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Netanyahu participará da abertura do escritório comercial do Brasil em Jerusalém

14/12/2019 14h12

O escritório de negócios da Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex-Brasil) em Jerusalém será oficialmente aberto neste domingo (15), com a presença do primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, e do deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), filho do presidente Jair Bolsonaro, que está em Israel em visita oficial pela Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional da Câmara, que preside.

Correspondente da RFI em Israel

O escritório vai lidar com promoção de negócios, investimento, tecnologia e inovação entre os dois países. Ele funcionará no Parque Industrial Har Hotzvim e contará com três funcionários, um brasileiro e dois locais. A inauguração formal prevê almoço comemorativo e discursos de Netanyahu, Eduardo Bolsonaro e Sergio Segovia, presidente da Apex-Brasil. Depois, haverá um painel sobre "Perspectivas de comércio e investimento entre Brasil e Israel" com Ami Appelbaum, chefe-cientista da Autoridade de Inovação de Israel, e outros convidados.

Assim como o Brasil, os governos de Honduras e da Hungria abriram escritórios comerciais similares, nos últimos meses, mas com status diplomático, ao contrário da Apex-Brasil, que não terá esse status. O presidente hondurenho, Juan Orlando Hernandez, afirmou que o escritório seria apenas o "primeiro passo" em direção à transferência da embaixada de seu país para Jerusalém, o que poderia acontecer nas próximas semanas.

O governo brasileiro, no entanto, ainda não anunciou a transferência da embaixada, como prometido pelo presidente Bolsonaro durante sua visita a Israel, em abril deste ano, e durante sua campanha presidencial. Há duas semanas, no evento de lançamento do partido Aliança Pelo Brasil, o presidente Bolsonaro reafirmou que ainda deseja transferir a embaixada, mas não apontou uma data: "É um simbolismo apenas, mas que vale muito para quem acredita em Deus. Vamos atingir esse objetivo sem traumas", disse Bolsonaro.

No dia 6 de dezembro, o deputado Eduardo Bolsonaro deu uma entrevista ao canal 11 da TV israelense afirmando que a transferência pode acontecer em 2020: "Temos que ser muito responsáveis neste processo. Eu costumo dizer que só temos uma bala e não podemos errar o alvo. No ano que vem, talvez vejamos toda a embaixada mudando para Jerusalém".

Quando o repórter perguntou se isso já era certo, ele tergiversou: "Não posso garantir, mas eu realmente, realmente espero que sim".

A abertura de um escritório comercial em Jerusalém seria uma "saída diplomática" para agradar a base evangélica do governo e, ao mesmo tempo, não melindrar países árabes, que mantêm rico relacionamento comercial com o Brasil. Eles são grandes compradores de carne bovina e de frango do Brasil e representaram 4,8% das exportações brasileiras em 2018. À TV Record, Bolsonaro disse, em abril, que tinha feito uma promessa de campanha, mas que, depois viu "a dificuldade". "Não é uma coisa tão simples assim", afirmou.

Motivação ideológica

A criação do escritório parece ter motivação ideológica, já que o relacionamento comercial entre os dois países é diminuto. Israel representa apenas 0,17% das exportações do Brasil. Mas pode melhorar a balança comercial entre Brasil e Israel, que é negativa para o Brasil. Os brasileiros importam muito mais de Israel (0.68%) do que exportam (0,17%). O déficil da balança comercial foi de US$ 770 milhões entre janeiro e novembro de 2019.

O programa da inauguração do escritório não indica a presença do embaixador do Brasil em Israel, o diplomata Paulo César de Vasconcellos, há mais de dois anos no posto. Vasconcellos também não participou de uma visita de Eduardo Bolsonaro, no dia 4 de dezembro, a uma vinícula em Psgaot, a 17km de Jerusalém, considerado um assentamento israelense na Cisjordânia.

Recentemente, o jornal Folha de S. Paulo revelou que o presidente Bolsonaro decidiu indicar o militar Paulo Jorge de Nápolis para substituir Vasconcellos, que teria se manifestado contra a transferência da embaixada para Jerusalém. Nápolis foi adido militar na Embaixada do Brasil em Tel Aviv entre 2013 e 2015 e hoje é diretor de marketing no Brasil da empresa israelense de defesa Israel Aerospace Industries (IAI).

Embaixadas em Jerusalém

Nenhum país mantinha embaixada em Jerusalém até abril de 2018, quando o governo do presidente Donald Trump transferiu oficialmente sua representação diplomática para Jerusalém, após reconhecer a cidade como capital de Israel - passo polêmico com repercussões internacionais. A medida quebrou com a tradição americana de neutralidade diplomática no conflito entre israelenses e palestinos, foi criticada por grande parte da comunidade internacional e pela ONU e levou a protestos palestinos.

Israel esperava que outros países aliados seguissem a iniciativa dos EUA, mas apenas a Guatemala o fez. O Paraguai chegou a realizar a inauguração festiva de uma embaixada em Jerusalém a mando do ex-presidente Horacio Cartes em maio de 2018. Mas, depois da eleição de Mario Abdo Benítez, três meses depois, a representação diplomática voltou a Tel Aviv.

Outros países, como Hungria e Honduras, apenas abriram escritórios de negócios em Jerusalém. República Tcheca e Austrália inaugurararam escritórios similares, mas sem status diplomático, o que prometem também fazer em breve Eslováquia e Ucrânia.

Israel X Palestina

Israel considera Jerusalém sua "capital eterna e indivisível" e é lá que está o Knesset (o Parlamento) e todos os órgãos de governo. Já os palestinos reivindicam Jerusalém Oriental como capital do Estado palestino.

Segundo resolução da ONU de 1947, Jerusalém deveria ser uma cidade internacionalizada e desmilitarizada. A maior parte da comunidade internacional considera que a cidade está em disputa e que deveria servir como capital de Israel e da Palestina após um acordo de paz que estabelecesse a criação de dois Estados nacionais adjacentes.

O governo brasileiro só possui um escritório de fomento comercial como o de Jerusalém. Ele fica em Taiwan, na cidade de Taipé, que o Brasil reconhece como sendo território da China. Taiwan se considera um Estado independente, mas a China insiste que se trata de território chinês.

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