Chefe de gabinete de Trump admite troca de favores com a Ucrânia
A declaração, feita pelo chefe de gabinete interino da Casa Branca, Mick Mulvaney, contradiz o presidente americano, que segue negando qualquer tipo de troca de favores com a Ucrânia, e pode ter reflexos sobre o processo de impeachment movido contra Trump no Congresso dos EUA.
Mulvaney se referia à suspeita de Trump de que um servidor de computadores do Comitê Nacional Democrata (DNC, na sigla em inglês), invadido por hackers russos e que armazenaria e-mails da então candidata democrata Hillary Clinton, estaria na Ucrânia.
A hipótese sugeria que a Ucrânia, e não a Rússia, teria interferido na eleição presidencial americana de três anos atrás. Nunca houve provas sobre a suspeita, que acabou sendo desmentida e classificada de teoria conspiratória.
Segundo Mulvaney, Trump disse a ele que estava preocupado com enviar dinheiro para a Ucrânia devido à corrupção no país do Leste Europeu, mas essa não seria a única razão para congelar o pacote de quase 400 milhões de dólares em ajuda militar ao governo ucraniano.
"Ele [Trump] mencionou para mim, no passado, a corrupção ligada ao servidor do DNC? Absolutamente. Não há dúvida disso", afirmou Mulvaney em entrevista coletiva. "É por isso que retivemos o dinheiro."
"A revisão do que ocorreu em 2016 certamente fez parte de suas preocupações em relação à corrupção naquele país [Ucrânia]. E isso é absolutamente apropriado", acrescentou.
Um jornalista disse então que o que ele acabara de descrever era quid pro quo, expressão em latim para se referir a troca de favores, ou toma lá dá cá. "Fazemos isso o tempo todo na política externa", respondeu o chefe de gabinete interino, argumentando que o congelamento de ajuda à Ucrânia não é ilegal.
Ele mencionou como exemplo a suspensão de repasses americanos a Guatemala, El Salvador e Honduras até que seus governos aceitassem cooperar com a Casa Branca para conter o fluxo migratório rumo à fronteira entre o México e os Estados Unidos.
A diferença é que, no caso desses países, não havia benefício eleitoral para Trump, violação que os democratas consideram ser passível de impeachment.
A investigação que pode culminar no afastamento de Trump focou até agora na possibilidade de o presidente ter imposto outra condição para congelar a ajuda militar aos ucranianos: a abertura de um inquérito contra o ex-vice-presidente americano Joe Biden e seu filho, Hunter Biden.
Trump reconheceu que pressionou o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, para que investigasse o agora pré-candidato do Partido Democrata à presidência dos Estados Unidos, mas negou ter havido troca de favores para que o inquérito fosse aberto.
"O dinheiro que retivemos não teve absolutamente nada a ver com Biden", frisou Mulvaney.
Contudo, a admissão do alto funcionário pode dar aos democratas novos motivos para seguir com o processo de impeachment. Assim como no caso de Biden, a Casa Branca teria pedido ajuda a um terceiro país para obter vantagem nas eleições.
A declaração provocou reação imediata dos democratas no Congresso. "Acho que o reconhecimento de Mulvany significa que as coisas passaram de muito, muito ruins para muito, muito piores", disse o chefe do Comitê de Inteligência da Câmara, Adam Schiff, que comanda o processo de impeachment.
O advogado pessoal de Trump, Jay Sekulow, emitiu um comunicado distanciando a equipe jurídica do presidente das afirmações de Mulvaney. "O conselho jurídico do presidente não esteve envolvido na coletiva de imprensa do chefe de gabinete interino", diz a nota.
Mais tarde, Mulvaney também divulgou um comunicado contradizendo o que dissera antes e alegando que seus comentários foram mal interpretados.
"Deixe-me ser claro, não houve absolutamente qualquer quid pro quo entre a ajuda militar ucraniana e qualquer investigação referente à eleição de 2016", disse. "O presidente nunca me disse para reter qualquer dinheiro até que os ucranianos fizessem alguma coisa relacionada ao servidor."
EK/efe/dpa/ap/rtr
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