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Surdos que sofreram abuso sexual na Igreja Católica fazem denúncia na ONU

19/02/2020 15h56

Três surdos que foram vítimas de abusos sexuais durante a infância em instituições católicas na Argentina solicitaram uma audiência com o papa Francisco para pedir que ele cumpra suas promessas contra esse mal, na Igreja Católica.

Na véspera da viagem a Roma e ao Vaticano, as vítimas, que se consideram "torturadas", denunciaram seus agressores no Comitê contra a Tortura, das Nações Unidas, e no Comitê do Direito da Infância, em Genebra.

"No mundo, há muitos países onde estas coisas continuam acontecendo e ainda reina o silêncio", lamentou Daniel Sgardelis, de 45 anos, falando em libras durante sua visita a Genebra, no início desta semana.

Sgardelis é uma das vítimas de Nicola Corradi, um dos dois padres condenados em novembro na Argentina por violentar crianças surdas. Os sacerdotes foram condenados em novembro pela Justiça argentina a mais de 40 anos de prisão por abuso sexual e violação de crianças surdas em um internato em Mendoza.

Corradi, um pároco italiano que se mudou para a Argentina em 1970, foi condenado a 42 anos de prisão, e o argentino Horacio Corbacho, a 45 anos. Outros 15 acusados esperam julgamento pelo mesmo delito.

O Instituto Provolo de Mendoza, no oeste da Argentina, foi fechado em 2016, quando explodiu o escândalo. Segundo os processos, as vítimas foram violentadas com idades entre 4 e 17 anos.

Escândalo

Segundo a organização não governamental ECA ("Alto a los abusos del clero"), o padre Corradi havia sido denunciado no Vaticano por vítimas surdas-mudas italianas do Instituto de Verona antes de sua transferência para a Argentina.

Durante décadas, a Igreja acobertou esse tipo de abuso, transferindo os padres abusadores para outros países, uma prática à qual o papa Francisco prometeu pôr fim. "Quero dizer ao papa que temos a força para continuar lutando pela justiça", disse outra vítima surda, Ezequiel Villalonga, de 19.

Para o fundador da ECA, Peter Isely, o caso argentino é apenas um entre muitos. Ele disse estar convencido de que continuarão a aparecer denúncias em todo mundo. "Vão explodir mais. Na América Latina, África, Ásia. Isso é apenas o começo", afirmou. As vítimas esperam que Francisco cumpra suas promessas.

"O papa sabe que devem ser presos, mas, ainda assim, não faz nada. Gostaria de saber o motivo", reclama Claudia Labeguerie, uma vítima de 26 anos. "Ainda se cometem muitos abusos, ainda há muitas vítimas. As leis devem mudar", lamenta. As três vítimas ficarão em Roma de 20 a 22 de fevereiro.

Ezequiel Villalonga não sabe se o papa vai recebê-los, mas está satisfeito por ganhar seu julgamento. "Esperei muito tempo (...) e chorei muito. Mas, no tribunal, chorei de alegria e deixei de ser uma vítima", celebrou.

(Com informações da AFP)

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