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Campanha eleitoral britânica é disputada sem controle nas redes sociais

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Imagem: iStock

Em Londres

07/12/2019 12h06

Em um ambiente de 'start-up' dinâmica, mais de cinquenta militantes trabalhistas fazem campanha pelas legislativas britânicas nas redes sociais, um terreno muito disputado, mas com pouca regulamentação.

"Nós nos mobilizamos e tentamos convencer", explica Laura Parker, coordenadora do Momentum, um movimento que apoia o líder do Partido Trabalhista, Jeremy Corbyn.

Com a experiência das últimas legislativas de 2017, nas quais o Labour obteve melhores resultados do que o previsto pelas pesquisas, Momentum e os trabalhistas reivindicam um avanço no plano tecnológico em relação aos conservadores.

"Eles não vão nos alcançar", estima Laura Parker.

A coordenadora garante que realizam uma campanha "ética" para as legislativas de 12 de dezembro. "Vamos contra nossos adversários quando eles mentem" e "às vezes forçamos os limites", mas sem cair na "política suja", insiste.

Mas os golpes baixos não faltam no campo de batalha que constituem as redes sociais.

O partido do primeiro-ministro Boris Johnson foi acusado de mentir quando a conta do Twitter do serviço de imprensa dos conservadores foi renomeada durante um debate entre Boris Johnson e Jeremy Corbyn como "FactcheckUK", fazendo-se passar por verificador de informações.

A rede social advertiu que tomaria medidas em caso de uma nova tentativa de "enganar" os eleitores.

A legislação britânica, que remonta a 2000, está atrasada neste campo.

Nada aconteceu desde o escândalo Cambridge Analytica, uma empresa britânica que coletou dados de 87 milhões de usuários do Facebook para realizar campanhas de manipulação em massa e influenciar os eleitores britânicos e americanos.

É verdade que as plataformas modificaram suas políticas, "especialmente o Facebook e o Twitter", diz o deputado conservador Damian Collins, que presidiu uma comissão que em fevereiro de 2019 publicou um relatório muito duro contra as gigantes digitais.

No entanto, "não vão longe o suficiente".

O deputado, que está em campanha pela reeleição no sudeste da Inglaterra, defende uma "tolerância zero com aqueles que tentam influenciar o resultado de uma eleição espalhando mentiras".

Segundo ele, ainda é fácil evitar na internet as duas salvaguardas da lei eleitoral: "transparência para saber quem diz o quê e transparência nos dados".

Quanto ao risco de interferência estrangeira, "sempre existe", devido à falta de rastreabilidade suficiente de doações on-line para financiar campanhas nas redes sociais.

"Pizza e pub da esquina"

Nessas eleições decisivas para o Brexit, cujo resultado definirá o caminho do Reino Unido nas próximas décadas, "o que está em jogo é muito importante, mas as regras não existem", diz Carl Miller, diretor do Centro de Análise das Redes Sociais no grupo de reflexão Demos.

"Nunca houve tal lacuna entre o papel e a influência do mundo digital" no resultado da votação e a pouca regulamentação existente, sublinha.

Um dos maiores problemas reside na microssegmentação. Graças aos dados pessoais que os usuários fornecem às redes sociais, podem se concentrar em sua idade, sexo e "se gostam de pizza, do pub da esquina ou de um programa de televisão", explica Tristan Hotham, doutorando na Universidade de Bath e ques estuda o assunto desde o início da campanha.

Assim, ele conseguiu observar efeitos nocivos: mensagens publicitárias geralmente "muito negativas" e "simplistas demais", diz o pesquisador.

As possibilidades são tais que os partidos podem "enviar dezenas de milhares de mensagens diferentes" no país sem serem vistos por outros eleitores ou mesmo por jornalistas ou investigadores, adverte Carl Miller, para quem é um "problema real".

O especialista teme um efeito devastador na confiança. "Afinal, como na votação do Brexit, as pessoas têm a impressão de que essa eleição é injusta, é disputada fora das regras e dos valores compartilhados, de modo que, em última análise, a democracia é a que sai enfraquecida".

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