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Em represália à morte de militares turcos na Síria, Erdogan ameaça não conter fluxo de migrantes à Europa

28/02/2020 09h26

A Turquia declarou nesta sexta-feira (28) que não impedirá mais os migrantes que tentarem atravessar a fronteira para a Europa, como determina o acordo fechado no ano passado com a União Europeia. A decisão de abrir as portas foi tomada durante um conselho de segurança extraordinário presidido pelo chefe de Estado Recep Tayyp Erdogan, na noite de quinta-feira (27).

"Não impediremos mais aqueles que quiserem entrar na Europa", declarou nesta sexta-feira um militar turco, sob anonimato. Segundo ele, a polícia e os guardas de fronteira já receberam a ordem de deixar passar os migrantes que chegam à Turquia por via terrestre ou marítima, com o objetivo de ir para a Europa.

"A União Europeia espera que a Turquia respeite seus engajamentos", declarou Peter Stano, um dos porta-vozes da Comissão Europeia. "Do nosso ponto de vista, o acordo continua valendo", reiterou.

A Turquia e os países-membros da União Europeia assinaram em 2016 um acordo para conter o fluxo migratório ao Velho Continente. No entanto, Ancara ameaça frequentemente colocar um fim ao compromisso como forma de pressionar os europeus em troca de concessões e recursos. A Europa vive sob o temor que uma nova crise imigratória, como a de 2015, quando um milhão de sírios chegaram em países da UE.

Erdogan voltou a insistir na abertura de suas fronteiras durante uma reunião convocada sob emergência, depois da morte de pelo menos 33 militares turcos na região de Idlib, no noroeste da Siria, em ataques aéreos atribuídos por Ancara ao regime sírio, apoiado pela Rússia. Segundo a imprensa turca, grupos de migrantes se dirigiam nesta manhã em direção à fronteira com a Grécia, no oeste da Turquia.

Como medida de precaução, o governo grego já aumentou suas patrulhas na fronteira com a Turquia. Segundo uma fonte da polícia da Grécia, o número de patrulhas duplicou na região nas últimas horas. "Mas está tudo está sob controle, não há motivo para se preocupar", acrescentou.

Zona de exclusão

A Turquia também pede que a comunidade internacional crie uma zona de exclusão aérea no noroeste da Síria para impedir os aviões do regime sírio e do aliado russo de organizar ataques aéreos. "A comunidade internacional deve tomar medidas para proteger os civis", declarou, em um comunicado, o porta-voz da presidência turca, Fahrettin Altun.

Com apoio aéreo da Rússia, as tropas sírias mantêm uma ofensiva para recuperar o reduto rebelde de Idlib. Centenas de milhares de pessoas foram obrigadas a fugir de suas casas na região desde dezembro, no maior deslocamento registrado desde o início da guerra civil na Síria, em 2011. A maioria delas foge para a Turquia, que divide uma grande fronteira com a Síria.

Turquia rejeita explicações da Rússia

Ancara rejeitou nesta sexta-feira as explicações russas, de que os soldados turcos mortos em um bombardeio no noroeste da Síria na quinta se encontravam em meio a "terroristas".

"Quero ressaltar que nenhum grupo armado estava perto das nossas unidades militares no momento deste ataque", declarou o ministro turco da Defesa, Hulusi Akar, citado pela agência pública Anadolu.

O presidente russo, Vladimir Putin, e o turco, Recep Tayyip Erdogan, conversaram por telefone nesta sexta-feira, relatou o ministro russo das Relações Exteriores, Serguei Lavrov. O ministro disse querer evitar que "tragédias assim" aconteçam e que Moscou "faz de tudo para garantir a segurança dos soldados turcos" estacionados na Síria. Segundo o Kremlin, a "escalada das tensões na Síria" preocupa Putin e Erdogan.

Reunião da Otan

O secretário-geral da Otan, Jens Stoltenberg, anunciou uma reunião urgente para esta sexta-feira dos embaixadores de seus 29 países-membros, um dia depois da morte de 33 militares turcos em bombardeios na Síria.

A convocação da reunião atende a um pedido da Turquia, membro da Otan, no âmbito do artigo 4 do tratado. Um aliado pode recorrer a este artigo, se considerar que sua integridade territorial, sua independência política, ou sua segurança estão ameaçadas, diz um comunicado da Aliança Atlântica. O texto determina que "um ataque armado contra um, ou vários de seus membros na Europa, ou na América do Norte, deve ser considerado como um ataque contra todos".

Depois de se reunir ontem com o ministro turco das Relações Exteriores, Mevlüt Cavusoglu, Stoltenberg condenou os "bombardeios 'cegos' do regime sírio e de seu aliado russo" e pediu "distensão" entre as partes.

(Com informações da AFP)

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