Rodrigo Maia é recebido por Alberto Fernández na Argentina e inaugura "diplomacia parlamentar"
O presidente da Câmara de deputados, Rodrigo Maia, tornou-se a primeira autoridade brasileira em ser recebida pelo eleito Alberto Fernández, a cinco dias da sua posse como presidente da Argentina. O encontro foi o primeiro capítulo de uma estratégia para salvar a relação Brasil-Argentina, eixo da integração regional, do embate ideológico entre Jair Bolsonaro e Alberto Fernández. Além de falar da "Diplomacia Parlamentar", Maia também indicou que "a sintonia entre os Jair Bolsonaro e Donald Trump não gerou benefício para o Brasil".
Correspondente da RFI em Buenos Aires
Rodrigo Maia assume o papel que caberia ao presidente Jair Bolsonaro para superar divergências com Fernández. "Precisamos respeitar a decisão dos argentinos pela eleição do presidente Alberto e deixar os embates ideológicos de fora da agenda", disse o brasileiro.
"A Diplomacia Parlamentar pode ter um papel até mais importante do que a relação diplomática entre os nossos governos. O Parlamento pode construir pontes importantes para o diálogo para ajudar na nossa relação", defendeu Maia, logo após reunir-se no Parlamento argentino com o presidente da Câmara de Deputados da Argentina, Sergio Massa.
"O desafio é que os nossos Parlamentos juntos sejam, no ano que vem, um veículo para a união dos nossos povos. A decisão conjunta de todas as forças políticas da Câmara de deputados do Brasil e da Câmara de deputados da Argentina é trabalhar de maneira conjunta, sem diferenças ideológicas. A relação bilateral é estratégica", reforçou Sergio Massa.
"Os debates ideológicos existem. Às vezes ajudam; às vezes atrapalham. Os nossos parlamentos vão trabalhar de forma integrada. Essa é uma decisão tomada pela maioria dos partidos presentes aqui, que representam mais de 90% da Câmara de Deputados do Brasil", anunciou Rodrigo Maia, acompanhado pelos deputados brasileiros Aguinaldo Ribeiro (PP), líder da maioria na Câmara, Baleia Rossi (MDB), Elmar Nascimento (DEM), Paulo Pimenta (PT) e Orlando Silva (PC do B). Do lado argentino, também estavam os líderes das principais forças políticas.
"Precisamos reafirmar que nós só teremos desenvolvimento se estivermos juntos, Brasil e Argentina. Separados, certamente, seremos instrumentos dos outros países, principalmente nos seus interesses comerciais", acrescentou Maia.
Com a missão de elevar uma histórica relação bilateral, ameaçada pelas posições antagônicas nos campos ideológico e comercial, Rodrigo Maia foi depois recebido pelo Alberto Fernández. "Estive com o presidente Bolsonaro nesta semana. Fui informar sobre a minha visita. Ele teve palavras muito positivas sobre a importância desta visita e sobre a importância da relação entre os dois países", revelou Maia.
"Brasil é um irmão com outro idioma"
No encontro, o nome do ex-governador de Buenos Aires (2002-2007), Felipe Solá, foi anunciado como novo chanceler. E o também ex-governador de Buenos Aires (2007-2015), Daniel Scioli, como embaixador argentino no Brasil. Quando candidato à Presidência da Argentina em 2015, Scioli trouxe o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva como seu cabo eleitoral.
"Se nos respeitarmos, é mais fácil conviver. Transmitam ao presidente Jair Bolsonaro o meu respeito e a minha valorização para trabalharmos juntos. O meu primeiro gesto com o Brasil é enviar como embaixador alguém que valorizo muito", disse Fernández, numa tentativa de distender uma relação de inimizade declarada, que escalou o conflito durante as últimas semanas. "Temos de cuidar para que nenhuma conjuntura altere a nossa relação: o Brasil é um irmão com outro idioma", definiu o presidente eleito.
Para além da questão ideológica, Bolsonaro teme que a Argentina altere o rumo, abandonando a abertura comercial do governo de Mauricio Macri a um protecionismo, marca do que foram os anos de governo de Cristina Kirchner, atual vice-presidente de Alberto Fernández, quem também foi o seu chefe de gabinete. Fernández já deu sinais de seguir a linha do protecionismo.
Bolsonaro ameaçou retirar o Brasil do Mercosul ou mesmo suspender a Argentina do bloco com o eventual apoio dos demais membros, Uruguai e Paraguai, caso Buenos Aires altere o rumo de abertura, grande aposta da política comercial do governo brasileiro.
Perguntado pela RFI qual será o seu papel caso chegue o momento de ter de escolher entre a política comercial do governo Bolsonaro ou uma ruptura comercial com a Argentina no Mercosul, o deputado Rodrigo Maia defendeu a abertura comercial proposta pelo governo brasileiro, mas no seu devido tempo e sempre dentro do Mercosul.
"De forma bem objetiva, acredito que a abertura comercial e a concorrência são importantes e quem ganha com isso é o consumidor. Muitas vezes protegemos setores que são ineficientes e que vendem produtos caros", concordou Maia. "O que não podemos é abrir as nossas economias sem o fortalecimento da nossa integração. Acredito que, em determinado momento, as nossas economias estarão prontas para competirem. Mas acredito que isso precise ser feito dentro do Mercosul", ponderou.
O brasileiro pôs como exemplo a relação de Bolsonaro com o presidente norte-americano Donald Trump. Não foi suficiente para os Estados Unidos pouparem o "amigo" da sobretaxação do aço e do alumínio.
"Nas relações com os países, precisamos cuidar do interesse dos brasileiros. Vimos que a sintonia entre o presidente brasileiro e o americano não gerou, do ponto de vista concreto, um resultado que seja em benefício do Brasil", comparou.
"O mais importante é olharmos que os argentinos decidiram pela eleição do presidente Alberto e que nós precisamos respeitar isso e trabalharmos em conjunto. Temos de tirar da nossa relação os embates ideológicos", apontou.
Acordo com União Europeia também divide
Em outro ponto, no entanto, a divergência também ruma a uma colisão. O presidente eleito, Alberto Fernández, fez campanha, anunciando que iria rever o acordo de livre comércio assinado entre o Mercosul e a União Europeia em junho, depois de 20 anos de negociações. O presidente da Câmara de Deputados da Argentina, Sergio Massa, aliado de Fernández, confirmou essa postura.
"Os acordos têm de ser virtuosos e beneficiar todas as partes. Vamos olhar e rever esse acordo sob a base dos benefícios para a Argentina e levar em conta o dano ao desenvolvimento industrial argentino", advertiu.
Rodrigo Maia tem outra visão. "A maioria do Parlamento brasileiro defende o acordo Mercosul-União Europeia. Do nosso ponto de vista majoritário, entendemos que o acordo traz muitos benefícios para o Brasil. Quando a matéria chegar ao Parlamento, o apoio será majoritário", avisou.
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