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O Brasil na imprensa alemã (16/10)

16/10/2019 16h03

Manchas de óleo nas praias do Nordeste, vazamentos da Lava Jato e preocupação com a política do governo Bolsonaro para a Amazônia estão entre os destaques da semana.Frankfurter Allgemeine Zeitung – De onde vem o óleo nas praias do Brasil? (11/10)

Até agora, há apenas poucos indícios sobre as causas das manchas de óleo. As suspeitas iniciais de que o óleo pudesse ter origem na limpeza ilegal de tanques de petroleiros na costa foram descartadas; já que a quantidade é grande demais. Uma análise da estatal petrolífera Petrobras e da autoridade de meio ambiente brasileira também revelou que o petróleo não tem origem no Brasil.

Segundo a Petrobras, petróleo com essa composição não é produzido nem comercializado no Brasil. "É um fenômeno muito estranho, e não há sinais de que esteja diminuindo", disse o presidente da Petrobras, [Roberto] Castello Branco. "É um desastre muito preocupante." Segundo o jornal Folha de S.Paulo, citando uma análise da Petrobras, o petróleo viria da Venezuela. O governo brasileiro fez insinuações nessa direção, mas o presidente Jair Bolsonaro até agora evitou citar nominalmente o país.

Não está claro como o petróleo chegou ao litoral brasileiro. Existe a desconfiança de que poderia ter ocorrido um acidente ou uma pane durante o transporte da Venezuela para a Ásia, numa transferência do petróleo bruto para outro navio em alto mar. O governo brasileiro não descarta ter ocorrido ato criminoso, isto é, um desastre ambiental deliberadamente provocado. Uma investigação foi aberta. No período em questão, mais de 100 petroleiros passaram pela área. O governo tem que conviver com acusações de ter reagido ao problema com muita hesitação.

Die Zeit – Dúvidas sobre os arautos da moral (11/10)

As notícias que o The Intercept publica paulatinamente pintam uma imagem arrasadora da vida interior da força-tarefa da Lava Jato. Os combatentes anticorrupção aparecem nelas como ativistas zelosos, tão convencidos de sua missão e da culpa de seus réus que deliberadamente violavam as regras. Nos trechos publicados, parece também que os tribunais foram privados de certas informações. As personagens fazem acertos para colocar pressão psicológica sobre delatores, e alguns réus de partidos mais conservadores foram tratados com mais generosidade, aparentemente por razões políticas, do que os esquerdistas.

No geral, houve tantas manobras de bastidores entre juízes e promotores, que parecem ter sido quase impossível chegar-se a sentenças imparciais. Por isso o Judiciário tem agora um problema de credibilidade – e a luta contra a corrupção começa a estagnar.

[Sérgio] Moro ainda é um herói popular para grande parte dos brasileiros. Nas pesquisas, muitos até querem o arauto da moral como presidente. Seus apoiadores o perdoam pelas violações às regras, pois "a corrupção brasileira não pode ser exterminada apenas seguindo rigorosamente todas as regras". A maioria dos fãs de Moro está à direita, por isso são gratos pela aniquilação política do socialista Lula. "Lula é como um dragão político que Moro teve que matar por eles", diz Oliver Stuenkel, cientista político da Fundação Getúlio Vargas em São Paulo.

Süddeutsche Zeitung – Terra do ouro (11/10)

Uma pesquisa recente do Instituto Ibope constatou que 88% dos brasileiros têm orgulho da Amazônia, enquanto 95% acreditam que a floresta tropical precisa ser protegida. Num momento histórico em que o desmatamento aumenta e os incêndios por motivos criminosos devastam grandes áreas, 94% dos entrevistados afirmam que a floresta tropical faz parte da identidade nacional. Além disso, 94% concordam com a afirmação de que a Amazônia tem importância essencial para o clima global. Portanto há uma grande concordância sobre essas questões.

Também 87% acreditam que a Amazônia é importante para o desenvolvimento econômico; mas 96% querem que o presidente intensifique os controles para evitar o desmatamento e pedem que o Congresso assuma a responsabilidade na luta contra o desmatamento ilegal. Mesmo entre os apoiadores de Jair Bolsonaro, há uma clara maioria pedindo uma política de tolerância zero contra esses crimes.

Mas as ações do governo brasileiro estão em total contradição com a opinião pública: governo e sociedade se alienaram um do outro. O presidente tem uma agenda que persegue interesses muito específicos, os das mineradoras e produtores agrícolas.

Acrescente-se a isso uma minoria sólida de seguidores que acreditam firmemente no sistema de valores deste presidente. Bolsonaro tem uma mentalidade autoritária, não quer ouvir todas as vozes do povo, e apenas respeita a opinião de quem pensa como ele. O governo do Brasil só começou a agir na Amazônia para combater as queimadas após pressão internacional e nacional. Mas ao menos o setor de exportação brasileiro se opôs à política ambiental negligente de Bolsonaro. Encurralado, o presidente está agindo agora, mas age sem convicção.

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