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John Bercow, o homem que conduz o debate do Brexit aos gritos de 'Ordem!'

21/10/2019 19h57

Londres, 21 Out 2019 (AFP) - No centro dos debates acalorados sobre o Brexit, o presidente da Câmara dos Comuns, John Bercow, que impediu nesta segunda-feira (21) uma nova votação do acordo negociado pelo primeiro-ministro, Boris Johnson, é uma figura controversa cuja imparcialidade foi posta em dúvida.

Este peculiar legislador conservador de 56 anos, com um gosto pronunciado pela teatralidade, é conhecido principalmente por presidir os debates aos gritos de "Ordem, ordem!".

Após dez anos definindo as pautas que devem ser debatidas na casa legislativa, ele deixará o cargo no dia 31 de outubro.

Mas nesta segunda, lembrou que ainda pode desempenhar um papel fundamental, decidindo que Johnson não poderia reenviar seu acordo renegociado com a União Europeia, porque seria "repetitivo" após a sessão de sábado.

Esta não é a primeira vez que Bercow se mostra disposto a intervir vigorosamente no Brexit: em março, ele já havia impedido a então primeira-ministra Theresa May de apresentar seu texto aos deputados.

É sua função decidir o que vai a debate e votação e , ao longo dos anos, dirigiu assim as discussões para uma ou outra direção.

Por isso, suas decisões são atentamente analisadas pelo governo e os eurocéticos, que regularmente o acusam de preconceito e de beneficiar os pró-europeus, contra a neutralidade imposta por sua função.

- "Ordem!" -Integrante do Partido Conservador, Bercow foi a pedra no sapato de sucessivos governos de trabalhistas. O primeiro-ministro David Cameron tentou, sem sucesso, retirá-lo do cargo.

Com sua toga de seda preta e suas gravatas estampadas, este homem de 1,68 metro de altura, espessa cabeleira branca e voz potente, conferiu a si, graças a uma interpretação pessoal dos poderes que lhe foram conferidos pelo posto, um papel mais decisivo que seus antecessores.

Foi o titular mais jovem a chegar ao posto, com 46 anos, e tentou modernizá-lo, abandonando, por exemplo, o uso da peruca branca. Em 2017, também permitiu que os deputados ficassem sem gravata.

Mas mesmo antes das críticas por sua gestão dos debates sobre o Brexit, foi censurado pelos conservadores ao se opor a um pronunciamento no Parlamento britânico do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, durante uma visita ao país.

Também em 2018, foi acusado de maltratar verbalmente seus colaboradores. Naquela ocasião, recebeu o apoio do Partido Trabalhista, na oposição.

- "Minha mulher não me pertence" -Filho de um motorista de táxi, nasceu em 19 de janeiro de 1963 e cresceu no norte de Londres.

Deu seus primeiros passos na política na universidade antes de se converter em conselheiro municipal do bairro londrino de Lambeth aos 23 anos. Em 1997, foi eleito deputado pela primeira vez.

Doze anos depois, chegou à presidência da Câmara dos Comuns, prometendo quebrar as práticas de seu antecessor, envolvido em um escândalo de gastos ilegais pelos quais foi forçado a renunciar.

Pouco depois de chegar ao assento verde do "orador", localizado entre as bancadas da maioria e da oposição, que se sentam frente a frente, provocou controvérsia ao reivindicar milhares de libras para reformar seu apartamento funcional para poder acomodar seus três filhos.

Sua esposa, Sally Bercow, esteve nas capas dos jornais por conta de questões não relacionadas à política: uma vez posou para uma revista vestida apenas com um lençol branco, participou de um 'reality show' e manteve um relacionamento com o primo de seu marido.

Mas, acima de tudo, em 2010, ela se candidatou a uma eleição local pelo Partido Trabalhista, o principal adversário da formação à qual o marido pertence.

Diante desta situação, ele a defendeu. "Minha mulher não me pertence", disse.

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