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Câmara se consolida como instituição menos confiável para os paulistanos

Luis França/Divulgação/Câmara Municipal de São Paulo
Imagem: Luis França/Divulgação/Câmara Municipal de São Paulo
do UOL

Alex Tajra

Do UOL, em São Paulo

22/01/2020 10h00Atualizada em 22/01/2020 13h10

Resumo da notícia

  • Câmara é a instituição em que os paulistanos menos confiam desde 2017
  • Para a Rede Nossa São Paulo, dado mostra que a "democracia está perdendo"
  • TCM e Poder Judiciário completam a lista das menos confiáveis, segundo pesquisa
  • Em contrapartida, Metrô e Sabesp foram apontadas como as instituições mais confiáveis

Pelo terceiro ano consecutivo, a Câmara Municipal de São Paulo foi apontada pelos paulistanos como a instituição menos confiável da capital. Pesquisa da Rede Nossa São Paulo em parceria com o Ibope divulgada hoje mostrou que dois em cada dez pessoas dizem confiar no Parlamento da capital.

O levantamento, que leva em conta o ano de 2019, foi feito pela organização da sociedade civil em parceria com o Ibope. Foram ouvidas 800 pessoas entre os dias 5 e 19 de dezembro do ano passado.

A Câmara ficou atrás de instituições como:

  • TCM (Tribunal de Contas do Município): 24%
  • Poder Judiciário: 30%
  • Subprefeituras: 31%
  • Ministério Público: 33%
  • Prefeitura: 34%
  • CET (Companhia de Engenharia de Tráfego): 35%

Apesar de continuar na lanterna, a Câmara viu seu desempenho melhorar em comparação com 2017, quando 11% dos paulistanos diziam confiar na instituição, e 2018, ano em que obteve 21%.

Em nota, a presidência da Câmara —ocupada pelo vereador Eduardo Tuma (PSDB)— avalia que a pesquisa mostra ser "preciso manter o empenho para melhorar ainda mais a relação com a sociedade". A instituição afirma que tem criado "uma nova política de transparência e comunicação para aproximar da Casa a população", apontando ações como criação de canal direto no aplicativo WhatsApp, transmissões ao vivo pelas redes sociais e aumento de 500% no número de alcançados no Facebook e de 9.000% no Instagram.

Perguntados sobre a atuação específica da Câmara, sem levar em consideração a confiança, apenas 8% das pessoas ouvidas avaliam os vereadores como ótimos ou bons. Já 50% apontam a atuação do Parlamento como ruim ou péssima.

Na outra ponta, os paulistanos apontaram o Metrô como instituição em que mais confiam.

  • Metrô: 72%
  • Sabesp (Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo): 58%
  • SPTrans (empresa que gerencia o sistema de ônibus da capital): 51%
  • Conselho Tutelar: 48%
  • Polícia Militar: 44%
  • Guarda Municipal: 42%

"Democracia perde"

Para o coordenador-geral da Rede Nossa São Paulo, Jorge Abrahão, a pesquisa mostra que há "uma distância muito grande das instituições em relação à população". "Esse é um tremendo alerta para termos cuidado com a democracia.

"À medida que as pessoas não reconhecem ou desconfiam das instituições, é a democracia que acaba perdendo. É um aviso para que a Câmara tome atitudes para mudar isso, propor programas de aproximação, diálogo e escuta. Esse é o caminho", diz Abrahão.

Sem vida política

O distanciamento da população para com as instituições, principalmente as de representação, é perceptível em vários dados da pesquisa. Segundo o estudo, apenas 4% dos entrevistados participam de atividades na Câmara.

A despeito de 36% dos entrevistados afirmarem que lembram seu voto para vereador na última eleição, a maioria (57%) diz não participar de nenhum aspecto da vida política do município.

Os partidos políticos também foram avaliados de forma negativa pelos entrevistados. Quando questionados sobre qual instituição contribui mais para sua qualidade de vida, apenas 2% dos entrevistados apontaram para os partidos. A mais citada nesse item foram as igrejas, com 22%.

Para o vereador paulistano Gilberto Natalini (PV), os partidos políticos se transformaram em "aglomerados de pessoas em torno de interesses próprios". Por isso, a desconfiança e a distância dos moradores em relação às siglas. "[Os partidos] são uma miscelânea que não tem posição, não tem ideologia, e muitas vezes eles têm interesses não republicanos", comenta.

Em relação à distância da população em relação ao Parlamento municipal, Natalini afirma que os eleitores deveriam se empenhar mais na fiscalização dos políticos e do poder público como um todo. "Existe um problema na política eleitoral do país. A pessoa vota, coloca o sujeito lá e depois some. As pessoas são omissas nessa participação. Às vezes, temos audiências públicas importantíssimas e não aparecem nem 50 pessoas para discutir", diz.

Sobre as instituições ligadas à Justiça —TCM e Poder Judiciário— fazerem companhia à Câmara no fim da lista, Abrahão avalia que "há um impacto que vem do cenário nacional". "Existe a questão do STF [Supremo Tribunal Federal], da Lava Jato. Isso gerou um sentido de que a Justiça pode não estar sendo igual para todos, e levantou uma desconfiança em relação aos processos", pontua.

O que acabava de alguma forma recaindo sobre o Executivo e o Legislativo, hoje incorpora também no Judiciário por conta das decisões que ele tem tomado que impactam a vida de todos"
Jorge Abrahão, coordenador-geral da Rede Nossa São Paulo

22.dez.2017 - Fachada do Tribunal de Contas do Município de São Paulo - Adriano Vizoni - 22.dez.2017/Folhapress - Adriano Vizoni - 22.dez.2017/Folhapress
Fachada do Tribunal de Contas do Município de São Paulo
Imagem: Adriano Vizoni - 22.dez.2017/Folhapress

Ricos confiam menos na Câmara

O recorte de classe da pesquisa mostra que a desconfiança em relação aos políticos da cidade é maior entre os ricos (66% dos entrevistados das classes A e B afirmam não confiar na Câmara). Entre os mais pobres (classes D e E), esse índice cai para 56%.

"Os pobres acompanham mais o trabalho dos vereadores. Quem mais precisa da Câmara é o pobre, o rico não precisa, tem tudo", diz à reportagem o vereador Alfredinho (PT), que está em seu terceiro mandato na Câmara.

Para o parlamentar, a desconfiança dos paulistanos em relação à atuação do legislativo da capital é reflexo da "demonização" da política e dos políticos. "Não estou falando que a Câmara não cometa erros. Existe quem cometa erros no setor privado, no setor público, no jornalismo. Isso é uma coisa da sociedade, mas o Parlamento acaba sendo o mais exposto."

Para Natalini, a população tem razão no tom crítico aos vereadores. "Muitos parlamentares têm práticas absolutamente heterodoxas na política. Negociatas, troca-troca, fala uma coisa e faz outra...e o povo enxerga. Os que não fazem isso acabam pagando pelos que fazem", diz.

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