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Banqueiro envolvido em "Luanda Leaks" teria cometido suicídio, diz polícia

24/01/2020 08h44

A polícia divulgou nesta quinta-feira (23) um comunicado que esclarece as circunstâncias da morte do banqueiro português Nuno Ribeiro da Cunha. O gestor da conta da petrolífera angolana Sonangol estava envolvido no escândalo de corrupção Luanda Leaks.

Luciana Quaresma, correspondente da RFI em Lisboa

Segundo um comunicado da Polícia de Segurança Pública de Lisboa, o diretor do EuroBic foi encontrado morto na garagem da sua casa no bairro do Restelo, por volta das 21h30 de quarta-feira (22). Ele teria se enforcado e chegou a ser socorrido, de acordo com a polícia.

A Polícia portuguesa chegou a descartar o suicídio e levou em consideração a hipótese de tentativa de homicídio. No dia 7 de janeiro, o banqueiro de 45 anos tinha sido encontrado com ferimentos graves em sua na casa de veraneio no Alentejo. Ele foi encontrado pela sua empregada doméstica com golpes nos pulsos e perfuração no abdômen.

Apesar de ter declarado à polícia judiciária que tentou acabar com a própria vida, os indícios recolhidos pelos policiais indicavam que ele poderia ter sido alvo de tentativa de homicídio. Os indícios encontrados em sua casa de Lisboa, entretanto, apontam para suicídio. A polícia indicou ainda no comunicado que a vítima já teria tentado se suicidar uma vez neste mês.

Quem era Nuno Ribeiro da Cunha?

O gestor português de 45 anos, pai de 4 filhos, era o banqueiro responsável pelas grandes contas no banco EuroBic, entre elas a de Isabel dos Santos, filha do ex-Presidente de Angola e principal acionista do Eurobic. O gestor foi indiciado pelas autoridades angolanas no escândalo Luanda Leaks, no dia 22 de Janeiro, no mesmo dia em que foi encontrado morto.

A morte de Nuno Ribeiro da Cunha surge em um momento em que estão sob suspeita transferências bancárias da Sonangol de € 52 milhões, realizadas em 16 de Novembro de 2017 (um dia após a exoneração de Isabel dos Santos da petrolífera angolana Sonangol), para uma conta bancária em Dubai.

O processo de investigação do EuroBic, banco em que Nuno Ribeiro da Cunha era diretor, explodiu depois que um dos fundadores da Plataforma 'Protect Whistleblowers in Africa' revelou que foi um único denunciante que entregou os 715 mil arquivos sobre os negócios de Isabel de Santos, e que deu origem à investigação Luanda Leaks. Os documentos do Luanda Leaks começaram a chegar à plataforma no fim de 2018 e início de 2019.

A informação mostrava violações de interesse público e foi compartilhada com o Consórcio Internacional de Jornalistas de Investigação (ICJ), que revelou que, em menos de 24 horas, a conta da empresa angolana no EuroBic Lisboa, que tem Isabel dos Santos como uma das principais acionistas, foi esvaziada e ficou com saldo negativo no dia seguinte à demissão da empresária da petrolífera.

Estas operações levaram à abertura de um processo criminal em Angola e também estão sendo investigadas pela justiça portuguesa. Depois de falar com o denunciante, a organização sem fins lucrativos decidiu enviar todo o conteúdo disponível para o consórcio de jornalistas que, por sua vez, decidiu divulgar os esquemas financeiros de Isabel dos Santos e do marido, Sindika Dokolo, acusados de retirar dinheiro público angolano utilizando paraísos fiscais.

Saída de Isabel dos Santos é definitiva

Isabel dos Santos detém 42,4% das ações do EuroBic, mas devido às revelações da investigação jornalística Luanda Leaks sobre os seus negócios, a empresária decidiu vender a sua participação no banco. Segundo o EuroBic, a saída da empresária é "definitiva e irá concretizar-se o mais rapidamente possível".

A venda da sua participação acontece porque é preciso "salvaguardar a confiança na instituição". O Banco de Portugal já foi informado desta decisão. Ao mesmo tempo, o banco anunciou que "os administradores não executivos que exercem funções na estrutura de Isabel dos Santos apresentaram a renúncia aos seus cargos no EuroBic com efeitos imediatos".

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