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Boeing 737 Max não tem data para voltar a voar, diz diretor da empresa

Boeing tem esperança de liberar as entregas do 737 MAX em dezembro (Boeing) - 737-max-fly
Boeing tem esperança de liberar as entregas do 737 MAX em dezembro (Boeing) Imagem: 737-max-fly
do UOL

Vinícius Casagrande

Colaboração para o UOL, em São Paulo

12/11/2019 19h31

Resumo da notícia

  • Boeing 737 Max teve dois acidentes fatais por falha no sistema de controle de voo
  • Aviões da Lion Air e da Ethiopian causaram a morte de 346 pessoas
  • Modelo está proibido de voar desde março e não há data precisa para o retorno dos voos
  • Diretor de marketing da Boeing diz que empresa está corrigindo o problema e que avião será seguro

Um dia após a Boeing afirmar em comunicado que o modelo 737 Max poderia voltar a voar em dezembro, o diretor de marketing da empresa, Darren Hulst, adotou um tom mais cauteloso. Hulst afirmou hoje em entrevista ao UOL que ainda não há um prazo definido para que o modelo 737 Max receba autorização para voltar a voar. "Neste momento não temos uma data porque depende dos órgãos regulares, mas estamos fazendo um bom progresso", afirmou.

O modelo está impedido de voar desde março após dois acidentes fatais que teriam sido causados por uma falha nos sistemas de controle de voo do avião. Desde então, a Boeing está atuando junto aos órgão reguladores, especialmente a FAA (Administação Federal de Aviação, na sigla em inglês) dos Estados Unidos, para solucionar o problema.

O prazo tem sido maior do que analistas e companhias aéreas previam quando o 737 Max foi proibido de voar em todo o mundo. A American Airlines, por exemplo, já chegou a prever a volta do 737 Max para julho deste. Com a demora, a empresa já cancelou os voos que seriam feitos com o modelo até março do ano que vem.

Para especialistas do setor, o prazo mais longo mostra a dificuldade em resolver o problema. Segundo a Bloomberg, durante os testes de simulador do novo software, em junho, o avião apresentou os mesmos problemas e os engenheiros tiveram de recomeçar todo o trabalho.

Apesar disso, o diretor de marketing da Boeing não fala em uma demora além do previsto para a solução do problema e o retorno do modelo. "Não sei exatamente o que a gente esperava. Não posso falar em prazo, mas temos trabalhado junto aos órgãos reguladores e fizemos todas mudanças que eram necessárias para melhorar o avião. Não havia um prazo determinado para isso", disse.

Avião será seguro, diz executivo

Hulst diz que, quando voltar a voar, o 737 Max será um dos aviões mais seguros do mundo. Para reconquistar a confiança dos passageiros e convencê-los a voar no avião, o diretor de marketing da Boeing disse que será necessário um trabalho junto aos pilotos e comissários de bordo.

"Vamos trabalhar junto às tripulações para que possam comunicar a segurança do avião aos passageiros, e também junto às companhias aéreas para que demonstrem essa segurança", afirmou.

Quando o avião estiver novamente liberado para voar, Hulst afirmou que ele e outros executivos da Boeing levarão a própria família para viajar no 737 Max. "Vamos voar com a nossa família no avião porque temos certeza de que é seguro", disse.

Falha do sensor deixou avião incontrolável

Mas, na prática, o Boeing Max está enfrentando muitos questionamentos. Os acidentes tiveram como ponto em comum uma falha no sistema MCAS (Maneuvering Characteristis Augmentation System, ou sistema de ampliação de característica de manobra). Esse sistema controlaria a inclinação do avião para evitar uma perda de sustentação, chamada de estol.

Na queda dos aviões da Lion Air e da Ehtiopian Airlines, os pilotos não conseguiram controlar o avião após o sistema receber informações incorretas dos sensores localizados na fuselagem.

Defeito foi relatado durante produção do avião

O defeito poderia ter sido evitado antes mesmo de o avião entrar em operação. A Boeing teria optado por utilizar apenas um sensor de ângulo de ataque, não dois como seria o recomendado. O funcionamento do MCAS é baseado na leitura desses sensores.

Antes de o avião ser certificado, o piloto-chefe Mark Forkner relatou em conversas por mensagem que já havia identificado problemas nos voos em simulador que deixavam o avião incontrolável. Apesar disso, não foram feitas mudanças para resolver o problema. Somente agora as falhas do sistema estão sendo corrigidas.

