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Nove mortos em dois ataques na Alemanha com possível motivação xenófoba

20/02/2020 15h00

Hanau, Alemanha, 20 Fev 2020 (AFP) - A Alemanha ficou chocada nesta quinta-feira com um duplo ataque a bares que deixou nove mortos na cidade de Hanau, perto de Frankfurt, com claras motivações racistas, segundo as autoridades.

"O racismo é um veneno, o ódio é um veneno. E esse veneno existe em nossa sociedade", lamentou a chanceler Angela Merkel, evocando uma série de assassinatos e ataques das últimas duas décadas ligados ao terrorismo de extrema direita e fanatismo religioso.

O suposto agressor, Tobias R., um alemão de 43 anos, foi encontrado morto na manhã de quinta-feira em seu apartamento, ao lado do corpo de sua mãe, assassinada a tiros, levando a um total de 11 mortes.

As vítimas, algumas de origem ou nacionalidade estrangeira, tinham entre 21 e 44 anos, segundo a promotoria. Um bósnio e um búlgaro estão entre os mortos.

- Vítimas de origem curda -O pai do único suspeito foi encontrado ileso do lado de fora do apartamento.

A procuradoria antiterrorismo está investigando se o autor teve um cúmplice para realizar esses ataques, cujo motivo é "profundamente racista".

O primeiro massacre atingiu um bar de narguilé na noite de quarta-feira, à meia-noite, no centro de Hanau, uma cidade de cerca de 100.000 habitantes e a 20 km de Frankfurt.

Em seguida, o criminoso dirigiu-se para outro estabelecimento, o Arena Bar, no bairro de Kesselstadt, onde atirou nos que estavam na área de fumantes, matando outras cinco pessoas, incluindo uma mulher.

"As vítimas são pessoas que conhecemos há anos", incluindo dois funcionários da Arena, disse o filho do gerente do bar, ausente na hora do tiroteio, citado pela agência da DPA. "É um choque para todos".

Entre os mortos estão "várias vítimas de origem curda", de acordo com um comunicado da Confederação das Comunidades do Curdistão na Alemanha, que acusou os líderes alemães de não lutarem "decididamente contra o terrorismo de extrema direita".

O suposto autor, que formado em consultor financeiro após estudar administração, deixou um vídeo e um manifesto de 24 páginas, ao qual a AFP teve acesso.

Nele, ele faz uma convocação para "exterminar" a população de pelo menos 24 países, incluindo os do norte da África, do Oriente Médio, de Israel ou do sul da Ásia.

Ele apresenta teses raciais e garante que é vigiado pelos serviços secretos desde a infância. Os investigadores também encontraram seu carro, que continha munição e carregadores. O suspeito tinha uma licença de caça.

- Duas cenas de crime -Os investigadores também encontraram o automóvel do suspeito, que estava com munições e carregadores. De acordo com a imprensa, ele tinha licença de caça e é alemão.

Os líderes das principais instituições da União Europeia (UE) lamentaram nesta quinta-feira os ataques.

"Estou profundamente abalada com a tragédia", tuitou a presidente da Comissão Europeia, a alemã Ursula von der Leyen.

"Estamos unidos contra qualquer forma de ódio e violência", disse o presidente da Eurocâmara, David Sassoli.

O prefeito social-democrata de Hanau, Claus Kaminsky, relatou uma "noite terrível".

"É um autêntico cenário de horror", lamentou a deputada conservadora Katja Leikert.

- "Poderia ter sido eu" - Nesta quinta-feira, uma dúzia de pessoas se concentrou na frente dos dois estabelecimentos. Alguns choraram.

"Eu conhecia bem as pessoas que estavam nesse bar. Não é normal o que aconteceu, poderia ter sido eu", disse à AFP Ahmed, um morador de 30 anos do bairro.

"Eu não entendo, não temos problemas com o racismo aqui", disse outro morador, surpreso.

A associação Ditib, a principal organização da comunidade muçulmana turca na Alemanha, pediu mais proteção aos seus fiéis que "não se sentem mais seguros".

Os titulares da Comissão Europeia, a alemã Ursula von der Leyen; do Parlamento Europeu, David Sassoli; e do Conselho Europeu, Charles Michel, disseram que ficaram "chocados" com a tragédia e condenaram o "ódio" e a "violência".

- Terrorismo de extrema direita -A ameaça de um terrorismo de extrema direita preocupa cada vez mais as autoridades alemãs, sobretudo, desde o assassinato de um deputado alemão favorável aos migrantes, que pertencia ao partido da chanceler Angela Merkel, em junho do ano passado.

Na sexta-feira, 12 integrantes de um pequeno grupo de extrema direita foram detidos no âmbito de uma investigação antiterrorista. As autoridades acreditam que eles planejavam ataques em grande escala contra mesquitas para imitar o autor do atentado de Christchurch, na Nova Zelândia, que em março de 2019 matou 51 pessoas em duas mesquitas e transmitiu os massacres ao vivo.

Em outubro, um extremista que nega o Holocausto tentou atacar uma sinagoga em Halle. Como não conseguiu entrar no edifício religioso em que os fiéis estavam entrincheirados, ele atirou em um pedestre e no cliente de um restaurante de kebab e transmitiu o atentado ao vivo on-line.

Em Dresden, na ex-Alemanha Oriental, oito neonazistas estão sendo julgados há quase cinco meses por terem planejado ataques contra estrangeiros e políticos.

A associação Ditib, a principal organização da comunidade turca muçulmana na Alemanha, pediu mais proteção para seus fiéis que "não sentem mais segurança".

Várias homenagens às vítimas serão organizadas nesta quinta-feira em Hanau e também em Berlim diante do Portão de Brandemburgo.

Atualmente, o serviço de Inteligência monitora 50 pessoas vinculadas ao movimento de extrema direita, consideradas um "perigo para a segurança do Estado".

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