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Tiroteios deixaram seis mortos dentro de presídios de Pernambuco em 2019

Presídio de Itamaracá, em Pernambuco - Divulgação/Defensoria Pública
Presídio de Itamaracá, em Pernambuco Imagem: Divulgação/Defensoria Pública
do UOL

Alex Tajra e Luís Adorno

Do UOL, em São Paulo

26/01/2020 04h00Atualizada em 26/01/2020 10h49

Resumo da notícia

  • Em 2019, seis pessoas morrem em presídios de Pernambuco
  • Dos seis casos, quatro foram em prisão que fica a 45 quilômetros da capital

Troca de tiros dentro de penitenciárias no Brasil não é um cenário comum, mas acontecimentos em Pernambuco fogem à regra. Em 2019, 21 pessoas foram baleadas em presídios da região metropolitana do Recife. Desse total, seis morreram. Outras 15 ficaram feridas.

O levantamento, feito pela plataforma Fogo Cruzado, foi obtido com exclusividade pelo UOL. Em todos os casos registrados no ano passado, apenas um teve presença de agentes de segurança. Nos demais, os tiroteios ocorreram entre detentos.

Os seis mortos de PE

  • 13/02 - Um morto

Por volta das 21h daquele dia, alguns presos tentaram fugir do presídio Professor Barreto Campelo, em Itamaracá —a cerca de 45 quilômetros do Recife—, mas foram flagrados por policiais militares que faziam patrulha no entorno do local.

Segundo a PM, houve troca de tiros. Um policial militar foi baleado e morreu no hospital do município.

  • 12/03 - Um morto

Durante uma briga entre detentos, um dos presos foi morto a tiros no presídio Juiz Antônio Luiz Linsde Barros, no complexo de Curado, na zona oeste do Recife.

Segundo o governo de Pernambuco, no entanto, a unidade prisional estava sob controle.

  • 28/04 - Um morto

Dois meses depois de um PM ter morrido no presídio de Itamaracá, um detento foi assassinado a tiros no mesmo local, durante uma briga entre presos.

De acordo com o governo, o principal suspeito do crime foi identificado e assumiu a autoria do assassinato.

  • 30/05 - Um morto

Um preso foi morto e outros 10 ficaram feridos em um tiroteio ocorrido no complexo prisional do Curado, zona oeste do Recife. Segundo o governo, novamente após uma briga entre detentos.

Após o ocorrido, o secretário de Justiça de Pernambuco, Pedro Eurico, afirmou à imprensa que houve um conflito individual. O secretário não explicou, porém, como o armamento entrou na prisão.

  • 26/06 - Um morto

Novamente no presídio de Itamaracá, um preso morreu e outros dois ficaram feridos numa troca de tiros. Desta vez, o governo estadual apontou como causa do crime o tráfico de drogas que ocorria dentro do presídio.

  • 08/07 - Um morto

De novo em Itamaracá, um homem foi morto ao ser baleado, na barriga, por um outro detento. Segundo o governo estadual, houve uma rixa entre presos.

Itamaracá: afastado e com estrutura precária

Construído em um local de difícil acesso, o presídio Professor Barreto Campelo, na Ilha de Itamaracá, foi palco de quatro das seis mortes contabilizadas nesta reportagem.

Os especialistas ouvidos pelo UOL apontam que o fato de o presídio ser afastado e ter uma estrutura antiga e precária contribuem para que seja um local mais propício à violência.

"A fiscalização é difícil. Saber o que está acontecendo lá dentro também é difícil", diz Edna Jatobá, coordenadora executiva do Gajop (Gabinete Assessoria Jurídica Organizações Populares).

"Quando acontece uma morte, uma briga, ficamos sabendo pelos familiares. Ainda assim com muito desencontro de informação. No [Complexo do] Curado, por exemplo, que fica no meio da cidade, qualquer coisa que acontece as organizações de direitos humanos já vão para lá, saber o que aconteceu, cobrar satisfações. Não é assim em Itamaracá", comenta.

Já Wilma Melo, especialista em Políticas Públicas e Gestão de Serviços Sociais pela UFPE (Universidade Federal de Pernambuco), aponta como principal problema do presídio sua estrutura precária. "Aquele lugar é uma bomba-relógio", diz.

"Aqui [Pernambuco] temos um problema muito forte de sucateamento das unidades. [A falta de estrutura e a superlotação] vão criando mais animosidades entre os presos, e grupos vão se formando para superar as dificuldades", argumenta Melo.

A Seres (Secretaria Executiva de Ressocialização), do governo de Pernambuco, afirmou que encerrou o ano passado com redução de 33% no número de crimes violentos letais em prisões do estado na comparação com 2018.

De acordo com o governo, "foram intensificadas as apreensões de ilícitos nas unidades prisionais e as revistas nas portas de entrada com equipamentos como o scanner corporal, detectores e portais de detecção de metal, entre outros equipamentos".

Problema carcerário

Para Edna Jatobá, não há como responsabilizar os detentos pelas mortes, já que eles estão sob a tutela do próprio Estado. "Como o Estado permite a existência do tráfico dentro das prisões? E como permite que existam detentos armas de fogo?"

Wilma Melo, por sua vez, cita as más condições para os detentos nos presídios. "Foi um processo de colocar os presos dormindo uns em cima dos outros, as celas foram totalmente transformadas em barracos. Tudo isso representa a falta de políticas públicas."

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