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PE: Chuvas inundam cidades no sertão e famílias se aglomeram em abrigos

Arquivo pessoal
Imagem: Arquivo pessoal
do UOL

Kleber Nunes

Colaboração para o UOL, no Recife

27/03/2020 20h42

Após sete anos seguidos sofrendo com a estiagem, cidades do sertão de Pernambuco vivenciam os problemas do outro extremo. Chuvas fortes que atingem a região desde o fim de semana passado estão provocando o transbordamento de barragens, obstrução de rodovias e obrigando famílias a saírem de suas casas.

A situação se torna ainda mais grave, pois, em meio à pandemia do novo coronavírus, prefeituras dos municípios mais afetados pelas precipitações foram obrigadas a despejar moradores. O Estado tem 57 casos confirmados e quatro mortes por covid-19. A Casa Militar do Estado estima que pelo menos 350 famílias estão desalojadas ou desabrigadas em cinco cidades: Serra Talhada, Sertânia, Carnaíba, Afogados da Ingazeira e Arcoverde.

"Ontem, na hora da enchente não teve como ficar no isolamento, todo mundo se aglomerou nas ruas, uns para ajudar a retirar pessoas e objetos, outros por curiosidade mesmo", conta o vereador de Serra Talhada, Alfredo Rodrigues, 36.

Chuvas inundaram cidades no sertão do Pernambuco

Na cidade, que decretou hoje estado de calamidade pública, além de Sertânia e Afogados da Ingazeira, poucos conseguiram alugar outro imóvel às pressas, a maioria seguiu para casas de parentes ou para abrigos improvisados como escolas municipais e sedes de associações.

"Parte está morando em uma escola estadual e lá estão tentando seguir as recomendações para evitar o coronavírus com distanciamento uns dos outros e cuidados com a higienização das mãos", afirma o parlamentar.

Em Sertânia, um grupo de jovens iniciou uma campanha para arrecadar alimentos, colchões e materiais de higiene. Uma das organizadoras da iniciativa, que preferiu não se identificar, contou que o grupo tem visitado casas que estão sendo compartilhadas por quatro famílias ao mesmo tempo. "É um perigo viver assim por causa do coronavírus, mas não tem outro jeito", diz.

Em casos de enchente, as autoridades de saúde aplicam um protocolo de emergência que consiste, entre outras medidas, em imunizar as vítimas contra enfermidades como difteria e hepatite B. De acordo com o secretário de saúde de Afogados da Ingazeira, Artur Amorim, a estratégia está sendo aplicada sem abandonar as ações de prevenção à covid-19.

"Primeiro fizemos uma varredura geral para identificar essas famílias e examinar. Encontramos uma casa, por exemplo, com 18 pessoas morando juntas, que agora estão em um abrigo onde tentamos manter os cuidados de distanciamento", revela Amorim. "Sabemos que os casos de síndromes gripais vão aumentar por causa da enchente, estamos tentando nos preparar", completa.

Acesso à água potável

As enchentes afetaram diretamente alguns sistemas de abastecimento de água da região que já conta, em alguns municípios, com um sistema de rodízio. A Companhia Pernambucana de Saneamento (Compesa) registrou três ocorrências em adutoras e estações elevatórias.

Das notificações, apenas a estação elevatória de Poços Moxotó, que foi inundada três vezes e atende as cidades do sertão do Pajeú ainda passa por consertos, sem previsão de conclusão.

Os incidentes obrigaram a empresa a contratar carros-pipa. Segundo nota, na última semana, a estatal precisou atender 144 pedidos dos caminhões de abastecimento, totalizando 5,2 milhões de litros de água.

Estradas

Pelo menos 12 rodovias estaduais estão bloqueadas ou com o tráfego limitado por causa de erosões deixas pelas chuvas. Uma preocupação a mais para as cidades, segundo o prefeito de Afogados da Ingazeira e presidente da Associação Municipalista de Pernambuco (Amupe), José Patriota.

"A PE-292, principal estrada de acesso a Afogados foi parcialmente destruída, mas todas as estradas rurais estão intransitáveis, o que nos preocupa muito nesse momento de pandemia de coronavírus", lamenta.

Em nota, o Departamento de Estradas de Rodagem de Pernambuco (DER-PE) informa que já deu início às obras de recuperação da PE-292 que teve a cabeceira da ponte levada pela enxurrada. A previsão é de concluir a reforma em até 30 dias, a depender das condições climáticas.

Ainda segundo o órgão, uma via alternativa é pegar o anel viário antes PE-292 para sair ou acessar o centro de Afogados da Ingazeira. "O DER permanece monitorando as ocorrências e reforçando o quadro de profissionais na frente de trabalho para realizar as ações emergenciais", declara a nota.

Barragens

Diante do grande volume de chuvas da última semana, 11 barragens atingiram a cota máxima e verteram no sertão, outros seis reservatórios transbordaram no agreste.

A Agência Pernambucana de Águas e Climas (Apac) contabilizou seis barragens que estão com 90% da sua capacidade com risco iminente de transbordar, já que a previsão do órgão é de que as precipitações continuem acima da média pelos próximos três meses.

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