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Turquia, Rússia e Irã buscam evitar o pior na Síria

16/09/2019 18h34

Ancara, 16 Set 2019 (AFP) - Turquia, Rússia e Irã, os principais atores internacionais do conflito na Síria, prometeram nesta segunda-feira (16) evitar a deterioração da situação humanitária no reduto rebelde de Idlib e proteger a população civil.

Essas promessas estão descritas numa declaração conjunta emitida ao final da cúpula na qual o presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, recebeu em Ancara seus homólogos russo, Vladimir Putin, e iraniano, Hassan Rohani.

No texto, os chefes de Estado enfatizaram "a necessidade de reforçar a calma na região com a plena aplicação dos acordos sobre o Idlib", principalmente o firmado há um ano pela Turquia e pela Rússia, que permitiu evitar uma grande ofensiva que parecia iminente das forças do regime apoiadas por Moscou.

Além disso, eles disseram que estavam "alarmados com o risco de uma deterioração da situação humanitária em Idlib devido à escalada contínua" e concordaram em "tomar medidas concretas para reduzir violações".

- Reunião produtiva -Os três presidentes concordaram em "tomar medidas concretas, com base em acordos anteriores, para garantir a proteção da população civil".

Desde 2017, esta é a quinta cúpula entre Erdogan, Putin e Rohani. Enquanto a Turquia apoia a oposição no território sírio, Irã e Rússia são aliados do governo Assad.

"A reunião foi muito produtiva e foi concluída com sucesso", disse Putin, que indicou na abertura a necessidade de continuar "uma luta intransigente contra terroristas na Síria".

Em um momento, no qual a vitória de Assad parece cada vez mais próxima, a prioridade de Ancara é evitar um novo fluxo em massa de refugiados procedentes de Idlib, no noroeste da Síria.

Apesar dos chamados de cessar-fogo, a região, onde vivem três milhões de pessoas, é alvo de uma ofensiva do governo sírio. Em virtude de um acordo firmado no ano passado com a Rússia, a Turquia conta com 12 postos de observação na zona, um deles agora cercado pelas tropas de Damasco.

O objetivo da cúpula é examinar "a evolução dos acontecimentos na Síria, sobretudo em Idlib, mas também ver que passos conjuntos dar no próximo período para cessar o clima de conflito, pôr em marcha as condições necessárias para o retorno voluntário dos refugiados e instaurar uma solução política", declarou a presidência turca em um comunicado.

Idlib continua sendo alvo de bombardeios esporádicos, apesar da instável trégua decretada em 31 de março e após quatro meses de ataques do governo sírio e de seu aliado russo.

Segundo o Observatório Sírio dos Direitos Humanos (OSDH), a ofensiva deixou mais de 960 civis mortos.

"Nesta zona, continua estando presente uma grande quantidade de terroristas [...] e os combatentes continuam disparando contra as posições das forças do governo", declarou o conselheiro do Kremlin, Yuri Ushakov, nesta segunda.

Antes de embarcar para Ancara, Rohani havia antecipado que, embora uma grande parte dos problemas da Síria esteja resolvida, Idlib é uma das principais questões da cúpula.

- Questões em aberto -O presidente iraniano mencionou ainda a situação do leste do Eufrates, onde a Turquia concluiu com os Estados Unidos um acordo para criar uma "zona de segurança" que separe a fronteira turca das zonas sírias controladas pela milícia curda, apoiada por Washington, mas considerada "terrorista" por Erdogan.

Para Ancara, um dos objetivos desta área é poder realocar uma parte dos mais de 3,6 milhões de refugiados sírios instalados na Turquia.

Já a Rússia deseja avançar na criação de um comitê constitucional encarregado da redação de uma Carta Magna para depois da guerra. Putin disse esperar que entrem "agora nas etapas finais" de formar essa comissão.

Em caso de sucesso, será mais uma vitória política para o chefe do Kremlin, somando-se às suas conquistas militares, considera Dareen Khalifa, analista do International Crisis Group.

De qualquer modo, afirma Khalifa, não se deve esperar muito deste encontro a três.

Ainda que consigam chegar a um consenso sobre a composição do comitê constitucional, "há várias questões sem resolver sobre o futuro do processo político, entre elas a capacidade e a vontade do regime de levar adiante algum tipo de reforma política", acrescentou a analista.

A cúpula acontece em um contexto de tensões exacerbadas, após o ataque do fim de semana contra duas instalações petroleiras sauditas. Washington culpa Teerã pelo episódio, aprofundando a tensão bilateral.

"A presença de forças militares americanas em um país-membro das Nações Unidas e independente, como a Síria, põe sua integridade territorial e sua soberania nacional em perigo. As forças americanas deveriam deixar o país imediatamente", declarou Rohani, na abertura da cúpula tripartite.

Erdogan se reunirá com o presidente dos EUA, Donald Trump, em paralelo à Assembleia Geral das Nações Unidas, no final de setembro.

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