Evo Morales desembarca no México, onde terá asilo político, e diz que 'segue na política'
Ex-presidente boliviano agradeceu governo mexicano por ter 'salvado' sua vida e mantém afirmação de que foi vítima de golpe.
Dois dias depois de renunciar à Presidência da Bolívia, Evo Morales chegou nesta terça-feira (12/11) à tarde ao México, país que lhe concedeu asilo político.
A chegada foi anunciada pelo chanceler mexicano, Marcelo Ebrard, e o ex-presidente boliviano discursou logo ao desembarcar no aeroporto.
"Enquanto houver vida, seguiremos na política", afirmou, dizendo ter sido vítima de um "golpe". "Segue a luta, e estamos certos de que os povos do mundo inteiro têm todo o direito de libertar-se. Não há delito ou pecado maior que é sermos anti-imperialistas ideologicamente, e que o mundo inteiro saiba que não é pelo golpe que vou mudar ideologicamente; não é pelo golpe que vou mudar (o fato de) haver trabalhado com os setores mais humildes".
Ele também agradeceu o presidente do México, Andrés Manuel Lopes Obrador, por ter "me salvado a vida", em referência à concessão de asilo e à cessão de um avião para a viagem.
https://twitter.com/m_ebrard/status/1194302686369325062
Morales, que governava a Bolívia desde 2006 e deixou o comando do país no domingo, em meio a protestos popularese pressões das Forças Armadas, partira ao México na segunda-feira.
"Dói-me abandonar o país (a Bolívia) por razões políticas, mas estarei sempre por perto. Logo voltarei com mais força e energia", anunciou na noite de segunda-feira pelo Twitter.
https://twitter.com/evoespueblo/status/1194064700075589638
Mais cedo, o chanceler mexicano, Marcelo Ebrad, justificou a concessão do asilo mencionando "razões humanitárias e em virtude da situação de urgência que a Bolívia enfrenta", onda a "vida e integridade" de Morales correriam risco.
O boliviano renunciou à Presidência logo após as Forças Armadas "sugerirem" que ele deixasse o cargo para pacificar o país, o que correligionários e apoiadores classificam como um "golpe de Estado". Já críticos de seu governo acusam Morales de ter fraudado as eleições presidenciais de 20 de outubro ? cujos resultados apontando a vitória dele em primeiro turno, para um quarto mandato, foram o estopim da crise atual ? e de ter contrariado a Constituição e a vontade popular para permanecer no poder.
Uma auditoria da Organização dos Estados Americanos (OEA) apontou indícios de fraude na apuração do processo eleitoral e sugeriu a realização de um novo pleito.
Na carta em que renunciou formalmente, Morales afirmou que vai "resistir". "Que fique para a história nosso compromisso em defender nossas conquistas alcançadas a sangue e fogo", declarou.
Além de Evo, deixaram os cargos o vice-presidente, Álvaro Garcia; a presidente do Senado, Adriana Salvatierra; o vice-presidente do Senado, Rubén Medinacelli; e o presidente da Câmara dos Deputados, Víctor Borda. Com as renúncias, ficaram vagos todos os cargos que estão na linha de sucessão à Presidência ? o que traz uma série de cenários possíveis para o comando do país, desde a convocação do Congresso para a escolha de novos presidentes das casas legislativas a novas eleições gerais.
Com greves e paralisações em todo o país, a Bolívia se transformou em um grande campo de batalha entre apoiadores de Morales e seus opositores. Centenas de pessoas ficaram feridas, ao menos quatro pessoas morreram e outras centenas foram detidas em enfrentamentos com a polícia.
Em cidades como El Alto e La Paz, houve relatos ainda de destruição e saques, além de marchas e barricadas com manifestantes gritando "guerra civil".
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