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Trump propõe plano de paz no Oriente Médio ajustado aos interesses de Israel

29/01/2020 15h17

Lucía Leal, Washington, 28 jan (EFE).- O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, revelou nesta terça-feira um esperado plano para o Oriente Médio, considerado por ele como uma "solução de dois Estados realista", capaz de atender aos interesses de Israel e ainda oferecer aos palestinos soberania limitada ao futuro território do país.

A proposta foi imediatamente rejeitada pelas principais lideranças palestinas, que não foram ouvidas durante a elaboração do plano batizado pelo próprio Trump de "acordo do século".

O documento, de cerca de 80 páginas, daria a Israel o controle integral de Jerusalém, que seria a "capital indivisível" do país. Além disso, os israelenses poderiam anexar o Vale do Jordão, que ocupa 30% do território palestino da Cisjordânia, uma hipótese que a ONU considera ilegal.

"Minha proposta apresenta uma oportunidade com a qual os dois lados ganhariam, uma solução realista de dois Estados que resolve o risco que um Estado palestino geraria para a segurança de Israel", disse Trump durante a apresentação do plano.

MAPA DA FUTURA PALESTINA

Trump argumentou que o plano de paz, que demorou mais de dois anos para ser elaborado, é diferente dos apresentados por seus antecessores na Casa Branca porque contém mais detalhes técnicos para basear uma futura negociação com os palestinos.

"Essa é a primeira vez que Israel autorizou a publicação de um mapa conceitual que ilustra as concessões territoriais que eles estão dispostos a fazer para conseguir a paz", destacou Trump.

O mapa, publicado posteriormente por Trump nas redes sociais, mostra um Estado palestino quase completamente incrustado dentro de Israel - a única exceção é a fronteira de Gaza com o Egito.

A imagem já inclui a soberania israelense sobre o Vale do Jordão, um território fértil que faz fronteira com a Jordânia e dá acesso ao Mar Morto.

"Israel manterá o controle de segurança de toda área ao oeste do rio Jordão, o que nos dará uma fronteira oriental permanente para poder nos defender", comemorou o primeiro-ministro interino do país, Benjamin Netanyahu, que estava ao lado de Trump na apresentação do plano.

A anexação do Vale do Jordão foi, inclusive, uma promessa eleitoral do líder do Likud nas últimas eleições, vencidas por uma pequena margem pelo Azul e Branco, de Benny Gantz. No entanto, não houve acordo para a formação de um novo governo depois do pleito, e Israel voltará às urnas no próximo dia 2 de março.

O mapa contempla a conexão entre Gaza e a Cisjordânia por um túnel de alta velocidade. Os palestinos também teriam acesso aos portos de Haifa e Ashdod, além de ligações terrestres com a Jordânia.

O plano amplia Gaza com a criação de uma zona industrial e outra agrícola sem fronteira com o Egito, mas não exige que Israel acabe com nenhum assentamento em territórios ocupados da Palestina.

"A população israelense localizada em zonas que permanecem dentro do território palestino contíguo, mas que continuam sendo parte do Estado de Israel, devem ter a opção de seguir onde estão a não ser que decidam o contrário", indica o documento da Casa Branca.

JERUSALÉM INDIVISÍVEL

Trump deixou claro que a proposta propõe que Jerusalém seja a "capital indivisível" de Israel, mas sugere que os palestinos possam instalar a capital de seu futuro estado em Jerusalém Oriental.

O anúncio gerou confusão sobre o que de fato era o plano americano, mas o documento divulgado depois do pronunciamento de Trump esclarece que a capital palestina ficaria nos arredores de Cidade Santa, além das barreiras de segurança existentes, e poderia se chamar Al Quds (Jerusalém em árabe).

Além disso, o plano indica que os palestinos só teriam um Estado soberano se toparem ser um país completamente desmilitarizado, tendo apenas uma força encarregada da segurança interna e do combate ao terrorismo.

PRAZO DE QUATRO ANOS

Apesar de poucos considerarem que a ideia prospere, a ideia de Trump surpreendeu alguns analistas, que esperavam um documento menos ambicioso e com menos detalhes sobre os futuros Estados.

No entanto, muitos deles concordaram que o texto, apresentado cinco semanas antes das eleições de Israel e a nove meses do pleito presidencial nos EUA, é uma tentativa de Trump de ganhar mais apoio entre os eleitores evangélicos durante o julgamento do impeachment no Senado.

De quebra, o presidente americano ainda fortalece Netanyahu, importante aliado, e que pode perder o poder devido às recentes acusações de corrupção.

O presidente da Autoridade Nacional Palestina (ANP), Mahmoud Abbas, chamou o plano de "tapa do século" e disse "mil vezes não" à proposta. Trump, porém, confia que no prazo previsto e deu a ele quatro anos para mudar de ideia e sentar na mesa de negociação.

"Hoje mandei uma carta ao presidente Abbas. Expliquei a ele que o território reservado para seu novo Estado ficará aberto, sem modificações durante um período de quatro anos, nos quais os palestinos podem estudar o acordo, negociar com Israel e conseguir os critérios para ser um Estado", explicou Trump.

O presidente americano também prometeu aos palestinos investimentos de US$ 50 bilhões para duplicar o Produto Interno Bruto (PIB) do futuro país e criar 1 milhão de empregos. Em troca, exigiu um cessar-fogo com Israel, mudanças na estrutura de governo e a desmilitarização de Gaza.

"Realmente não importa o que digam os palestinos no curto prazo. Vamos manter essa opção aberta para eles durante quatro anos", disse o embaixador americano em Israel, David Friedman.

Um ponto-chave no plano elaborado pelo genro e assessor de Trump, Jared Kushner, era recrutar países árabes para que eles convençam os palestinos a negociar. Três reinos do Golfo Pérsico mostram apoio ao enviar embaixadores para a apresentação do acordo na Casa Branca: Omã, Bahrein e Emirados Árabes Unidos.

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