Presidente-executivo admitiu erros

No final de outubro, o presidente-executivo da Boeing, Dennis Muilenburg, reconheceu que a empresa cometeu erros no desenvolvimento do sistema de segurança MCAS. Questionado sobre os principais erros, Muilenburg citou a falha da Boeing em divulgar que havia tornado opcional um alerta na cabine, sinalizando desacordo entre os sensores de fluxo de ar.

"Claramente, tínhamos algumas áreas a melhorar", afirmou. Ele também declarou que a empresa deveria ter sido mais "eficiente e abrangente" em suas comunicações e documentação "para todos os nossos acionistas".

Vendas despencaram

Apesar de a Boeing afirmar que agora o 737 Max será um avião seguro, as vendas da empresa despencaram desde que os problemas foram identificados. A Boeing recebeu no último mês pedidos para apenas dez novos aviões, com alguns clientes trocando suas encomendas do 737 Max por aviões maiores como o 787.

Isso é uma das consequências na demora para a empresa encontrar uma solução para as falhas e os órgãos reguladores certificarem que agora o avião está realmente seguro para voar. Para o diretor de marketing da empresa, essa queda nos pedidos é normal. "Estamos focados em resolver a questão do Max neste momento", afirmou.

Prejuízo das companhias aéreas

Com o modelo proibido de voar, companhias aéreas de todo o mundo acumulam prejuízo com o cancelamento de voos ou atraso na expansão de suas operações. O diretor de marketing da Boeing afirmou que ainda não há uma definição sobre as compensações financeiras a essas empresas.

"Estamos conversando com todas as companhias aéreas que têm aviões parados ou atraso na entrega sobre suas necessidades de agora e para o futuro para saber como podemos dar apoio tecnicamente. Estamos tendo conversas financeiras individualmente com cada companhia aérea", afirmou.

Boeing 737 tem mais de 50 anos

O primeiro modelo do Boeing 737 foi lançado há mais de 50 anos. Ao longo das décadas, o avião passou para diversas atualizações. A versão Max é a mais recente do modelo.

O diretor de marketing da Boeing, no entanto, negou que o modelo já esteja ultrapassado. "O nome 737 pode ser de mais de 50 anos, mas o projeto do 737 Max é um totalmente novo. É 100% novo comparado com o 737 Classic. Estamos sempre pensando em redefinir o projeto e a eficiência do avião", afirmou.

Apesar de dizer que o modelo é 100% novo, o 737 Max passou por atualizações principalmente em questões aerodinâmicas e instalação de novos motores para permitir uma maior economia de combustível. A estrutura permaneceu bastante similar à versão anterior. Com os novos motores, foi necessário criar novos sistemas de controle de voo, que teriam causado os acidentes e a proibição de o avião continuar voando.

737 NG tem aviões parados por conta de fissuras nas asas

No mês passado, os problemas da Boeing se estenderam também para a versão NG do 737. Fissuras estruturais obrigaram a empresa a interromper o uso de várias dezenas de aviões do modelo. O problema, no entanto, é menos abrangente.

Até o final do mês passado, cerca 1.000 aviões já haviam sido submetidos a uma inspeção e em menos de 5% deles - o equivalente a 50 aeronaves - foram detectadas falhas. A brasileira Gol foi, de novo, uma das companhias aéreas afetadas. A empresa, que já tinha sete 737 Max parados, teve de suspender os voos de 11 aviões 737 NG para corrigir o problema.

Versão maior do 737 Max deve iniciar testes ano que vem

Apesar dos problemas com as versões 8 e 9 do 737 Max, a Boeing prepara para o ano que vem o início dos testes com o Max 10. Será o avião com maior capacidade de passageiros da família. O avião é uma nova aposta da Boeing para o mercado mundial. Até o momento, a empresa já recebeu mais de 650 pedidos do novo avião.

Hulst afirma que a nova versão do Max não terá os mesmos problemas enfrentados por seus irmãos menores. "O que temos feito com os engenheiros de softwares e outros pontos do controle de voo será transferido para todos os modelos do Max", disse.

O 737 é essencial para as finanças da Boeing. A empresa prevê um mercado de 44 mil novos aviões para os próximos 20 anos, dos quais 32,4 mil são de corredor único. O 737 é o único modelo da empresa nessa categoria.

Para o mercado da América Latina, a Boeing prevê uma demanda que quase 3.000 novos aviões, sendo 39% para atualização da atual frota e outros 61% para suportar o crescimento da aviação na região. Desse total, um quarto deve ser destinado ao mercado brasileiro.

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