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Preço da carne bovina ficou mesmo estável por 3 anos, como disse ministra

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Imagem: Arte/UOL
do UOL

Lucas Borges Teixeira

Colaboração para o UOL, em São Paulo

29/11/2019 20h21

A ministra da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Tereza Cristina, disse que não foi só o aumento de exportações para a China que levou à alta recorde do preço da carne bovina no Brasil agora em novembro. Segundo ela, outro motivo é que o preço do produto estava sem reajustes havia três anos.

"Além de o Brasil abrir as exportações, temos de lembrar que o boi tinha um preço represado há três anos. O pecuarista estava tendo prejuízo nesse período", afirmou a ministra, em entrevista ao jornal "O Estado de S. Paulo".

É verdade: valor da carne bovina estava estável havia três anos

Antes dessa alta histórica de novembro, até meados de outubro, o preço médio da carne realmente manteve-se estável nos últimos três anos, segundo dados de consultorias e especialistas ouvidos pelo UOL.

De acordo com a consultoria Safras & Mercado (S&M), especializada em agronegócio, o corte traseiro, de onde saem as carnes mais nobres, manteve no atacado um preço médio relativamente estável em novembro de 2016, 2017 e 2018, mas saltou no mesmo mês deste ano, atingindo um pico nesta semana.

Preço médio do corte traseiro (carnes nobres) no atacado:

  • nov.2016: R$ 12,34/kg
  • nov/2017: R$ 11,67/kg
  • nov/2018: R$ 11,99/kg
  • nov/2019: R$ 16,22/kg
  • pico nesta semana: R$ 20/kg

Fonte: consultoria Safras & Mercado (S&M)

"Pelo que se pode perceber ao analisar [os números], tem momentos em que o preço cai mais e, em alguns, que ele sobe, mas nada fora da realidade", afirmou Fernando Henrique Iglesias, consultor da S&M especializado em carnes. "O que é impressionante é o salto em novembro. É um ponto fora da curva, não tínhamos visto isso desde a criação do [Plano] Real", afirmou Iglesias.

Se forem considerados os dados relativos a setembro, mês da liberação das exportações para a China, nota-se que, como indicou a ministra, que o preço havia se mantido estável durante três anos.

Preço médio do corte traseiro (carnes nobres) no atacado:

  • set/2016: R$ 11,68/kg
  • set/2017: R$ 11,47/kg
  • set/2018: R$ 11,53/kg
  • set/2019: R$ 12,30/kg

Fonte: consultoria Safras & Mercado (S&M)

Preço da arroba do boi gordo também ficou estável

A Scot Consultoria, também especializada no mercado agrícola, mostrou padrão semelhante em relação ao preço médio da arroba do boi gordo.

Preço médio (corrigido) da arroba do boi gordo em São Paulo:

  • set/2016: R$ 150
  • set/2019: R$ 156
  • nov/2016: R$ 150,50
  • nov/2019: R$ 169,50

Fonte: Scot Consultoria

Segundo a consultoria, neste período, houve épocas de altas a baixas ocasionadas pelos mais diferentes fatores, mas, no geral, o valor vinha se mantendo estável até meados de outubro deste ano.

O Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada) da USP (Universidade de São Paulo) também aponta este fenômeno, de acordo com seus indicadores de preços agropecuários.

Preço médio (corrigido) da arroba do boi gordo:

  • set/2016: R$ 148
  • set/2019: R$ 155
  • nov/2016: R$ 149,56
  • nov/2019: R$ 228,95

Fonte: Cepea/USP

Para Iglesias, esta alta se deu por uma soma de fatores, que vão muito além da estabilidade dos últimos anos.

"A China, claro, é o que muda o cenário, mas ela por si só não faria [crescer tanto]. Você soma a isso a chegada de fim de ano, quando sempre há um leve aumento, com o 13º [salário], e o reaquecimento da economia interna, que também contribui", afirmou.

Alta deve dar trégua, mas preço não volta a nível anterior

De acordo com os especialistas ouvidos pela reportagem, os preços da carne bovina devem parar de subir, mas não devem voltar ao patamar de antes da alta, mesmo após a estabilização do mercado.

"Esse ciclo deve se manter. Até no começo do ano, quando há a ressaca de carne e, geralmente, há queda [de consumo], deverá ficar o preço acentuado. É uma mudança no patamar", disse Iglesias.

Por outro lado, o valor não deve continuar a subir porque tornaria o mercado "insustentável", já que o consumidor final não teria como acompanhar esta alta, segundo a Abrafrigo (Associação Brasileira de Frigoríficos).

Por meio de porta-voz, a organização disse ao UOL que diversos pequenos frigoríficos já estão segurando a compra de carne porque eles não têm como repassar a alta excessiva do preço para o consumidor.

"Fica impossível, podem levar prejuízo. Esperamos que o valor já comece a parar de subir e até caia, porque, do jeito que está, não tem como, não é sustentável", declarou o porta-voz da associação.

Segundo a consultoria Scot, nesta sexta, o valor carne já fechou em baixa em 12 praças no país, o que indica uma pausa na alta. No geral, o valor caiu 4,4% se comparado ao dia anterior.

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