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1984: Banqueiro alemão Iwan Herstatt é condenado à prisão

Rolf Wenkel (mw)

16/02/2020 06h23

1984: Banqueiro alemão Iwan Herstatt é condenado à prisão - O banqueiro Iwan Herstatt é condenado, em 16 de fevereiro de 1984, a 4,5 anos de prisão por balanço fraudulento. Dez anos antes, o Kölner Bank, de sua propriedade, foi liquidado, com um rombo de 1,2 bilhão de marcos."Investimento não pode ser jogo de azar." Com esse slogan, o Kölner Bank procurava conquistar clientes no início dos anos 1970. Na ocasião, a instituição era o segundo maior banco privado da Alemanha, tendo à sua frente o banqueiro Iwan D. Herstatt. O que, porém, o banco fez com o dinheiro dos investidores, foi pura loteria.

Até 1968, aplicar em divisas dificilmente compensava para um banco, porque o chamado sistema Bretton-Woods controlava de perto as cotações das moedas mais importantes do mundo. A especulação só se tornou interessante a partir de 1971, quando se flexibilizou o câmbio e o dólar entrou, aparentemente, em queda livre.

Especulações

Nesse cenário, os seis corretores de divisas do Kölner Bank, todos com pouco mais de 20 anos, liderados por Daniel Dattel, que já tinha mais de 30, mostraram-se logo bem-sucedidos em suas especulações. Mudanças de centavos nas cotações rendiam, em uma noite, dezenas de milhares de marcos, desde que se aplicasse altas somas no negócio. Dinheiro que não pertencia ao banco, mas a seus investidores.

O sucesso de seus jovens profissionais na área de divisas levou o banco a descuidar-se. Até mesmo Iwan Herstatt passou a pôr dinheiro próprio na jogatina financeira, fosse através de contas particulares ou de contas de seu banco em Luxemburgo. Ainda hoje permanece sendo uma incógnita por que o sempre perspicaz banqueiro Herstatt perdeu naquela ocasião o seu instinto e não alertou sua equipe sobre eventuais perigos da especulação desenfreada.

Herstatt e seus clientes

Em seu livro Deutsche Pleiten (falências alemãs), o sociólogo Erwin K. Scheuch analisou assim o banqueiro alemão: "Iwan Herstatt não era qualquer um em Colônia. Era uma personalidade, estava sempre presente, fosse no Carnaval ou na platéia da Ópera. Era um especialista em kölsch, a cerveja típica, e em kölsch como modo de vida. Evidentemente ele também podia ser visto nos gramados de golfe. E seus clientes gostavam dele por seu modo de vida típico de um coloniano, com seu status social, e por seu considerável porte físico."

Herstatt tinha clientes ilustres, como o então arcebispo de Colônia, Joseph Höffner, o editor Alfred Neven DuMont, as prefeituras de Colônia e de Bonn, e até mesmo os bancos Raiffeisenbank e o Volksbank, pois o concorrente oferecia juros mais altos do que qualquer outro. Devido à pequena diferença entre os juros pagos aos investidores e os cobrados em créditos concedidos, a margem de lucro do Kölner Bank neste ramo era magra. Então em 1973, a situação piorou e o banco registrou prejuízo de 14 milhões de marcos no negócio.

Aposta errada

Isso não incomodou Herstatt, enquanto as aplicações em divisas corriam bem. Naquele mesmo ano, seus corretores de câmbio haviam faturado 63,8 bilhões de marcos – praticamente a metade do orçamento federal –, resultando num lucro de 48 milhões de marcos.

Mas aconteceu o que algum dia tinha de acontecer. Na virada de 1973 para 1974, o corretor-chefe Daniel Dattel apostou numa alta do dólar, diante da crise do petróleo. No entanto, a moeda americana caiu e Dattel viu-se, de repente, com uma bolada de dólares desvalorizados e outro monte de contratos a termo, que o obrigavam a comprar mais dólares. O banco acumulava reservas de dólares no valor de 8 bilhões de marcos; 1% de queda na cotação da moeda americana representava 80 milhões de marcos de prejuízo.

O rombo

Quando os auditores internos quiseram puxar o freio de emergência, já era tarde demais. Dattel e sua equipe haviam torrado 480 milhões de marcos em negócios de câmbio, inclusive fazendo aplicações através de suas esposas e testas-de-ferro. O rombo criado chegava a 1,2 bilhão de marcos. A informação sobre o endividamento custou a vazar, mas quando chegou ao conhecimento do mercado financeiro, espalhou-se rapidamente. Logo ninguém mais se dispôs a fechar negócios que aliviassem os riscos de quebra do banco coloniano.

"Em 10 de junho, fui informado de que os números fornecidos pelo departamento de negócios com divisas não estavam corretos", contou Herstatt, na época. Em maio, o banqueiro ainda dizia contar com lucro de 54 milhões de marcos. No mês seguinte, a previsão passara a prejuízo de 64 milhões.

Liqüidação

A 26 de junho, o Departamento Federal de Fiscalização Bancária decidiu liquidar o Kölner Bank. Imediatamente as portas das agências foram fechadas, deixando 52 mil clientes na mão. Era o maior escândalo financeiro da Alemanha desde a crise mundial de 1931.

Um mês depois da quebra, os 35 mil principais clientes receberam seu dinheiro de volta, a partir do fundo de emergência do sistema bancário alemão. O próprio Herstatt desembolsou também 30 milhões de marcos de seu patrimônio particular.

Saneamento

"Em minha opinião, o banco poderia com certeza ter sido salvo. Nosso maior acionista estava disposto a participar com vultosos recursos. Infelizmente, para os grandes bancos, seria demais pôr nossa instituição de novo em pé", comentou mais tarde Herstatt.

O acionista majoritário do Kölner Bank era Hans Gerling, presidente do Conselho Administrativo. Em outubro de 1974, ele ainda se comprometeu a pagar 210 milhões de marcos a credores de Herstatt. O pagamento foi garantido com a venda de 51% do capital da seguradora de Gerling, que assim perdeu o comando sobre sua própria empresa.

Condenação

Quase dez anos depois, a Justiça não acreditou no relato do banqueiro, que alegava ter sido pego de surpresa. Já em 1973, ele teria encoberto um rombo de 100 milhões de marcos no balanço de seu banco.

Em 16 de fevereiro de 1984, apenas 130 dias antes de o crime prescrever, Iwan D. Herstatt foi condenado a 4,5 anos de prisão pelo Tribunal de Colônia por falsificação de balanço. A pena, porém, ainda foi revista pela Corte Federal de Justiça, que a reduziu a dois anos, em liberdade condicional, por gestão fraudulenta. Em junho de 1995, aos 81 anos, o banqueiro morreu, insistindo em sua inocência.
Autor: Rolf Wenkel (mw)

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