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Coronavírus: janela para brasileiros deixarem quarentena na China pode se abrir em oito dias

Um grupo de brasileiros se articula para deixar Wuhan assim que houver uma janela na quarentena imposta pelo governo chinês - EPA
Um grupo de brasileiros se articula para deixar Wuhan assim que houver uma janela na quarentena imposta pelo governo chinês Imagem: EPA

Matheus Magenta - Da BBC News Brasil em Londres

28/01/2020 16h39

Embaixada brasileira na China diz que governo chinês teria informado que o primeiro pré-requisito para autorizar qualquer pedido de saída da área isolada será o fim do período de 14 dias de quarentena domiciliar ? esta terça-feira é o sexto.

Confinado na cidade chinesa de Wuhan, epicentro do surto de coronavírus que já afeta 13 países, um grupo de brasileiros tenta se articular para conseguir deixar a cidade assim que houver uma janela na quarentena imposta pelo governo chinês.

Segundo a embaixada brasileira na China, o governo chinês informou a representantes de diversos países nesta segunda-feira (27/1) que o primeiro pré-requisito para autorizar qualquer pedido de saída da área da quarentena pela via terrestre será o fim do período de 14 dias de quarentena doméstica ? esta terça-feira é o sexto.

Não está claro ainda se haverá outras exigências.

Apesar da pressão internacional, até o momento não há informação de que o governo chinês tenha autorizado qualquer cidadão estrangeiro a deixar a quarentena.

O diretor-geral da OMS (Organização Mundial da Saúde), Tedros Adhanom Ghebreyesus, declarou não ver necessidade da retirada de estrangeiros do país, por estar confiante na capacidade da China de conter o avanço da doença.

Por outro lado, o presidente brasileiro, Jair Bolsonaro, chegou a dizer nesta terça que tem dúvidas se de fato os cidadãos brasileiros deveriam ser resgatados em áreas onde há casos da doença.

"Pelo que parece, tem uma família na região onde o vírus está atuando. Não seria oportuno retirar de lá, com todo o respeito. É o contrário. Não vamos colocar em risco nós aqui por uma família apenas", afirmou, em referência a três brasileiros que estão em isolamento nas Filipinas após passarem por Wuhan ? uma criança de 10 anos está com suspeita de ter contraído a doença.

A declaração revoltou brasileiros na cidade. "Enquanto outras nações soberanas trabalham pra tirar seus cidadãos da quarentena daqui, o nosso país largou mão. Que coisa mais insensível de se dizer", escreveu o estudante brasileiro Heros Martines, que vive há dois anos na cidade.

Em entrevista nesta terça-feira (28/1) à Rede Globo, o embaixador brasileiro em Pequim, Paulo Estivallet de Mesquita, afirmou que a China não autorizou voos para evacuação de cidadãos estrangeiros.

E disse ainda que as autoridades brasileiras agirão "assim que possível", quando a quarentena for suspensa pelo governo chinês.

Brasileiros isolados

Atualmente, há cerca de 70 brasileiros com residência em Wuhan, e mais da metade saiu antes do fechamento das saídas da cidade de quase 11 milhões de habitantes. Essa medida foi adotada no dia 22 a fim de tentar conter o avanço da doença, que matou ao menos 106 pessoas e infectou mais de 4 mil.

Ainda assim, segundo o prefeito de Wuhan, mais de 5 milhões já tinham deixado a cidade antes da quarentena, principalmente por causa do Ano Novo chinês, período em que milhões de pessoas viajam pelo país e para o exterior.

Há dezenas de instituições de ensino superior na cidade, e muitos dos brasileiros que vivem ali são estudantes universitários. A Embaixada do Brasil na China, em Pequim, afirma não ter informação de nenhum caso suspeito ou confirmado de contágio envolvendo brasileiros no país.

Morador de Wuhan há nove anos, o paulista José Renato Peneluppi Jr., 38, sentiu que a "situação estava degringolando" rapidamente na cidade a partir do fim de dezembro, com restrições à circulação, estabelecimentos fechados e risco de desabastecimento de alimentos e remédios.

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Sem qualquer sintoma, ele conseguiu deixar o país um dia antes do início da quarentena. "Quando bate um problema desse tamanho, você pode demorar a tomar uma decisão. Mas é preciso ficar atento. Vim acompanhando o noticiário, os comunicados oficiais e consegui sair na primeira oportunidade que surgiu."

Peneluppi Jr. afirma que os brasileiros em Wuhan se mantêm bastante organizados como uma rede de apoio por meio do aplicativo de mensagens WeChat. A maioria ali está à espera de uma articulação do governo brasileiro para retirar quem quiser sair dali.

Além do medo de contrair a doença, eles enfrentam dificuldades como o temor de desabastecimento, de ficarem sem dinheiro porque não estão trabalhando e o isolamento. Só deixam suas casas ou residências universitárias para ir ao mercado.

"Há uma rede de apoio forte porque se torna uma questão psicológica também. A pessoa está isolada por muito tempo, pode começar a colapsar. Por isso eles se dividem em tarefas, mantêm contato constantemente, se apoiam, trocam informações."

Wuhan tem vivido momentos de grande solidariedade. Além das redes de doações que têm se formado dentro da cidade, vídeos publicados em redes sociais nesta semana mostram uma onda de moradores gritando nas janelas "Wuhan jiayou", algo como "Força, Wuhan" ou "Siga em frente, Wuhan".

Há cerca de 300 cidadãos britânicos em Wuhan que também estão em busca de informação sobre uma possível janela para deixar a quarentena e cobram atitudes do Reino Unido.

Tom Williams e a mulher, Lauren, que é canadense, não veem a hora de deixar o local. Ela está no oitavo mês de gravidez e com medo de a doença também afetar o filho que espera ? ainda não há qualquer informação disponível sobre um eventual impacto da doença em mulheres grávidas.

"Qualquer orientação sobre o que está acontecendo (para a saída dos estrangeiros) já seria ótima para conseguirmos nos organizar", afirmou ele.

Wuhan isolada

Conhecida coloquialmente como a "panela da China" por suas altas temperaturas, sobretudo no verão, Wuhan é um importante ponto de conexão da rede de transporte do país: fica a poucas horas de trem das cidades mais importantes, o que torna a cidade estratégica para a infraestrutura ferroviária de alta velocidade.

Além disso, a cidade tem um aeroporto que a conecta com todas as regiões do mundo, direta ou indiretamente.

Justamente o tamanho e a importância econômica de Wuhan explicam em parte por que o vírus viajou tão rapidamente no sudeste da Ásia e até chegou aos Estados Unidos.

Segundo especialistas, embora o vírus possivelmente tenha se originado em um mercado local, é o fluxo de pessoas que entra e sai de Wuhan que causou sua rápida disseminação.

Por isso, as autoridades decidiram adotar uma quarentena na cidade a fim de conter o avanço da doença. Os sistemas de transporte público interno também foram suspensos.


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