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Soldado turco é morto por tropas curdas durante cessar-fogo

20/10/2019 08h21

Enquanto a diplomacia internacional tenta encontrar uma saída para a crise na Síria, mais um comboio de tropas americanas deixou uma base militar no norte do país nesse domingo (20). No mesmo dia, o Ministério da Defesa da Turquia informou que um soldado turco foi morto e outro ficou ferido num ataque de combatentes curdos. O confronto na região de fronteira aconteceu nesse sábado (19), em meio ao cessar-fogo de cinco dias negociado pelos Estados Unidos.

Os soldados turcos participavam de uma missão de reconhecimento e monitoramento na cidade de Tal Abyad quando foram atacados.

Ancara lançou em 9 de outubro uma ofensiva militar no nordeste da Síria contra combatentes curdos das Unidades de Proteção Popular (YPG na sigla local), aliados da coalizão internacional contra o Estado Islâmico, mas que as autoridades turcas consideram como uma organização "terrorista" por seus laços com o Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK), que trava uma sangrenta guerrilha na Turquia, desde 1984.

Sob pressão internacional, a Turquia concordou, na quinta-feira (17), em suspender sua ofensiva militar, uma trégua que deve permitir a retirada de combatentes curdos da zona de segurança que Ancara pretende criar ao longo da fronteira com a Síria, onde a Turquia quer instalar parte dos 3,6 milhões de refugiados sírios hospedados em seu território. Porém, Ancara garante que será uma medida voluntária. "Nunca iremos recorrer a meios que forcem os refugiados a ir a algum lugar contra a sua vontade ou violando a sua dignidade", afirmou o porta- voz da presidência turca, Ibrahim Kalin

Violações do cessar-fogo

Ambos os lados se acusam de violação do cessar-fogo. Na sexta-feira (18), forças curdas responsabilizaram a Turquia por bombardeios em áreas de civis no nordeste da Síria e na cidade fronteiriça de Rais al Ain. As acusações foram negadas pelo Exército turco, que denunciou uma tentativa curda de inviabilizar o acordo concluído entre Ancara e Washington.

A Turquia permanece engajada na trégua, mas prometeu retomar a ofensiva caso o acordo não seja mantido pelos adversários. A Turquia pediu aos Estados Unidos que usem sua "influência" com as forças curdas para que se retirem "sem incidentes", afirmou o porta-voz turco, Ibrahim Kalin, acrescentando que seu país não pretende ocupar esta região de fronteira.

No sábado (19), o presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, endureceu a ameaça de que a Turquia retomaria sua ofensiva e que "esmagaria as cabeças dos terroristas" se os combatentes do YPG não deixassem o território.

A ofensiva turca provocou condenações internacionais devido ao papel crucial desempenhado pelo YPG na luta contra os jihadistas do grupo Estado Islâmico (EI). Cerca de 12.000 combatentes do EI, dos quais entre 2.500 e 3.000 são estrangeiros, estão em prisões sob controle do YPG, de acordo com estimativas de fontes curdas.

Ancara acusou as forças curdas de usarem esses prisioneiros como meio de chantagem para obter apoio do Ocidente e de libertar dezenas deles nos últimos dias para aumentar a pressão sobre a Turquia.

Segundo o porta-voz turco, 196 membros do EI "libertados" pelo YPG "foram capturados" na sexta-feira (18) pelo Exército turco e pelas milícias sírias que o apoiam no nordeste da Síria.

Esforços diplomáticos para conter a crise

Na terça-feira, Erdogan viaja para a Rússia, onde vai se encontrar com Vladimir Putin, aliado do regime do presidente sírio Bashar al Assad e fundamental para evitar possíveis confrontos entre forças turcas e sírias.

Segundo o chefe da diplomacia turca, Mevlut Cavusoglu, os dois chefes de Estado discutirão em Sochi a retirada de combatentes curdos do YPG das cidades sírias de Manbij e Kobane.

Na sexta-feira, presidente francês, Emmanuel Macron, anunciou uma iniciativa conjunta com a chanceler alemã, Angela Merkel, e o primeiro ministro britânico, Boris Johnson. Eles se reunirão nas próximas semanas com o presidente turco para discutir os conflitos na Síria.

Tropas americanas deixam base na Síria

As forças americanas deixaram nesse domingo (20) sua maior base no norte da Síria. A movimentação faz parte da retirada de cerca de mil soldados da área, anunciada por Washington.

Escoltados por helicópteros, mais de 70 veículos blindados exibindo uma bandeira dos Estados Unidos e carregando equipamentos militares atravessaram a estrada internacional que passa pela cidade de Tal Tamr.

Segundo o Observatório Sírio para os Direitos Humanos (OSDH), o comboio deixou a base de Sarrine, perto da cidade de Kobane, e seguiu para a província de Hassaké, mais a leste.

"Esta é a maior base militar dos EUA no norte e a quarta partida das forças americanas de uma base na Síria", disse o diretor da OSDH, Rami Abdel Rahman.

A partir de agora, todas as bases "no norte da província de Raqa e no nordeste de Aleppo estão vazias de qualquer presença militar americana", completou Abdel Rahman. Os Estados Unidos ainda mantêm posições nas províncias de Deir Ezzor e Hassake.

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