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A dificuldade de defesa frente a ataques com drones

16/09/2019 13h27

Paris, 16 Set 2019 (AFP) - Os danos infligidos pelos rebeldes huthis iemenitas, no último sábado (14), às infraestruturas de petróleo sauditas ilustram a quase impossibilidade de um país, por mais meios que tenha à disposição, de proteger instalações vitais de uma ameaça como a representada pelos drones.

Os graves prejuízos sofridos pela fábrica de Abqaiq e a jazida de Khurais, no leste da Arábia Saudita, foram resultado de um ataque cometido com dez drones, informou o americano Soufan Center, nesta segunda-feira (16).

É possível que também sejam usados mísseis de tipo cruzeiro, acrescentou a instituição, que cita autoridades do governo americano.

São armas à disposição dos huthis xiitas, que contam com o apoio do Irã desde que estes começaram a enfrentar, no Iêmen, as forças de uma coalizão liderada por Riad, há cinco anos. Em diferentes ocasiões, em especial desde a primavera (boreal) de 2019, que essas armas são capazes de burlar os sistemas de defesa sauditas.

Frente a uma ameaça dessa natureza, "é necessário um sistema de defesa superaperfeiçoado, como tem, eu acho, apenas um grupo aeronaval americano (organizado em torno de um dos porta-aviões da Marinha dos EUA)", comentou o ex-chefe de um serviço de Inteligência francês, que pediu para não ser identificado.

"Um ataque coordenado, como o que aconteceu no sábado, não está ao alcance de qualquer um, como tampouco está ao alcance de todo mundo poder se defender de um ataque assim", acrescentou.

No início de julho, os huthis apresentaram, durante uma cerimônia realizada em um lugar secreto, um drone-bombardeiro chamado "Sammad 3", além do míssil de cruzeiro "Al Qods". Contam ainda com o drone armado de explosivos "Qasef 2".

"É o poder nivelador da tecnologia, que permite aos mendigos poderem ameaçar grandes potências", declarou recentemente, indignado, um funcionário de alta patente do Exército francês, que também pediu para não ser identificado.

"Nos vemos derrotados por artefatos de 250 quilos, como nos vimos derrotados por minas em Mali", afirmou.

- Rifles antidrones e drones programáveis -A Arábia Saudita gastou uma fortuna para se dotar de sistemas de defesa terra-ar, como as baterias antimísseis americanas Patriot, radares e uma força aérea ultramoderna.

Em 2018, dedicou mais de 65 bilhões de dólares para armamentos, segundo o Instituto de Pesquisa pela Paz de Estocolmo.

Becca Wasser, analista da Rand Corporation, disse à AFP que, "para o mais essencial, a Arábia Saudita conta com seus sistemas Patriot para interceptar os projéteis huthis, mas os resultados são moderados, posto que este sistema está projetado para destruir mísseis, mais do que drones".

"O emprego de drones indica que os huthis deram com a falha de seus sistemas de defesa", considerou.

As dimensões das instalações petroleiras sauditas, que, em alguns casos, são tão grandes quanto cidades, e sua dispersão por todo reino dificultam uma proteção permanente frente a uma ameaça em constante mudança.

Fabricados com peças de origem iraniana, segundo um informe da ONU publicado em 2018, os drones dos huthis são de dimensões variáveis e podem se deslocar a várias velocidades e altitudes, motivo pelo qual são difíceis de interceptar.

"O problema é que não existe nenhum sistema único para tratar todos os casos, e a ameaça do drone evolui sem cessar", comentou um engenheiro militar francês.

"Hoje em dia, os lugares sensíveis estão protegidos com radares e rifles antidrones, mas, agora, existem drones autônomos, programáveis" e insensíveis às interferências GPS, acrescentou.

"Sua velocidade também aumentará: é preciso detectá-los mais rapidamente e de mais longe".

Em 19 de agosto, a Força Aérea saudita publicou imagens de um de seus caça-bombardeiros F-15 destruindo, em pleno voo, um drone Qasef-2 no Iêmen, e garantiu ter neutralizado cerca de 20 aparelhos no ano anterior.

Segundo vídeos publicados on-line pelos huthis, seu drone de ataque "Sammad 3" tem um raio de ação de 1.500 quilômetros. Isso significa que quase todo território da Arábia Saudita estaria a seu alcance, assim como várias regiões dos Emirados Árabes Unidos, aliado de Riad na guerra no Iêmen.

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