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FGV reduz projeção de alta do IPC-S de 2020 de 4% para 3%

Thaís Barcellos

São Paulo

01/04/2020 17h09

Apesar da pressão no Índice de Preços ao Consumidor - Semanal (IPC-S) em março, com aceleração a 0,34%, de -0,01 em fevereiro, o coordenador do indicador Paulo Picchetti avalia que a crise desencadeada pelo coronavírus tem grande desinflacionária. Para abril, o economista espera arrefecimento a 0,20% e, para 2020, revisou a projeção de aumento de 4,0% para 3,0%.

Em março, o principal destaque, diz Picchetti, foi o aumento de Alimentação (0,61% em fevereiro para 1,35% em março), que foi generalizado, como aponta o avanço do índice de difusão de 62,9% em fevereiro para 65,8% em março. "Não é muito elevado para padrões históricos."

A alta de Alimentação deve-se, segundo Picchetti, ao aumento da demanda por produtos alimentícios pelas famílias nos supermercados, com a necessidade de fazer mais refeições dentro de casa devido à quarentena, e também a uma certa estocagem de produtos não perecíveis. Mas, como não há sinal de desabastecimento, o economista diz que a expectativa é de normalização em abril.

Os itens que mais subiram foram as hortaliças e legumes (8,60% para 12,27%), com destaque para tomate e batata, o que também está relacionado com o movimento sazonal. A batata deve continuar subindo, conforme a ponta, mas o tomate tende à estabilidade de preços.

Algo que também chamou atenção no IPC-S de março foi a queda mais amena de passagem aérea (-8,82% para -2,72%), e, principalmente, o aumento de 8% na ponta (pesquisas mais recentes, que comparam os preços na semana de referência com o mesmo período do mês anterior). Segundo Picchetti, considerando também relatos de executivos na mídia, as empresas aéreas podem estar tentando compensar parte da perda "colossal" de movimento com o aumento de preços.

Picchetti, contudo, não vê esse movimento se espalhando para outros setores e preços, porque diante da grave crise econômica que se desenha, com aumento do desemprego e queda da renda, não deve haver espaço para repasses de preços. "A grande força dessa pandemia é desinflacionária. Está se reduzindo o consumo de tudo. O País já vinha com atividade fraca, com baixo de repasse de preços. O efeito da pandemia tende a intensificar um ambiente desinflacionário."

Nem mesmo a pressão de produtos mais procurados na crise preocupa, completa. "O peso deles é relativamente baixo, o aumento também é pequeno e não deve ser sustentado, porque aparentemente não tem problema de desabastecimento", diz, citando, por exemplo, papel higiênico, que subiu 1,48% em março e tem ponta superior a 3%.

Os combustíveis devem contribuir para uma inflação mais baixa diante do mergulho do preço internacional do petróleo em meio à queda na demanda e o impasse entre os maiores produtores globais. Em março, a gasolina caiu 1,38% e o etanol, -0,80%, e as duas pontas apontam para quedas de cerca de 3%, o que tende a significar recuos maiores em abril.

Picchetti ainda destaca que os itens comercializáveis, que sentem mais diretamente os movimentos cambiais, até subiram, mas muito pouco diante da escala do dólar no último mês. A variação foi de 1,68% para 1,81%. "É uma aceleração, mas em termos absolutos, comparado com a desvalorização do câmbio é quase irrelevante." O dólar subiu 29,53% em março.

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