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Os curdos, aliados circunstanciais para os EUA

15/10/2019 11h41

Washington, 15 Out 2019 (AFP) - Os combatentes curdos das Forças Democráticas Sírias (FDS) sempre foram parceiros circunstanciais dos Estados Unidos, que tenta salvar sua histórica e muito enfraquecida aliança com a Turquia, segundo autoridades e especialistas americanos.

As forças americanas destacadas no nordeste da Síria receberam ordens para deixar o país, retirando de fato a proteção aos combatentes curdos contra uma ofensiva turca.

Quando perguntado na segunda-feira sobre as reações dos soldados americanos no terreno que expressaram decepção e vergonha por abandonar seus aliados curdos na luta contra o grupo jihadista Estado Islâmico (EI), o secretário do Exército americano Ryan McCarthy respondeu: "precisamos de tempo para explicar aos soldados a complexidade da situação".

O conflito entre os curdos, que querem autonomia, e a Turquia, que os considera terroristas, é antigo, disse em entrevista coletiva.

Quando dois parceiros americanos têm interesses conflitantes, "é preciso reservar um tempo para explicar a diferença entre (as relações com) os soldados e as escolhas que temos que fazer em nível nacional".

McCarthy reconheceu implicitamente o que muitos oficiais americanos haviam dito há muito tempo em particular: entre a Turquia, país membro da Otan que abriga bases estratégicas americanas, e a minoria curda síria, que se beneficiou de suas vitórias militares contra o EI para controlar parte do território sírio, Washington não tem dúvidas.

O presidente americano Donald Trump "decidiu que a Turquia é muito mais importante que os curdos", diz Joshua Landis, especialista em Síria da Universidade de Oklahoma.

"Em última análise, não acho que seja apenas uma decisão de Trump: os Estados Unidos vê a Turquia como muito mais importante para seus interesses", acrescenta.

E o presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, "entendeu que, quando chegasse a hora, os Estados Unidos não declarariam guerra à Turquia pelos curdos".

- Bases americanas -De fato, o secretário de Defesa americano Mark Esper, que atacou na segunda-feira os atos "irresponsáveis" e "hediondos" da Turquia no nordeste da Síria, não foi capaz de fazer outra coisa se não ordenar a retirada dos mil soldados americanos implantados no país.

Ele enfatizou que as relações entre os dois países estavam "contaminadas" e anunciou que pedirá "medidas" a outros aliados da Otan para punir Ancara. Mas, por enquanto, a aliança militar com a Turquia não parece ameaçada.

Segundo o centro de pesquisa American Security Project, os Estados Unidos armazenam 50 bombas nucleares na principal base americana na Turquia, em Incirlik (sul).

Essa base aérea, usada por Washington desde a Guerra Fria e que abriga cerca de 2.500 soldados americanos, tem sido muito útil para as operações contra o EI e serve como ponta de lança para atividades militares dos EUA em toda a região.

O problema, segundo Steven Cook, do Conselho de Relações Exteriores, é que Ancara considera as Unidades de Proteção do Povo (YPG), a principal milícia curda da Síria, como "ligada a um grupo curdo turco" chamado Partido dos Trabalhadores do Curdistão, o PKK (...) que trava uma guerra contra a Turquia desde meados da década de 1980".

"Os turcos ficaram irritados ao ver os americanos aliados às YPG/PKK", acrescentou. "As relações com as YPG estão ligadas às circunstâncias".

De fato, foram os Estados Unidos que sugeriu que as YPG mudassem de nome quando decidiu se juntar aos combatentes curdos contra os jihadistas do EI em 2015, e um vídeo do comandante das forças especiais dos EUA, general Raymond Thomas, contando este episódio, ressurgiu nos últimos dias nas redes sociais.

"Dissemos a eles literalmente: devem mudar sua marca", diz Thomas, questionado sobre esses novos aliados em uma conferência do Aspen Institute em julho de 2017.

"Eles sugeriram FDS e eu achei brilhante que colocassem a palavra democracia. Isso lhes deu alguma credibilidade", acrescentou.

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