Começa julgamento do impeachment de Trump no Senado dos EUA
Washington, 21 Jan 2020 (AFP) - O histórico julgamento político contra o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, começou nesta terça-feira (21) no Senado, com um debate sobre as regras do processo que será analisado por uma bancada na qual os republicanos são a maioria.
Quatro meses depois do surgimento do escândalo ucraniano e a dez meses das eleições presidenciais, os 100 senadores se reuniram no Congresso para iniciar um julgamento que, muito provavelmente, terminará com um resultado favorável a Trump, já que o republicanos possuem 53 cadeiras nesta casa legislativa.
Os senadores devem decidir em um tribunal que tem à frente o presidente da Corte Suprema, John Roberts, sobre as acusações feitas a Trump no mês passado pela Câmara de Representantes, controlada pelos democratas: abuso de poder e obstrução ao Congresso.
Trump se tornou o terceiro presidente na história do país a ser julgado num processo de impeachment, depois de Andrew Johnson, em 1868, e de Bill Clinton, em 1999.
O líder da maioria republicana no Senado, Mitch McConnel, apresentou um projeto de resolução sobre o procedimento com o qual busca estabelecer restrições às provas da investigação e à participação de testemunhas, além de buscar acelerar o processo.
"A estrutura básica que estamos propondo é igualmente justa e equilibrada", disse McConnell.
"Não há razão para que a votação desta resolução possa ser algo remotamente partidário", acrescentou.
O roteiro processual sugere que os argumentos serão apresentados em sessões de oito horas para a acusação, um tempo equivalente para a defesa e depois 16 horas para os interrogatórios, um horário que foi adaptado no último minuto após a proposta inicial de sessões noturnas de 12 horas, fortemente criticadas pelos democratas.
McConnell também deixou claro que pretende bloquear qualquer tentativa dos democratas de mudar seu roteiro.
Segundo a acusação, Trump tentou pressionar a Ucrânia a interferir a seu favor nas eleições de 2020, sugerindo ao presidente do país europeu que investigasse os negócios do filho de Joe Biden, um dos pré-candidatos democratas com mais chances de enfrentá-lo no pleito presidencial de novembro.
Depois, o presidente americano teria obstruído o trabalho de investigação no Congresso ao recusar que seus principais assessores testemunhassem na fase de investigação.
De acordo com os democratas que lideraram a investigação, Trump pressionou a Ucrânia retendo cerca de 400 milhões de dólares em ajuda militar para o país, que está em conflito com rebeldes pró-Rússia no leste de seu território.
- Testemunhas importantes -Os democratas não pouparam críticas à forma como o processo está sendo conduzido por McConnell. O legislador democrata Adam Schiff, responsável pela acusação contra Trump, disse que os republicanos buscam manter um processo "fraudado"
"Esse é o processo para quem não quer que o povo americano veja as evidências", disse Schiff, que liderou a investigação contra Trump na Câmara de Representantes.
As regras de McConnell visam fazer com que o caso "seja despachado o mais rápido possível para encobrir seus crimes", acrescentou o democrata.
Apesar de os republicanos cederem no cronograma e terem mostrado flexibilidade para a apresentação das evidências da investigação no início do julgamento como a oposição desejava, não há sinais de que McConnell ceda às demandas democratas para a convocação de testemunhas.
Os democratas querem o testemunho de funcionários do alto escalão do governo, como o chefe de gabinete de Trump, Mick Mulvaney, e o ex-assessor de Segurança Nacional John Bolton, com a expectativa de que eles forneçam detalhes das conversas do presidente com o governo da Ucrânia.
Bolton disse que estava disposto a testemunhar, se convocado.
"Procurar essas testemunhas pode atrasar o julgamento e nos arrastar para uma complexa batalha legal sobre o privilégio profissional", defendeu McConnell. Isso pode ter repercussões permanentes sobre a essência dos Poderes do Estado e a "instituição presidencial".
Pat Cipollone, representante legal de Trump, criticou o processo e disse que um julgamento político partidário é como "roubar uma eleição".
Trump, que está em Davos para participar do Fórum Econômico Mundial, descreveu novamente o processo contra ele como "uma caça às bruxas que vem ocorrendo há anos e, francamente, é vergonhoso".
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