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Arco e flecha, tijolos e tacos de beisebol - as armas usadas pelos manifestantes nos protestos em Hong Kong

17/11/2019 20h15

Polícia ameaçou usar armas de fogo contra os manifestantes, que dizem estar respondendo ao uso excessivo da força pelos policiais.

A polícia cercou um campus universitário ocupado por manifestantes em Hong Kong e ameaçou usar armas de fogo com balas de verdade contra as pessoas no campus da Universidade Politécnica, a PolyU.

Até agora a polícia tem usado canhões de água e gás lacrimogênio contra os manifestantes no local, mas os policiais dizem que vão partir para armas de fogo se os manifestantes não pararem de usar "armas letais".

Militantes contra o governo que ocupam a universidade estão usando armas como arco-e-flecha, coquetéis molotov, tijolos e tacos de bisebol contra a polícia. Eles dizem que estão respondendo ao uso excessivo da força pelos policiais no território chinês semiautônomo.

A polícia já recorreu antes ao uso de armas de fogo contra manifestantes: ao menos três pessoas já foram baleadas pela polícia desde que os protestos começaram. Pelo menos 500 foram presas desde julho.

Em julho, uma multidão de homens mascarados e armados com porretes atacaram manifestantes que voltavam para casa de metrô após um protesto.

As manifestações e a repressão policial têm causado tensão na cidade há meses. A violência dos últimos dias, é, no entanto, uma das piores em Hong Kong desde que o movimento começou.

Policiais viraram alvos dos manifestantes, que acusam a polícia de agir violentamente. Um assessor de imprensa da polícia foi ferido na perna por uma flecha no domingo (17), próximo à PolyU.

A polícia ordenou os manifestantes que ocupavam a universidade a saírem até a noite de domingo. Dezenas foram presos, mas centenas continuavam dentro da PolyU até a manhã de segunda (no fuso horário de Hong Kong).

Há receio de que muitas pessoas fiquem feridas se a polícia forçar a entrada no local, que foi declarado um "tumulto" pelas forças policiais.

"Eu estou avisando os participantes do tumulto para não usarem coquetéis molotov, flechas, carros ou quaisquer armas mortais para atacar policiais", disse o porta-voz da polícia Louis Lau.

"Se eles continuarem com ações perigosas, nós não teremos escolha a não ser usar a mínima força necessária, incluindo balas de verdade, para lutar contra."

Na manhã de domingo a polícia atirou com armas de fogo em resposta ao que disseram ser um carro sendo atirado contra policiais próximo à universidade.

Fogo na universidade

Nas últimas semanas, diversos campi universitários se tornaram os principais cenários de conflito entre a polícia e os manifestantes.

No domingo, o esquadrão anti-protesto da polícia usou gás lacrimogênio e canhões de água contra manifestantes na PolyU, que por sua vez jogaram tijolos e coquetéis molotov na polícia.

Os militantes se protegeram com guarda-chuvas em uma pequena ponte de pedestres, e incendiaram entulho no local, causando um incêndio.

Outras pequenas explosões aconteceram, segundo testemunhas, e os bombeiros foram chamados para controlar o fogo.

Em uma ponte para caros entre Hong Kong e a cidade de Kowloon, um caminhão da polícia foi incendiado e forçado e retroceder.

A PolyU publicou um pedido para que os manifestantes desocupassem o local.

"Universidades são locais de avanço do conhecimento e desenvolvimento de talentos. Não não campos de batalha para disputas políticas e não deveriam ser envolvidas em confrontos violentos", diz a nota.

No sábado, soldados chineses vestidos de shorts e camisetas foram às ruas ajudar a limpar entulho e remover barricadas. Foi a primeira vez desde o início dos protestos que os soldados chineses, que raramente são vistos deixando suas bases em Hong Kong, foram às ruas.

Estratégias

Essa situação tensa na PolyU não é a primeira vez que os manifestantes em Hong Kong usam estratégias e armas "criativas" para organizar protestos e resistir à polícia na cidade.

Além de fazer barricadas, os manifestantes têm colado tijolos em diversas vias para interromper o tráfico e impedir o avanço de carros policiais.

Máscara anti-gás, luvas, capacete, óculos de natação e de esqui são parte do equipamento de proteção dos manifestantes desde que houve uma escalada na violência.

Eles também têm usado aplicativos de celular como o Telegram, como o Uber e até jogos como Pokémon Go e Tinder para evitar se tornar alvo dos policiais - os jovens são a grande maioria nos protestos na cidade e têm liderado a organização das manifestações.

Em metrôs lotados, os manifestantes enviam anonimamente cartazes via conexões wi-fi e bluetooth entre celulares da Apple para compartilhar horários e locais dos protestos.

"No estágio inicial do movimento, o Telegram era usado principalmente para divulgar informações aos manifestantes, como a posição em tempo real da polícia, as situações em diferentes linhas de frente e o endereço de postos de primeiros socorros e de onde podiam obter máscaras de gás, óculos de proteção, garrafas de água", diz Rob, um universitário e manifestante ativo na casa dos 20 anos.

Democracia e independência da China

Os protestos em Hong Kong começaram em junho deste ano por conta de um projeto que autorizaria a extradição para a China continental. Críticos temiam que isso pudesse prejudicar a independência judicial e colocar dissidentes em perigo.

Até 1997, Hong Kong era colônia britânica, mas depois foi devolvida à China sob um arranjo de "um país, dois sistemas", que preserva certa autonomia em relação à China continental, e com a população tendo mais direitos.

O projeto de lei foi retirado em setembro, mas os protestos continuam e agora pedem democracia plena e uma investigação sobre as ações da polícia.

Entre as reivindicações, estão anistia para quem for preso durante os protestos e maior poder de escolha em futuras eleições na cidade, uma ex-colônia britânica que hoje faz parte da China sob um acordo que lhe dá certo nível de autonomia, como ter seu próprio Judiciário e um sistema legal separado.

Nesses meses, o enfrentamento entre ativistas e policiais foi ficando cada vez mais violento.

O governo anunciou recentemente que a cidade entrou em sua primeira recessão em uma década.



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