Opinião: É irresponsável europeus porem em risco acordo UE-Mercosul
Também a Suíça – que, através da Associação Europeia de Livre-Comércio (Efta, também integrada pela Islândia, Liechtenstein e Noruega) já firmou um tratado com o Mercosul – quer esperar de um a dois anos antes de tentar colocar o acordo em movimento.
Motivos de ceticismo são a apreensão sobre o fogo na Amazônia e a agropecuária latino-americana, a qual, do ponto de vista dos críticos, só é competitiva à custa do meio ambiente. O presidente do Brasil, o populista de direita Jair Bolsonaro, ainda pôs mais lenha na fogueira com sua negação das ameaças à mata tropical.
Contudo não são muito menos populistas os políticos europeus que, após 20 anos de negociações com os sul-americanos, de repente descobrem que lá o meio ambiente e a Amazônia estão sofrendo danos. A preocupação com o meio ambiente da América do Sul ajuda a angariar votos na Europa. E nenhum governo quer agricultores protestando nas ruas.
Mas as críticas miram na direção errada: o acordo com o Mercosul foi negociado com base no Acordo de Proteção do Clima. Os parceiros sul-americanos concordaram em respeitar as normas ambientais e sanitárias europeus, e até mesmo o princípio da prevenção, segundo o qual a importação de produtos da América do Sul será sustada tão logo se anunciem prejuízos em um dos continentes. Trata-se de comprometimentos abrangentes.
Ainda pouco tempo atrás, seria impensável os governos sul-americanos acatarem amplas exigências de sustentabilidade. No entanto a grave crise econômica e a baixa produtividade na região obrigaram-nos a reconsiderar. Os governantes esperam que suas economias comecem a crescer mais rapidamente através da abertura de mercados, maiores investimentos estrangeiros e privatizações.
Por isso, talvez o acordo de livre-comércio com a União Europeia seja o meio mais veloz de impor padrões ambientais mais rigorosos na América do Sul. Por isso, numerosas organizações ambientais e representantes indígenas do Brasil apoiam o pacto que antes encaravam com ceticismo.
O moderno agronegócio brasileiro igualmente espera que em breve os padrões passem a valer para todos os fazendeiros, e que as ovelhas negras sejam colocadas de lado. É irresponsável da nossa parte de nós, europeus, colocar em risco o acordo de forma tão leviana. Isso não vai fazer que nenhuma árvore deixe de ser derrubada no Brasil; não será plantada menos soja transgênica, e sim mais.
Além disso, é apenas uma questão de tempo até os lobbies da indústria e sindicatos sul-americanos também se posicionarem contra o tratado com a Europa: eles são quem mais tem a perder com a abertura dos mercados e o fim das subvenções com que sempre puderam contar.
Agora, além de tudo, eles recebem da política europeia os argumentos de mão beijada: se os europeus fecham seus mercados contra as mercadorias da região, então por que o Mercosul deveria abrir suas fronteiras para a concorrência?
Ao que tudo indica, as intermináveis e complicadas negociações sobre o acordo de livre-comércio foram mera brincadeira de criança, em comparação com o que está por vir.
______________
A Deutsche Welle é a emissora internacional da Alemanha e produz jornalismo independente em 30 idiomas. Siga-nos no Facebook | Twitter | YouTube | App | Instagram | Newsletter
Autor: Alexander Busch
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.