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Best-seller infantojuvenil sobre o nazismo ganha versão cinematográfica

Jochen Kürten (rw)

09/12/2019 12h12

Quase 50 anos após ser escrita, história de menina que perde um bicho de pelúcia ao fugir do nazismo estreia no cinema. Mas um tema tão sério pode ser entendido pelas crianças e ainda despertar o interesse dos adultos?Quando Hitler Roubou o Coelho Cor-de-rosa foi escrito pela autora anglo-alemã Judith Kerr e publicado pela primeira vez em 1971. O livro faz parte da trilogia Fora do tempo de Hitler, em que ela narra a fuga de sua família de Berlim sob o regime nazista. O romance Quando Hitler Roubou o Coelho Cor-de-rosa foi o primeiro da série.

Em 1973, Annemarie Böll, esposa do escritor e prêmio Nobel Heinrich Böll, traduziu o livro para o alemão. Em 1978, o material foi filmado para a televisão alemã. Agora, quase 50 anos depois de ser escrito, o livro ganha uma versão cinematográfica. A estreia mundial de Quando Hitler Roubou o Coelho Cor-de-rosa ocorreu em Berlim neste domingo (08/12). No dia de Natal, ele será lançado nos cinemas de toda a Alemanha.

O filme, que tem o enredo baseado no livro, foi dirigido por Caroline Link, ganhadora do Oscar de melhor filme estrangeiro em 2003 por Lugar Nenhum na África e uma das mais bem-sucedidas diretoras alemãs dos últimos anos. No enredo, a personagem Anna, de nove anos, vive com os pais e o irmão mais velho em Berlim. O pai é um jornalista conhecido, que em seus artigos critica abertamente Adolf Hitler e o regime nazista. A trama começa pouco antes das eleições na Alemanha em março de 1933, na qual os nacional-socialistas consolidam seu poder.

Por serem judeus, o pai de Anna estava ciente da ameaça à família. A decisão de ir para o exílio na Suíça foi rápida. As malas foram feitas às pressas, só o essencial poderia ser levado. Os pais de Anna ordenaram: só um bicho de pelúcia poderia ser levado. Com o coração pesado, desesperada e perto das lágrimas, ela se decide por deixar o amado coelho rosa, seu bichinho mais antigo. A família foge primeiro de Berlim para Zurique, depois para Paris e Londres. O filme termina com a travessia para o Reino Unido.

O adeus às memórias de infância e a perda da pátria despertaram em Judith Kerr uma forte imagem literária. "Apesar disso, a leveza da história me surpreendeu", diz Caroline Link: "Uma história sobre expulsão e fuga da Alemanha nazista, mas mesmo assim o tom é otimista, leve e solto." Um livro (e agora um filme) sobre nacional-socialismo, expulsão e antissemitismo - em "tom otimista"? Isso é possível? Judith Kerr escreveu um livro dirigido a crianças, por isso deu importância à perspectiva infantil. E queria apresentar aos jovens leitores um tema nada infantil: os horrores da era nazista.

A autora contou a Caroline Link que "conserva na memória uma imagem positiva dos anos passados na Suíça e em Paris. Para ela e o irmão, foram, sobretudo, anos de aventura", diz a diretora. Ela gostou do fato de a história ser contada a partir da perspectiva de uma menina de nove anos: "As crianças não precisam ter medo dessa história.Ela não é cruel nem terrível, tem muitas facetas positivas, apesar de toda a melancolia pelo fato de Anna e sua família perderem a pátria, a riqueza e a língua materna de um dia para o outro, por causa de mudanças no cenário político."

Em seus filmes, Caroline Link conseguiu encenar com sucesso temas difíceis de forma emocional, sem impressionar ou usar clichês. Isso ela também quis com a filmagem do clássico livro infantil e juvenil Quando Hitler Roubou o Coelho Cor-de-rosa: "A bravura com que Anna olha em frente e procura o caminho para uma nova vida sempre me tocou muito", diz Link. (...) Vivemos a discriminação e a crescente pobreza desta família, mas também a sensação de proteção oferecida pelos pais e o apoio intelectual do pai, que prega repetidamente aos filhos: Quem só se queixa do que perdeu, vai perder o novo, o bem, que cada mudança traz consigo".

Mas, mesmo assim, este filme deixa um sentimento de mal-estar. Possivelmente não com espectadores mais jovens. Talvez seja a abordagem certa para confrontar crianças com o tema: não com imagens de horror e cenários de terror. Mas é improvável que o filme atinja espectadores mais velhos desta forma.

Em uma primeira reação, o jornal mensal judaico Jüdische Rundschau resumiu: a versão cinematográfica do livro de Kerr não virou um filme brega, o que poderia acontecer por causa do tema, e Link também resistiu à tentação de traçar simples paralelos contemporâneos: "O filme de bela fotografia e encenado de forma equilibrada pela ganhadora do Oscar não comete o erro de, sob uma falsa premissa, traçar paralelos com refugiados, geralmente muçulmanos, a maioria dos quais simplesmente migrantes, com judeus na Alemanha nacionalmente desinibida: que o antissemitismo é apenas um dos muitos misantropos relacionados a grupos, dos quais atualmente a 'islamofobia' é a mais virulenta".

Mas isso leva a outro problema: o filme é "decididamente apolítico", segundo o jornal, e "isso também não faz justiça ao assunto". Podemos concordar com o julgamento. O distribuidor anuncia Quando Hitler Roubou o Coelho Cor-de-rosa com o slogan "um filme natalino para toda a família". Isso choca um pouco. Um filme sobre expulsão, antissemitismo e xenofobia como um "filme de Natal"?

"O constante acompanhamento com música dramática e comovente cria uma atmosfera imersiva e aconchegante (...) e, juntamente com as belas imagens de montanhas suíças e na Paris urbana, pretende proporcionar uma confortável sensação natalina para o coração e toda a família", resume o jornal: "Isso pode ser apropriado para esta época, mas não para a história, que é tão brutal e séria..."

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Autor: Jochen Kürten (rw)

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