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Fed vê cortes nas taxas em meio a ameaças de vírus e inflação baixa

27/02/2020 17h51

Por Ann Saphir e Anthony Esposito

SÃO FRANCISCO e CIDADE DO MÉXICO (Reuters) - O Federal Reserve (Fed, banco central dos Estados Unidos) pode precisar agir agressivamente para reduzir os custos de empréstimos para suavizar a economia da rápida disseminação do novo coronavírus, em parte porque as taxas de juros já estão baixas e a inflação também.

Os operadores de contratos futuros vinculados à taxa de juros do banco central dos EUA já estão apostando nisso. Nesta quinta-feira, eles precificavam em cerca de 54% a chance de o Fed começar a cortar as taxas no mês que vem e recuar, extraordinariamente, em três quartos de ponto percentual até setembro, segundo o FedWatch, do CME Group.

Isso levaria a taxa-alvo de curto prazo a menos de 1%, pela primeira vez desde 2017.

Os operadores enxergavam apenas 33% de chance de um corte na taxa de março na quarta-feira. Mas isso foi antes de um relatório mostrar que novos casos no Irã, na Itália e em outros lugares estava crescendo mais rápido do que no epicentro da epidemia, China, e líderes de todo o mundo começaram a se preparar para uma epidemia mais ampla.

Os banqueiros centrais globais, enfrentando uma ameaça econômica do vírus, têm adotado, na maioria dos casos, uma abordagem de esperar para ver.

A presidente do Banco Central Europeu, Christine Lagarde, disse nesta quinta-feira que precisaria ver um choque "duradouro" para agir, acrescentando que "certamente" ainda não se chegou a esse ponto. Na Coreia do Sul, sede de um dos maiores surtos fora da China, a autoridade monetária local, inesperadamente, manteve a sua taxa básica de juros.

Diferentemente de muitos outros bancos centrais, o Fed ainda tem espaço para cortar as taxas de juros, embora as autoridades de lá tenham dito que querem ver uma "mudança material" nos dados econômicos antes de tomarem outras medidas, após reduzir os juros em três diferentes oportunidades no ano passado.

Ao mesmo tempo, entretanto, eles têm alertado que, com a inflação já baixa, qualquer resposta a um choque econômico pode precisar ser mais forte para ter efeito.

Nesta quinta-feira, o presidente do Fed de Chicago, Charles Evans, disse em uma conferência bancária na Cidade do México que, com espaço limitado para cortar as taxas de juros e uma queda na inflação, "os formuladores de políticas devem se comprometer a fornecer acomodações extraordinárias com o objetivo cumprir seu mandato".

Questionado sobre o impacto do coronavírus diretamente, Evans disse que o Fed está prestando "muita atenção", embora tenha reiterado o que parece ser a visão de consenso do Fed: que os efeitos na economia serão transitórios. VÍRUS JÁ AFETA EMPRESAS

Algumas grandes companhias norte-americanas dizem que o vírus já está enfraquecendo seus balanços e afetando a receita.

Nesta quinta-feira, a Best Buy Co reduziu sua previsão de lucros anuais, mencionando uma desaceleração na fabricação de eletrônicos por empresas, o que poderia atingir as vendas. E na semana passada, a Apple alertou que poderia não alcançar as metas de receita para o primeiro trimestre de 2020, porque a produção nas fábricas da China estava abaixo do esperado, limitando os abastecimentos globais de iPhone.

Os principais índices de Wall Street aceleravam a queda em um dia, com o S&P 500 e o Nasdaq recuando 10% em relação aos recordes intradiários alcançados em 19 de fevereiro, enquanto o Dow Jones perdia em torno de 10% em relação ao pico de 12 de fevereiro.

"O propósito do Fed de ser dependente de dados pode capitular ao sentimento do mercado", disse Jon Hill, estrategista de taxas de juros da BMO Capital Markets.

As preocupações com a disseminação do coronavírus também contribuíram para uma queda nas expectativas para a inflação, uma tendência que os formuladores de política monetária lutam contra a preocupação de que as taxas baixas os deixem com menos munição para combater a próxima crise.

O vice-presidente do Fed, Richard Clarida, disse na terça-feira que as expectativas de inflação estavam "no nível mais baixo de um intervalo que considero consistente com nosso mandato de estabilidade de preços".

Isso pode piorar se o novo coronavírus continuar a se espalhar, avaliou o economista-chefe do JPMorgan nos EUA, Michael Feroli, em parte porque um declínio nos preços do petróleo, devido à redução da demanda global, poderia gerar preços mais baixos para bens e serviços dos EUA.

A doença semelhante à gripe, originária da China, matou 2.800 pessoas e infectou cerca de 80.000. Mas nas últimas 24 horas, novos casos no exterior superaram os da China continental, onde a disseminação da doença está em declínio após uma campanha agressiva de contenção que incluía limites de viagens e paralisações de fábricas.

Em um sinal de crescente preocupação com a propagação da doença, o presidente dos EUA, Donald Trump, nomeou na quarta-feira o vice-presidente Mike Pence para liderar os esforços da saúde pública em conter a propagação do vírus.

(Reportagem de Ann Saphir)

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