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Em economia, histórias são tão importantes quanto números

Craig Torres

16/09/2019 15h28

(Bloomberg) -- Empresas dos Estados Unidos podem estar se convencendo de uma desaceleração.

Essa é uma maneira de interpretar um estudo do Carlyle Group, usando técnicas da economia narrativa: um campo emergente que pode ganhar impulso com a publicação do esperado livro do Prêmio Nobel Robert Shiller sobre o assunto.

Os pesquisadores do Carlyle queriam saber quais histórias as pessoas - neste caso, executivos de empresas - estavam contando aos outros, e talvez a si mesmos, sobre a economia. Por isso, usaram algoritmos para pesquisar centenas de teleconferências sobre resultados, bem como conversas com as 277 empresas do portfólio do Carlyle. Assim, identificaram um aumento acentuado no uso do termo "ciclo tardio" no fim de 2018 e nos primeiros seis meses deste ano.

"Não havia uma realidade objetiva externa que pudéssemos olhar para dizer 'estamos em um ciclo tardio'", disse Jason Thomas, diretor de pesquisa do Carlyle. Mas havia algo impulsionado pelo calendário, mostrando que a expansão da economia americana estava prestes a se tornar a mais longa de todos os tempos. E, no momento justo, "vimos uma desaceleração no gasto de capital".

Parte dessa desaceleração foi provavelmente induzida por tensões relacionadas ao comércio, embora a maior parte do estudo tenha coberto o período anterior à escalada da guerra comercial do presidente Donald Trump com a China em meados deste ano.

Os pesquisadores procuravam algo além dos números, estimulados pela ideia de que as crenças podem moldar o que as pessoas fazem - e as narrativas moldam as crenças.

Na história recente da economia, a teoria das expectativas racionais tratava as pessoas como se elas fossem algum tipo de calculadora, enquanto a economia comportamental tentava se aprofundar na psicologia da tomada de decisões. A economia narrativa vai um passo além - perguntando como redes de mídia social como o Twitter, o megafone favorito de Trump, estão acelerando muito a difusão de histórias e seu impacto na maneira como as pessoas agem.

Para investidores, essas histórias oferecem novos dados. Shiller diz que também é uma área vital para o estudo acadêmico.

"Para prever melhor a atividade econômica, precisamos, entre outras coisas, observar as narrativas", disse em seu discurso presidencial da Associação Americana de Economia, em 2017.

--Com a colaboração de Richard Miller.

Para contatar a editora responsável por esta notícia: Daniela Milanese, dmilanese@bloomberg.net

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