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Nova geração vai à luta pelo futuro do Reino Unido

Charlotte Potts (md)

11/12/2019 07h14

Ativistas se mobilizam para convencer os mais jovens a participar das eleições antecipadas, consideradas históricas. Grande parte dos britânicos entre 18 e 29 anos vota em partidos mais à esquerda e é contra o Brexit.A luta por votos começou em setembro. Desde então, Ed Shackle não teve mais um minuto de descanso. Em universidades e escolas de todo o país, o jovem de 24 anos organizou reuniões entre candidatos de todos os partidos e jovens, com o objetivo de motivá-los a ir às urnas nas eleições gerais antecipadas marcadas para esta quinta-feira (12/12).

"Esta eleição determina o nosso futuro, por isso é importante que o maior número possível de pessoas compareça às urnas", diz Shackle. Ele trabalha para a organização Vote For Our Future (vote pelo nosso futuro), a primeira campanha suprapartidária que tem como objetivo registrar o maior número possível de jovens.

Shackle é eleitor dos conservadores. Mas ele é contra o Brexit, especialmente contra um mau acordo com a União Europeia (UE), e exatamente por isso também ficou decepcionado com o Partido Conservador, liderado pelo primeiro-ministro Boris Johnson. Mas agora que trabalha para uma organização imparcial, ele não pode e não quer falar sobre isso.

Ele prefere falar sobre o que motiva os jovens eleitores, como as mudanças climáticas ou os direitos das mulheres e das minorias: "Esses são os assuntos que afetam muitos jovens, mas geralmente os candidatos não falam tanto sobre eles. Nos nossos eventos, eles são questionados exatamente sobre esses temas, e isso acaba abrindo os olhos deles também para as preocupações da próxima geração."

Mais uma votação sobre o Brexit

Como em qualquer outro lugar do Reino Unido, é lógico que o Brexit continua sendo muito discutido entre os jovens. E é exatamente por isso que muitos consideram as eleições desta quinta-feira um acontecimento histórico. Precisamente porque, de certa forma, os britânicos decidirão mais uma vez sobre a saída de seu país da UE.

Desde o resultado apertado do referendo a favor do Brexit se passaram mais de três anos. Três anos em que o Brexit dominou as manchetes. "Para muitos, essa eleição é a primeira desde o referendo de que podem participar. Eles ouviram tudo sobre o Brexit e agora podem votar por si mesmos", diz Shackle.

O racha que o Brexit provocou na sociedade britânica também se reflete demograficamente. Uma esmagadora maioria de 73% dos jovens entre 18 e 24 anos votou em 2016 contra a saída da UE. E 60% das pessoas com mais de 65 anos foram a favor. No Reino Unido, quanto mais jovens os eleitores, mais esquerdistas eles são. Nesta eleição, as opções nesse aspecto são o Partido Trabalhista, os Liberais Democratas e o Partido Verde.

O Partido Trabalhista pede um segundo referendo sobre o Brexit e promete a abolição das taxas universitárias. Os Liberais Democratas querem abolir completamente o Brexit. E os verdes prometem atuação forte contra as mudanças climáticas.

Esses três partidos atraem grande parte dos jovens eleitores. De acordo com pesquisas mais recentes da agência de pesquisas de opinião YouGov, 38% dos jovens de 18 a 29 anos votarão no Partido Trabalhista, 18%, nos Liberais Democratas e até 15%, nos verdes.

Isso pode ser um problema para Boris Johnson e os conservadores: apenas 16% dos jovens eleitores afirmam votar nos conservadores. O partido é considerado pelos jovens eleitores como velho, branco e burguês. E ele exige o Brexit imediato.

Mas existem conservadores entre os jovens eleitores. Ronnie Reid, por exemplo, já votou nos conservadores três vezes nos seus 24 anos, em 2015, 2017 e nas eleições europeias. Agora, em dezembro, ele quer fazê-lo novamente: "Claro, Boris Johnson não é um santo, mas ele tem uma personalidade capaz de inspirar as pessoas. Precisamos de clareza com relação ao Brexit, e ele também cuidará disso."

Em relação a costumes, Reid é progressista, a favor do casamento entre pessoas do mesmo sexo e do aborto, por exemplo. Mas é a favor de uma política fiscal conservadora. E Johnson tem a mesma opinião sobre ambos os assuntos.



Johnson quis evitar votos estudantis



Por exemplo, Manchester e Nottingham estão entre as localidades com o maior número de estudantes no país. Em alguns distritos eleitorais nessas regiões, não são eleitos deputados conservadores desde os anos 80. Por isso que Johnson também quis evitar uma alta participação de estudantes nas próximas eleições parlamentares, escolhendo 12 de dezembro como o dia na eleição, por ser uma data em que muitos estudantes já voltaram para casa, deixando seus distritos eleitorais universitários.

Quem quer votar a qualquer custo é Femi Oluwole. Recém-formado em direito, ele adiou seus planos de carreira profissional para se tornar um ativista em tempo integral na campanha por um segundo referendo. Atualmente, ele percorre as ruas de Londres distribuindo folhetos, conversando com potenciais eleitores. A sua mensagem ganha maior alcance no Twitter e no Instagram, onde Oluwole tem mais de 200 mil seguidores.

"Aquilo pelo que as pessoas votaram em 2016, elas não conseguirão. Temos menos controle sobre o nosso país, não estamos ficando mais ricos, estamos ficando mais pobres. Tudo deveria acontecer rapidamente, mas ninguém consegue ver o fim disso. Precisamos de uma nova votação", afirma.

Por causa de sua convicção, Oluwole já foi vaiado num pub, teve que suportar comentários e ameaças racistas nas redes sociais. "Se os jovens votarem como nunca antes, então pode ser que consigamos um segundo referendo", acredita.

Oluwole pode olhar com esperança para os últimos números de registro de eleitores: 3,8 milhões de novos eleitores se registraram desde as eleições de dezembro. Quase três quartos destes são jovens eleitores com menos de 35 anos. Ed Shackle, do Vote For Our Future, vê isso como um sucesso de sua organização e de seu trabalho. "Muitos desses eleitores consideram essa eleição histórica e querem contribuir com seu voto."

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Autor: Charlotte Potts (md)

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