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MPF denuncia jornalista Glenn Greenwald e outras 6 pessoas por invasão de celulares de autoridades

21/01/2020 12h56

Por Ricardo Brito

BRASÍLIA (Reuters) - O Ministério Público Federal em Brasília apresentou denúncia nesta terça-feira contra o jornalista Glenn Greenwald e outras seis pessoas por envolvimento no cometimento de crimes relacionados à invasão de celulares de autoridades brasileiras, informou o órgão em comunicado e na íntegra da acusação.

Para o MPF, ficou comprovado que Greenwald, embora não fosse alvo das investigações e nem tenha sido indiciado pela Polícia Federal que apurou o caso, "auxiliou, incentivou e orientou o grupo durante o período das invasões".

Em email à Reuters, o jornalista afirmou que a denúncia é uma "tentativa óbvia de atacar a imprensa livre em retaliação às revelações que relatamos sobre o ministro Moro e o governo Bolsonaro".

O MP acusou os denunciados --que em sua maioria foram presos durante as investigações da Operação Spoofing, deflagrada pela Polícia Federal-- e pede a condenação por interceptações telefônicas e de outros aparelhos obtidos de forma ilegal. Com exceção do jornalista, os demais também vão responder pelo crime de lavagem de dinheiro. Greenwald também foi denunciado pelo crime de associação criminosa.

O conteúdo das mensagens foi objeto de uma série de reportagens desde junho do ano passado pelo site The Intercept Brasil, editado por Greenwald, em colaboração com outros veículos e levantou a suspeita de que procuradores da República e o hoje ministro da Justiça, Sergio Moro, quando atuava como juiz da operação Lava Jato, teriam atuado de forma irregular. Eles negam.

Segundo a acusação, na análise de um computador apreendido com autorização judicial foi encontrado um diálogo entre o jornalista e outro denunciado. A conversa, disse a peça acusatória, ocorreu logo após a invasão do celular de Sergio Moro.

No áudio, segundo o MPF, esse denunciado deixa claro que as invasões estavam sendo realizadas e pede orientações ao jornalista a respeito da possibilidade de "baixar" o conteúdo das mensagem do Telegram de outras pessoas antes da publicação pelo The Intercept Brasil.

"Greenwald, então, indica que o grupo criminoso deve apagar as mensagens que já foram repassadas para o jornalista de forma a não ligá-los ao material ilícito, 'caracterizando clara conduta de participação auxiliar no delito, buscando subverter a ideia de proteção a fonte jornalística em uma imunidade para orientação de criminosos'", diz o MPF na acusação, ao sustentar que o jornalista, diferentemente da tese por ele apresentada, recebeu o material de origem ilícita, enquanto a organização criminosa ainda praticava os crimes.

O procurador da República no Distrito Federal Wellington Divino de Oliveira, responsável pela denúncia, vai encaminhar cópia da denúncia à Procuradoria-Geral da República a fim de subsidiar eventual pedido de revogação de liminar concedida pelo Supremo Tribunal Federal (STF) que impede investigações contra o jornalista.

No email à Reuters, Greenwald afirma ainda que a denúncia é também um ataque ao STF, que determinou em liminar que ele não poderia ser investigado, assim como às conclusões da Polícia Federal, que não apontaram indício de que ele tenha cometido crime.

"Há menos de dois meses, a Polícia Federal --examinando as mesmas evidências citadas pelo Ministério Público-- estabeleceu explicitamente que, não apenas nunca cometi qualquer crime, mas também que eu exerci extrema cautela como jornalista e nunca me aproximei de qualquer participação. Até mesmo a Polícia Federal, sob comando do ministro Moro, disse o que é claro para qualquer pessoa racional: não fiz nada mais do que o meu trabalho como jornalista --eticamente e dentro da lei", escreveu o jornalista em sua resposta, enviada em inglês.

"Não seremos intimidados por essas tentativas tirânicas de silenciar jornalistas. Estou neste momento trabalhando em novas reportagens e continuarei a fazê-lo", acrescentou.

(Reportagem adicional de Anthony Boadle)

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