Topo
Notícias

O ladrão que abandonou o crime após denunciar pornografia infantil que encontrou em um cofre

Helen Thomas e Patrick Kiteley - BBC News

24/02/2020 17h02

Caso aconteceu na pequena cidade de Los Gatos, na Califórnia, em 2005.

Quando Matthew Hahn arrombou o cofre que tinha acabado de roubar de uma casa em Los Gatos, na Califórnia, encontrou algo que mandaria outro homem para a cadeia ? e que acabaria por evitar que ele mesmo fosse para a prisão perpétua.

Era 2005 e fazia quatro anos que o jovem havia cumprido uma sentença de meia década por roubo.

Durante muito tempo ele roubou para sustentar o vício em metanfetamina, que o fez largar os estudos no Ensino Médio.

Como havia sido condenado por dois crimes graves nos termos da lei da Califórnia, se fosse preso novamente, poderia passar o resto da vida encarcerado.

Hahn tinha se comportado bem "por muitos anos", até que um de seus amigos de infância mais próximos tirou a própria vida, o que, segundo ele, o levou a meses de "consumo excessivo de drogas e prática de roubo".

"Eu tinha um ótimo trabalho, estava estudando. Mas uma tragédia pessoal ocorreu e minha incapacidade de lidar com aquilo me levou a uma recaída".

Ao abrir o cofre, a primeira coisa que ele viu foi um monte de fraldas sujas ? "uma experiência surreal".

"Havia várias outras coisas no cofre. Uma arma, fotografias, documentos pessoais. E, finalmente, havia um cartão de memória de câmera digital. Quando eu o coloquei no meu computador, vi que ele armazenava fotografias de uma pessoa molestando uma criança."

A princípio, Hahn não entendeu o que estava vendo.

"A primeira fotografia que eu vi era estranha, e eu sabia que havia algo de errado, mas não tinha muita certeza do que era. Foi só quando vi as imagens subsequentes que percebi o que estava vendo: um adulto e uma criança."

Bilhete anônimo

Obviamente, não era possível entrar na delegacia de polícia e dizer que tinha invadido uma casa e encontrado provas de um crime.

Mas ele sabia que precisava fazer alguma coisa, embora soubesse que qualquer nova condenação provavelmente significaria uma sentença de prisão perpétua.

Hahn colocou então o cartão da câmera em uma bolsa de moedas, escreveu um bilhete com o nome do homem, o endereço da casa e a frase "Por favor, tirem este animal das ruas", e deixou tudo na polícia.

O jovem pediu à mãe para acompanhar o noticiário sobre a história. Ele havia mentido para ela, dizendo que encontrou o item à venda em uma garagem.

Cerca de uma semana depois, ela ligou e disse que um homem havia sido preso.

John "Robbie" Robertson Aitken havia denunciado o roubo às autoridades. Quando a delegacia local recebeu as fotografias, convidou-o para depor, sob o pretexto de discutir o roubo em sua casa.

Para Hahn, esse não seria o fim da história. Ele continuou a roubar casas e foi detido oito semanas mais tarde, depois que o número de série de um objeto roubado vendido no eBay foi rastreado e revelou sua identidade.

O policial que o prendeu ? e o conhecia por causa de outras infrações na cidade ? perguntou: "O que aconteceu com você? Você estava indo tão bem".

"Bem, pelo menos eu te dei o Aitken", retrucou ele.

Enquanto Hahn estava preso aguardando julgamento, ele foi procurado pelo promotor público que processava Aitken, que lhe perguntou se estaria disposto a testemunhar.

Como Hahn fora acusado de vários crimes e poderia enfrentar até "400 anos de prisão", resolveu falar para tentar fortalecer a própria defesa.

Aitken poderia pegar até 25 anos por seus crimes. A discrepância entre as sentenças acabou provocando uma onda de apoio a Hahn e a uma oferta de acordo judicial pelo promotor público.

Hahn foi condenado a 14 anos e quatro meses, mas cumpriu sete.

Ele e Aitken estiveram na mesma prisão por um período, mas como estavam em áreas separadas, nunca se cruzaram.

Como Hahn era testemunha no caso de Aitken, que segue na cadeia, eles ocasionalmente compareciam ao tribunal no mesmo dia ? mas nunca trocaram uma palavra.

Quando estava preso, Hahn decidiu que aquela seria a última vez que teria problemas com a Justiça.

Ele deu início à recuperação da dependência química, passou a ler livros ? muitos doados pela mãe da vítima de Aitken ? e a meditar.

Já em liberdade, conseguiu se formar na Universidade da Califórnia, no campus de Berkeley.

Tornou-se eletricista e, à BBC, disse que hoje tem "um ótimo trabalho". Ele e a esposa acabaram de comprar a casa própria.

"Coisas incríveis estão acontecendo na minha vida hoje. A primeira coisa que pensei quando fiz o primeiro pagamento foi algo como 'há apenas 10 anos eu estava morando em uma cela e agora vou ter minha própria casa'."

Hahn diz que seu maior arrependimento é o prejuízo que causou a pessoas que não conhecia.

"Acho que o melhor que posso fazer é pagar pelos crimes, o que fiz. E darei o meu melhor para contar minha história e ajudar outras pessoas que estão lutando contra o vício a não seguirem o mesmo caminho."


Já assistiu aos nossos novos vídeos no YouTube? Inscreva-se no nosso canal!

https://www.youtube.com/watch?v=lKgTkax4vtc

https://www.youtube.com/watch?v=tpe0CiN-Smk

https://www.youtube.com/watch?v=DBuXAWuZs5w

Notícias