UTI, carência de profissionais e equipamentos, o que torna mais preocupante a possibilidade de colapso no sistema de saúde.

O aumento rápido e contínuo dos números de casos oficiais confirmados e de mortes — ontem eram, respectivamente, 7.910 e 299 — expõe, além da propagação da covid-19, como a subnotificação vinha maquiando a real situação da pandemia, algo já assumido publicamente pelo governo federal. Isso tem dificultado, inclusive, os estudos e projeções que avaliam a evolução da covid-19 no país.

Apenas em São Paulo, um cálculo feito por cinco universidades brasileiras (USP, UFRJ, UERJ, UFRGS e UnB), com base nos dados divulgados até quarta-feira, previa que o número de casos dobraria e chegaria a 3.673 até domingo — o que representaria um aumento de 94%. Hoje, o governo do estado anunciou os novos números no estado: 3.506 casos confirmados.

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