'Amazônia foi amor à 1ª vista', diz italiana condencorada
"Foi amor à primeira vista", conta Evangelista, em entrevista à ANSA nesta terça-feira (18), um dia após ter recebido das mãos do presidente italiano, Sergio Mattarella, a medalha de Oficial da Ordem do Mérito da República por seu "constante empenho na defesa ambiental, na proteção das populações indígenas e no combate ao desmatamento".
A bióloga preside a associação Amazônia Milano Onlus, fundada em 2004 para oferecer saúde, educação, capacitação, trabalho e desenvolvimento sustentável aos nativos da comunidade Xixuaú, que ocupa um pedaço de mata preservada às margens do rio Jauaperi, afluente do rio Negro, na divisa entre Amazonas e Roraima.
A ligação de Evangelista com a maior floresta tropical do mundo começou no início dos anos 2000, quando ela fazia seu mestrado em biologia na Universidade de Roma. Em parceria com o Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), ela viajou ao Brasil para estudar a ariranha, mamífero com risco de extinção e característico dessa região, e logo se apaixonou.
"Cheguei como uma estudante interessada em fazer pesquisa científica para minha tese de mestrado e fiquei fascinada pela Amazônia imediatamente. Vim de um lugar, a Europa, onde não existe nada parecido", conta.
Encantada com a floresta e seus povos, Evangelista fundou uma associação sem fins lucrativos em 2004, em Milão, e passou os anos seguintes entre a Itália e a Amazônia. Até 2013, quando se casou com um ribeirinho, Francisco, e passou a morar no Xixuaú.
"Eu não me lembro de um momento exato em que decidi escolher a Amazônia. A vida me levou, e eu me envolvi com as comunidades locais. Foi trabalho, foi pesquisa, foi uma coisa social, pessoal", acrescenta a bióloga.
Ações - A ONG de Evangelista cria oportunidades sustentáveis de renda para os povos nativos e já viabilizou a construção de escolas, ambulatório, centro de informática e poços artesianos, além da instalação de painéis de energia solar e filtros de purificação de água.
Um dos projetos mais bem sucedidos da Amazônia Onlus é um programa de ecoturismo que leva viajantes dispostos a um contato íntimo com a natureza para o Xixuaú, acessível em um percurso de barco ou lancha pelo rio Negro a partir de Manaus, a cerca de 300 quilômetros de distância.
A iniciativa é administrada por uma cooperativa formada somente por ribeirinhos e que gera renda e trabalho para cerca de 50 famílias locais. A ONG ajudou na criação da cooperativa e ofereceu cursos de capacitação, como em gestão hoteleira e culinária, além de ter obtido recursos na Itália para a construção de uma pousada com cinco malocas de madeira com vista para o rio.
"Nosso trabalho é ficar por trás, por baixo, do lado, mas dizemos para os ribeirinhos: 'A frente é de vocês'", explica a italiana. A associação também tenta fortalecer cadeias produtivas, como a da castanha da Amazônia, que tem pouco impacto ambiental e cuja colheita muitas vezes é abandonada por causa do baixo preço de venda.
Outro objetivo da ONG é evitar o êxodo de nativos para áreas urbanas, onde eles frequentemente chegam sem preparação profissional e acabam caindo na miséria. "Na periferia de Manaus, ele não terá conhecimento nenhum. Mas em Xixuaú, ele é rei", diz Evangelista.
Incêndios - A bióloga admite que a atenção dada pela comunidade internacional aos incêndios na Amazônia pode ter influenciado o presidente da Itália a condecorá-la, mas ela acredita que Mattarella já vinha amadurecendo a ideia de destacar a questão ambiental com a medalha de Ordem do Mérito.
"O presidente tem uma preocupação com o meio ambiente, assim como com outras questões. Ele indicou pessoas envolvidas em vários temas, como migração, pobreza. É a indicação de que há pessoas trabalhando por causas que ele acha urgentes ou importantes para a coletividade", afirma Evangelista, que dedica a homenagem à equipe da associação e, principalmente, aos ribeirinhos.
Como a ONG atua em uma área muito isolada dentro da floresta, sua atividade não foi afetada pelos incêndios, e a bióloga não se vê ameaçada por um problema comum à região: o desmatamento desenfreado provocado por pecuaristas, garimpeiros e agricultores.
A realidade da Amazônia Onlus, nas palavras da própria Evangelista, é "pacífica", e seu relacionamento com as instituições está limitado ao nível do município. Enquanto isso, ela tenta mostrar que a proteção ambiental está diretamente ligada ao aspecto social e que a solução para garantir trabalho e renda aos povos amazônicos passa pela preservação da floresta, e não por sua destruição.
"Os próprios recursos naturais são o potencial econômico da floresta. Não precisa derrubá-la para colocar outro produto.
Existem várias amazônias, mas regiões desse tipo, com povos tradicionais e floresta de pé, têm um pacote pronto. As populações locais podem viver de forma muito digna", garante.
(ANSA)
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.