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'Hunters': por que a Amazon entrou na mira de grupos judeus de preservação do Holocausto

Entidades argumentam que invenção de atrocidades fictícias incentiva o negacionismo do Holocausto - AFP
Entidades argumentam que invenção de atrocidades fictícias incentiva o negacionismo do Holocausto Imagem: AFP

24/02/2020 07h27

Grupos ligados à preservação da memória do Holocausto lançaram críticas à Amazon, tanto por seu conteúdo próprio na plataforma de streaming Amazon Prime quanto por seu site de varejo online.

As principais críticas estão direcionadas à série Hunters, recém-lançada pela Amazon, estrelando Al Pacino. A série, de dez episódios, gira em torno de um grupo de caçadores de nazistas nos EUA dos anos 1970.

Críticos afirmam que a série incentiva o negacionismo do Holocausto ao inventar atrocidades ficcionais relacionadas àquele período — em referência específica a uma cena em que prisioneiros do campo de Auschwitz são forçados a matar uns aos outros em um jogo de xadrez humano.

"Auschwitz foi repleto de terríveis dores e sofrimento humano, documentados nos relatos de sobreviventes. Inventar um falso jogo de xadrez humano para Hunters não é só uma bobagem perigosa e uma caricatura. É algo que incentiva futuros negacionistas. Nós honramos as vítimas ao preservar a precisão factual", escreveu no Twitter a organização Auschwitz Memorial, que preserva o antigo campo de concentração na forma de espaço histórico.

O Holocausto foi o período em que cerca de 6 milhões de judeus foram mortos na Europa ocupada pelos nazistas, entre 1941 e 1945. Em Auschwitz, foram mortas 1,1 milhão de pessoas, a maioria delas judeus.

O Auschwitz Memorial também criticou a Amazon pela venda de livros antissemitas, particularmente um escrito pelo oficial nazista Julius Streicher.

"Quando você decide lucrar com a venda de perversos livros antissemitas de propaganda nazista publicados sem nenhum comentário ou contexto crítico, você precisa lembrar que essas palavras não levaram apenas ao Holocausto, mas a muitos outros crimes de ódio motivados pelo antissemitismo", disse a organização.

Em resposta à agência Reuters, a Amazon afirmou que comentará sobre a série Hunters mais tarde. Sobre os livros, a empresa afirmou que "como vendedora de livros, somos cientes da censura de livros ao longo da história e levamos isso a sério. Acreditamos que oferecer acesso ao discurso escrito é importante, incluindo livros que possam ser considerados questionáveis".

À BBC a empresa declarou que está "escutando o feedback" a respeito da venda de livros desse teor.

Em dezembro, a Amazon retirou de seu catálogo produtos decorados com imagens de Auschwitz, incluindo produtos natalinos, depois de uma reclamação do Memorial.

Ainda sobre a série Hunters, Karen Pollack, executiva-chefe da Fundação Educativa do Holocausto, afirmou à BBC que retratos fictícios como o feito pelo seriado dão um tom de "entretenimento superficial" ao tema.

"Temos uma responsabilidade real de proteger a verdade sobre o Holocausto", ela declarou. "Particularmente à medida que estamos mais distantes da história viva, (uma vez que) os sobreviventes são em menor número e mais frágeis".

"Não podemos fazer isso sozinhos", completou. "Precisamos depender das outras pessoas na sociedade que querem fazer o bem."

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